Como Pássaro, Fugi
Paulo Bezerra
Como pássaro, fugi para a montanha,
fugi das ciladas, busquei esconderijos,
esqueci, cobri o rosto, da estranha
força que mantém os nervos rijos.
Atiram flechas, esticam arco e cordas
para tentar, em vão, reter-me o passo.
Rodeia-me, espreita-me a horda
que prepara, em cada trilha, a mim, seu laço.
Mas, como pássaro fugi, esguio e firme
trouxe, nas asas, teu ser e o pus a salvo
para que tudo que disse se confirme
e o teu corpo não seja mais o alvo.
Da blasfêmia, do ódio e do inimigo,
te escondi, junto a mim, em meu recanto.
Tendo você, a salvo, aqui comigo,
pra te curar a dor, secar teu pranto.
(somos, assim, feitos um pro outro)
(O ESTRO QUE ILUMINA O SER)
Paulo Bezerra
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PREFÁCIO
"Conheci
Paulo, advogado, quando da realização do primeiro Concurso para Juiz do
Trabalho realizado pelo TRT de Alagoas, em 1992. Ansioso, esperançoso, nervoso,
como todo candidato. Vinha da Bahia – terra de Carlos Coqueijo Costa, Orlando
Gomes, J.J. Calmon de passos e José Augusto Rodrigues Pinto, trazendo, na
bagagem, ao invés de roupas, livros, em busca de um ideal: ser juiz.
Conheci Paulo, juiz, já em 1993. Vitorioso, realizado, feliz, pois como ele
mesmo diria mais tarde, chegou a esta terra 'trazendo uma mala de esperança, de
alegria e de luta'.
De luta, porque estressado de uma maratona de 10 horas de estudos, durante dois
anos inteiros.
De alegria, porque finalmente, o filho de um caminhoneiro e de uma nordestina
Severina, anualmente buchuda e doce por toda a vida, era Juiz. Esse nordestino
também tão Severino.
De esperança, porque todos os que se lançam em busca de algo e conseguem, se
enchem de esperança para novos rumos.
Conheci Paulo, poeta, em 1994, quando, ao receber o título de cidadão
palmarino, deixou transparecer em seu discurso, inserido ao final deste
livro, o estro que lhe ia n’alma.
Não é de admirar que um filho da terra de Castro Alves, Dorival Caymmi, Jorge
Amado, Caetano Veloso e Dias Gomes, tenha percebido a poesia no ar, à sua
volta, e dela sorvido.
Um
advogado, forma-se. Um juiz, instrui-se.
Mas um poeta, nasce. Porque o poeta já trás no sangue, nos gens, a
sensibilidade, a poesia.
O poeta já nasce com olhos de poeta, com ouvidos de poeta, com alma de poeta.
Paulo, poeta, certamente, herdou do seu pai, caminhoneiro, a beleza absorvida
por este, nas muitas horas de solidão, quando vagava pelas paisagens das
estradas.
Paulo, poeta certamente herdou de sua mãe, doce por toda a vida, os cantos e
encantos das muitas horas de suave colóquio, dela com o ser que lhe crescia no
ventre.
Não
me cabem méritos nem reconhecimento público, para ser escolhido para prefaciar
esta obra, a não ser o respeito e a admiração por esta mesma obra.
É bom saber que, em tempos em que os homens andam cada vez mais esquecidos dos
sentimentos, revela-se um novo poeta.
É bom saber que, da mesma pena de onde brotam sentenças de direito trabalhista,
brotam também poesias. Porque isto dá ao poeta a qualidade da poesia que não é
mero sonho, mas traz a marca da experiência de vida.
Dá ao juiz a qualidade de decidir, sem esquecer os valores mais sutis do
sentimento, as questões mais humanas do ser humano. E dá ao leitor a
oportunidade de ótimos momentos de reflexão, de devaneios, de divagação, enfim,
da melhor poesia".
José Antônio Esteves
Nunes
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