Dante
Todas as vezes que me abeiro de Dante, é como se a esfinge
estivesse pronta a devorar-me.
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A Commedia é uma fonte secreta no deserto por onde
vago. Não me peçam água salobra!
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Melancolia do canto 33 do Paraíso. O impronunciável. Um
sonho se desfaz. A neve descongela. E as folhas da Sibila que se perdem. Não é
possível desatar a trama do silêncio, pejado de mistério e ressonância. Feliz
contradição no adjetivo: a poesia, uma derrota vitoriosa.
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Como se deu a vitória, senão desde as potências da
metalinguagem? Poesia que indaga seus limites, o repertório de que pode lançar
mão. Poesia de segundo grau, a novos patamares elevada.
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A cada dia visito a Commedia. Mas não me pronuncio:
como se fosse um bem intransmissível. Herança dos estudos neoplatônicos? Quem
sabe um incompleto parricídio? Uma zona de guerra que apressa ao silêncio.
Consonante? Dissonante?
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Escrevi certa vez: o náufrago lugar do não-lugar. Do Inferno e Purgatório, a densa geografia. A que se opõe o frágil Paraíso, em busca da moldura luminosa.
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O silêncio inegociável do Paraíso. Mas de outra espécie, no Inferno e Purgatório. Aliado da luz e cúmplice da sombra: o silêncio tem fome de silêncio.
No Paraíso, o rosto possível de Deus: totum sed non
totaliter. Se a Torá projeta o rosto no futuro, o Alcorão amplia
o meta-ôntico. Um rosto que jamais se desvela: Or fu sì fatta la sembianza
vostra?
Humanitas, 10/03/2021
https://www.academia.org.br/artigos/dante
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Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila , foi recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito Presidente da ABL para o exercício de 2018.
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