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segunda-feira, 30 de maio de 2022

A MATA FECHADA - Cyro de Mattos



A mata fechada

Cyro de Mattos


 

Você diz que na mata 

é perigoso de andar,

cada bicho traiçoeiro

vive lá na terra e ar.      

 

 Não é assim como diz,

lá não se mata por prazer, 

só pra comer ou defender

se mata, mas com ordem.

 

Bichos pulam nos galhos, 

                  alegres comem os maduros,                       

no chão adormecido a flor nasce,  

o tronco tombado vira árvore.   

 

No seio fresco da mata

sons e cores festejam o dia,

a flor é tecida com o sonho,

o ramo de luz com o verde.

 

Riacho mina na pedra,

desce, dá volta como cobra,

barco da noite com a lua

no cipoal derrama prata.

 

Quando vai à mata a índia,

na trilha caminha esperta, 

acode nas asas maternais

o bicho que caiu na cilada.  

 

Solta o passarinho no alçapão,

protege perdido o filhote,

para pra admirar o carinho

das araras, uma na outra. 

.

Rio não se esconde da chuva,

a terra não dorme amarga,

abelhas operosas zumbem,

de mel fabricam as horas.     

 

Macaco, tamanduá-bandeira, 

preguiça, capivara, veado,

pelo dia expelem odores. 

estrelas carregam à noite. 

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Cyro de Mattos é jornalista, cronista, contista, romancista, poeta e autor de livros para crianças. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

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