A mata fechada
Cyro de Mattos
Você diz que na mata
é perigoso de andar,
cada bicho traiçoeiro
vive lá na terra e ar.
Não é assim como diz,
lá não se mata por prazer,
só pra comer ou defender
se mata, mas com ordem.
Bichos pulam nos galhos,
alegres comem os maduros,
no chão adormecido a flor nasce,
o tronco tombado vira árvore.
No seio fresco da mata
sons e cores festejam o dia,
a flor é tecida com o sonho,
o ramo de luz com o verde.
Riacho mina na pedra,
desce, dá volta como cobra,
barco da noite com a lua
no cipoal derrama prata.
Quando vai à mata a índia,
na trilha caminha esperta,
acode nas asas maternais
o bicho que caiu na cilada.
Solta o passarinho no alçapão,
protege perdido o filhote,
para pra admirar o carinho
das araras, uma na outra.
.
Rio não se esconde da chuva,
a terra não dorme amarga,
abelhas operosas zumbem,
de mel fabricam as horas.
Macaco, tamanduá-bandeira,
preguiça, capivara, veado,
pelo dia expelem odores.
estrelas carregam à noite.
Cyro de Mattos é jornalista, cronista, contista, romancista,
poeta e autor de livros para crianças. Membro efetivo da Academia de Letras da
Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Doutor
Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.
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