Ascensão do Senhor | Domingo, 16 de maio de 2021
Anúncio do Evangelho (Mc 16,15-20)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze
discípulos, e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho
a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será
condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes:
expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em
serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; quando
impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.
Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi
levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus.
Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O
Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a
acompanhavam.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger
Araújo:
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Ascensão: quando céus e terra se
tocam
Imagem: Fernando Alves
“...o Senhor foi levado ao céu, e sentou-se à direita de
Deus” (Mc 16,19)
O Mistério que estamos festejando neste domingo é o mesmo que celebramos cada dia deste tempo de Páscoa ou que celebraremos em Pentecostes: a certeza de que nosso Deus é um Deus Vivo e um Deus de Vida, que não permite que a morte tenha a última palavra e que se empenha para que nós sejamos, junto a Ele, doadores de vida.
Já se passaram 40 dias desde que celebramos a Páscoa, o
acontecimento inspirador e alegre da Ressurreição de Jesus. Talvez seja um bom
momento para tomarmos o pulso de como temos vivenciado este tempo pascal.
Também a nós, como seguidores(as), a liturgia nos apresentou Jesus Vivo e
Ressuscitado durante quarenta dias: Ele nos falou de paz, de esperança, de
fortaleza, do imenso amor com que nos ama, do sentido de sua morte e de sua
paixão... Conhecendo em profundidade nossos medos e debilidades, nos prometeu
com insistência que sempre permanecerá entre nós através do alento e da força
do seu Espírito, da “Ruah” criativa e transformadora.
Na Ascensão, Jesus não nos abandona, pois realizou uma
comunhão definitiva com a humanidade, garantindo a ela um destino de plenitude.
Ele subiu ao céu para abrir-nos o caminho, mas agora é o Espírito aquele que
nos move e nos conduz ao Pai. Cabe a nós esforçar-nos em fazer o nosso êxodo, sob
a ação do mesmo Espírito e confiantes na fidelidade de Deus.
Depois destes 40 dias de preparação é tempo de nos mover, de
sair, de pôr-nos a caminho. É preciso colocar em prática tudo o que foi
escutado e experimentado. É tempo de “expulsar demônios, de curar enfermos,
de falar linguagens novas...”. Cada um de nós pode dar nome a esses
“demônios” que somos chamados a expulsar, às enfermidades que devemos curar ou
à linguagem de devemos praticar com insistência.
Agora, através do seu Espírito, o Senhor nos coloca em
movimento com um envio apaixonante: que a Boa Notícia, aquela que nós já temos
recebido, chegue ao mundo inteiro.
Ao mistério da Ascensão corresponde ao mistério
da Kénosis (esvaziamento) do Verbo; Ele que se despojou de sua glória
e majestade e se fez homem, agora é elevado aos céus e com Ele toda a
humanidade redimida e divinizada. Em Cristo, a humanidade inteira já se
encontra envolvida por Deus; em Cristo, céus e terra se
encontram.
A Ascensão nos revela que a terra termina no céu, o
tempo na eternidade, o ser humano termina em Deus. Mas o céu, a esperança, o
horizonte, estão já presentes em nosso hoje, dando sentido. O futuro sonhado e
esperado é a alegria do presente. O céu não pode esperar!
Frequentemente, a festa da Ascensão é explicada utilizando a
mentalidade grega que distingue e separa “céu” e “terra”, que vê estas duas
realidades como espaços contrapostos e, de certa forma, separados por um imenso
abismo. Como consequência, neste domingo faríamos memória da grande
“desconexão”: Jesus Ressuscitado ascende ao céu, abandona a terra e a nós, seus
discípulos, sua comunidade; deixa-nos tristes e órfãos.
No entanto, a chave está aqui: “tudo está entrelaçado,
inter-conectado, inter-dependente...”
A cosmologia bíblica não é dualista. Céu e terra não são duas realidades separadas, opostas, desconectadas, senão que existe entre elas uma permanente inter-relação; são realidades inter-conectadas. “Céu” (Deus e seus anjos) e terra estão em permanente relação. E tanto os humanos como os animais, as plantas, os planetas, experimentam sempre o “toque” e a “influência do céu”. Assim se expressam os Salmos, os Profetas, os Sábios... Para o pensamento bíblico há salvação ali onde céus e terra se tocam.
Os primeiros cristãos contemplavam a ressurreição de Jesus
como o início da reconciliação entre o céu e a terra. Jesus “sobe ao céu” para
que se realize sua “conexão” definitiva com a terra; Jesus sobe ao céu para que
o céu venha à terra. Essa foi a oração que Ele ensinou àqueles que o
seguiam: “Venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu”.
O que dizemos da terra, o que a ciência da ecologia nos
mostra cada vez com mais evidência é que tudo está inter-conectado, todas as
manifestações de vida estão inter-relacionadas. Assim, com muito mais razão, é
preciso dizer de uma maneira muito especial nesta celebração da Ascenção: Jesus
sobe para “conectar” tudo. Esta é a “ecologia do Espírito do
Ressuscitado”: o céu na terra e a terra no céu.
Esta é a ecologia integral: a ressurreição transformou
absolutamente tudo, uniu tudo. Uma estupenda beleza nasceu e nós estamos
integrados neste cenário.
Na Bíblia, céu e terra querem exprimir,
espacialmente, a totalidade da Criação de Deus; por isso Deus é
Senhor do céu e da terra.
Tudo, então, chegará à plena reconciliação: o céu terá
baixado à terra e a terra terá sido elevada até o céu. E
então será a plenitude: “Deus será tudo em todas as coisas” (1Cor.
15,28)
A tradição nos lembra que o Espírito Santo é o
mesmo na terra e no céu, que o Amor é o mesmo, na ter-ra e no céu.
Todas os atributos divinos que podemos viver no espaço-tempo são nossa
realidade celeste.
Ao celebrar a Ascenção, sentimos aqui na terra como o céu se
conecta com uma experiência universal, comum a todo ser humano: nosso profundo
desejo de comunhão.
E, assim, muitas outras expressões humanas, sobretudo
através da arte, nos convidam a olhar o céu não como algo etéreo, separado de
nossa realidade, mas como algo que habita em cada um de nós. O “céu” se
encontra naquelas situações e relações que fazem o ser humano apaixonar-se pela
vida. Onde predominam o ódio e o desprezo pela vida, ali se encontra o “inferno”. Quantas
“expressões infernais” destroem o impulso para o encontro neste nosso contexto
social, político, econômico...!
Como vemos, o “céu” nos mobiliza e nos interpela, nos conduz
àqueles lugares, pessoas e situações nas quais experimentamos o profundo desejo
de nos unir com a humanidade; também a humanidade mais frágil e necessitada de
comunhão. E aí, nesse desejo de construir o céu na terra e de encontrar-nos uns
com outros, encontramos o Ressuscitado, falando-nos com paixão, ternura e
amor.
O movimento desencadeado por Aquele que Vive é um movimento
que reúne para ativar a vida, para restaurar vínculos rompidos, para libertar
das ataduras que escravizam...
Jesus “subiu” ao céu porque “desceu” às
profundezas da terra. E assim também nos mostrou o caminho. Não podemos subir
ao céu se não estivermos dispostos a descer com Cristo ao nosso “húmus”, às
nossas sombras, à condição terrena, ao inconsciente, à nossa fraqueza humana.
Nós “subimos” a Deus quando “descemos” à
nossa humanidade. Este é o caminho da liberdade, este é o caminho do
amor e da humildade, da mansidão e da misericórdia; é o caminho de Jesus também
para nós.
A vida cristã não é “subida” para fora da realidade, mas
“descida” para o mais profundo da mesma.
Entramos no movimento da Ascensão quando amamos,
servimos, cuidamos...; nós nos elevamos quando lutamos por uma causa,
investimos a vida num projeto em favor da vida.
Texto bíblico: Mc 16,15-20
Na oração: A festa da Ascensão nos ensina o
caminho através do qual descemos a uma dimensão mais profunda, chegando à
corrente subterrânea por onde flui a vida; aqui experimentamos a unidade de
nosso ser; o impulso para a comunhão, o lugar da transcendência, onde
nossa transformação realmente acontece.
Para nos realizar e desenvolver toda a nossa potencialidade,
busquemos, na oração, cavar mais profundamente, até atingir as raízes
de nosso ser, o núcleo original de nossa personalidade. É no
mais íntimo de nós que rezamos ao Senhor. É no mais profundo de
nossa interioridade que escutamos o Senhor.
Deixemo-nos invadir pela luz e pela vida d’Aquele
que “armou sua tenda entre nós”.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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