O Poeta
Cyro de Mattos
Tinha ido
comprar remédios para a esposa.
Encontrei com
ele na farmácia.
Deu-me tapinha no
ombro.
- Bom dia poeta, ele
disse.
Senti um friozinho na
barriga.
- De que você me chamou? – perguntei.
- Poeta, não gostou?
- Não é bem assim, você exagerou.
Ele quebrou o silêncio.
- A floresta dos poetas é grande, cabem todos, inclusive o
medíocre cheio de bajuladores, acrescentando: - Você cabe nela, por merecimento.
Retornei.
- Poeta foi
Homero, Dante, Pessoa, Camões, Eliot, Drummond, Pablo
Neruda e Carlos
Drummond de Andrade, todos eles geniais.
Inconformado ele:
- E daí? Você é
dos nossos, para honra e glória da comunidade.
Ponderei.
- Você é generoso.
Perguntou curioso:
- E como é que você
quer que eu diga quando falar de você?
- Inventor de ingenuidades ou leitor curioso de poetas geniais.
Dessa vez, ele não disse nada.
Pagou o remédio
que comprou, saiu com a cara de quem nada
gostou do que eu disse no final.
Paguei o remédio
que comprei, saí da farmácia pensativo, lá adiante monologuei.
- Meu Deus, o
que sou mesmo?
Tinha aquele
mesmo friozinho na barriga.
Cyro de Mattos é escritor e poeta. Premiado no Brasil,
Portugal, Itália e México. Publicado nos Estados Unidos, Dinamarca, Rússia,
Portugal, Espanha, Itália, França e Alemanha. Membro efetivo da Academia de
Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa pela UESC.
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