Papo de
Caminhoneiro
Cyro de Mattos
(... os dois
caminhoneiros estão no Restaurante Nego Bom, rodovia 301, em animado papo
regado à cerveja.)
- você sabe quando vai acabar essa corrupção na República
Pinapá do Piripicado? – pergunta o primeiro
- não faço ideia – responde o segundo
- quando morcego doar sangue – responde o primeiro
- boto fé no novo presidente
- o que ele pode fazer com essa praga miserável?
- com o presidente
Louro-Brabo o jogo é outro, corrupção não tem vez
- pode não ser corrupto, mas pra mim não passa de um doido
- o homem é militar, está cercado de ministros militares,
com ele ou vai ou racha, só esperar pra ver
- ver o quê?
- o homem está decidido a botar até tanque com canhão nas
ruas, tropa armada de metralhadora e
granada, mas ninguém vai ouvir falar
mais em corrupção na República Pinapá do
Piripicado, o dinheiro público é do povo,
com o povo, para o povo, fora do povo
não há salvação, Louro-Brabo falou tá falado!
- ando farto desse engodo, meu caro, sai presidente, entra
presidente, com o vírus da corrupção não há vacina que dê jeito, onde está o
bicho-homem tem o fedor da mentira e podridão
- oh! que saudades que eu tenho dos anos que não voltam mais
- que saudades? que anos?
- do presidente Militinho com a sua sabedoria
- o que é que ele dizia?
- à paz, ao progresso, à igualdade de oportunidades, à vida
sem fome para o pobre, ele dizia sim, à corrupção não!
- isso é bom pra se dizer, quero ver fazer acontecer
- não tiro sua razão
*Cyro de Mattos é autor de 80 livros, de diversos gêneros. É
também publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha, Espanha, Dinamarca,
Rússia e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro
da Academia de Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil e Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia.
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