O Tempo
E um
astrônomo disse: “Mestre, que dizes do tempo?”
E ele
respondeu:
“Gostaríeis
de medir o tempo, o ilimitado e o incomensurável.
Gostaríeis de
ajustar vosso comportamento e mesmo reger o curso de vossa alma de acordo com
as horas e as estações.
Do tempo, gostaríeis de fazer um rio, na
margem do qual vos sentaríeis para observar correr as águas.
Contudo, o
que em vós escapa ao tempo sabe que a vida também escapa ao tempo.
E sabe que
ontem é apenas a recordação de hoje e amanhã, o sonho de hoje.
E aquilo
que canta e medita em vós continua a morar dentro daquele primeiro momento em
que as estrelas foram semeadas no espaço.
Quem,
dentre vós, não sente que seu poder de amar é ilimitado?
E, porém,
quem não sente esse amor, embora ilimitado, circunscrito dentro do seu próprio
ser, e não se movendo de um pensamento amoroso a outro, e de uma ação amorosa a
outra?
E não é o
tempo, exatamente como o amor, indivisível e insondável?
Contudo, se
em vossos pensamentos deveis dividir o tempo em estações, que cada estação
envolva todas as outras estações,
E que
vosso presente abrace o passado com nostalgia e o futuro com ânsia e carinho.”
(O PROFETA)
GIBRAN KHALLIL GIBRAN
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O Jardim do Profeta: Um Livro de Ternura e Nostalgia
Gibran estava
trabalhando neste livro quando a morte chegou.
Nos seus planos, o livro fazia parte de uma trilogia, assim
concebida:
O Profeta: As relações do homem com o homem.
O Jardim do Profeta: As relações do homem com a
Natureza.
A Morte do Profeta: As relações do homem com Deus.
Deste último livro, Gibran deixou somente a ideia do epílogo.
E é de uma amargura profunda: Al-Mustafa volta à cidade de Orfalese, e lá apedrejam-no
na praça pública.
No Jardim do Profeta, pelo contrário, a ternura
abrange até os seres inanimados: “Tu e a pedra não sois senão um só. A única
diferença está no ritmo das pulsações do coração. Teu coração bate um pouco
mais rapidamente.”
O Profeta termina com a partida de Al-Mustafa da
cidade de Orfalese. O Jardim do Profeta abre-se com a chegada de
Al-Mustafa à sua ilha natal, onde reencontra a casa que foi de seu pai e de sua
mãe e aqueles que foram seus companheiros de infância. Dialoga com eles de mil
assuntos da vida. Depois despede-se e se vai... “E seus pés eram rápidos e
silenciosos; e, num momento, como uma folha levada pelo vento, encontrava-se
muito longe deles, e eles viram como uma luz pálida subindo para as alturas.”
Um livro fresco e belo, cheio de conceitos profundos, de
ternura e de nostalgia.
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