A Prece
Então uma sacerdotisa disse: “Fala-nos da Prece”.
E ele
respondeu dizendo:
“Vós
rezais nas vossas aflições e necessidades; pudésseis também rezar na plenitude
de vossa alegria e nos dias de abundância.
Pois que é
a oração senão a expansão de vosso ser para o éter vivente?
E se
constitui conforto exalar vossas trevas no espaço, maior conforto sentireis
quando exalardes a aurora de vosso coração.
E se não
podeis reter vossas lágrimas quando vossa alma vos chama para orar, ela vos
deveria esporear repetidamente, embora chorando, até que aprendêsseis a orar
com alegria.
Quando rezais,
vos elevais até encontrardes, nas alturas, aqueles que estão orando à mesma
hora, e que, fora da oração, talvez nunca encontrásseis.
Portanto,
que a vossa visita a esse templo invisível não tenha nenhuma outra finalidade
senão o êxtase e a doce comunhão.
Pois se
penetrardes no templo unicamente para pedir, nada recebereis.
E se nele
entrardes para vos curvar, ninguém vos erguerá.
E mesmo se
aí fordes para mendigar favores para outros, não sereis atendidos.
Basta-vos
entrar no templo invisível.
Não vos
posso ensinar a rezar com palavras.
Deus não escuta
vossas palavras, exceto quando Ele próprio as pronuncia através de vossos
lábios.
E não vos
posso ensinar a oração dos mares e das florestas e das montanhas.
Mas vós que
nascestes das montanhas, e das florestas, e dos mares, podeis encontrar suas
preces no vosso coração.
E se
somente escutardes na quietude da noite, ouvi-los-ei dizendo em silêncio:
Deus nosso,
que és nosso Eu alado, é Tua vontade em nós que quer.
É teu
desejo em nós que deseja.
É Teu
impulso em nós que pode transformar nossas noites, que Te pertencem, em dias
que também Te pertencem.
Nada Te
podemos pedir, pois Tu conheces nossas necessidades antes mesmo que nasçam em
nós.
Tu és
nossa necessidade; e dando-nos mais de Ti, Tu nos dás tudo.”
(O PROFETA)
Khalil Gibran Khalil
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Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.
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OS DEUSES DA TERRA OU NA FRONTEIRA DO SUPRANATURAL
Este livro
constitui uma categoria à parte na obra de Gibran. Pois é o único que tem por
heróis deuses – e não homens. Nos outros livros de Gibran, mesmo os heróis dotados
de sublime grandeza fazem parte da humanidade. Até Jesus no livro Jesus, o
Filho do Homem, é apresentado como homem.
Em Os Deuses
da Terra, os três heróis do livro são deuses, que falam num estilo de
apocalíptica majestade. E o livro é, na realidade, um poema épico que parece
desenrolar-se num lugar fora ou além desta Terra.
Começa com
os seguintes versos:
“Quando caiu
a noite da
duodécima grande era
E o
silêncio, a maré da alta da
noite,
engoliu as colinas,
Os três
deuses nascidos da terra,
Os Senhores
Titãs a vida,
Apareceram
sobre as montanhas.
Rios corriam
à volta de seus pés;
A neblina flutuava
sobre seus peitos,
E suas
cabeças elevavam-se majestosamente
Acima do mundo.”
O livro todo
se desenvolve na mesma atmosfera, feita de imagens imponentes e de evocações
sobre-humanas.
Barbara Young
o considera um dos poemas mais belos de toda literatura anglo-saxônica.
São três os
deuses heróis do livro, e cada um deles representa um dos aspectos da
divindade: Força esmagadora e altiva – Providência Compassiva – Amor e Bondade.
E eles
conversam entre si.
Mas de que
conversam os deuses quando conversam? E quando desejam, o que desejam?
Os homens,
mortais, desejam a imortalidade. Mas os deuses, imortais, estão satisfeitos com
sua imortalidade?
E qual é o
papel do amor na vida dos deuses?
As respostas
de Gibran levam-nos para um mundo diferente, fora do espaço e do tempo.
Um livro de
inspiração, de iluminação, que faz ressaltar como a vida e o amor dos homens
são efêmeros e os torna, assim mesmo, infinitamente mais desejados.
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