À Espera dos Bárbaros
Konstantinos Kaváfis
O que esperamos na
ágora reunidos?
É que os bárbaros
chegam hoje.
Por que tanta apatia
no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros
chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador
se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros
chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois
cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros
chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os
dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros
chegam hoje
e aborrecem arengas, eloquências.
Por que subitamente
esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite,
os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que
será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
(Konstantinos Kaváfis)
(Do livro Poesia Moderna da Grécia – Seleção, tradução direta do grego,
prefácio, textos críticos e notas de José Paulo Paes – Editora Guanabara, Rio
de Janeiro, 1986.)
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