Uma Sevilhana pela Espanha
No sol de mar do céu de Cádiz,
mediterrâneo e classicista,
que dá às coisas mais terrosas
carne de estátua ou peixe, vítrea,
ela seguia carne
do campo de Sevilha:
carne de terra adentro,
carnal, jamais marisca
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Durante essas ruas paris
de Barcelona, tão avenida,
entre uma gente meio Londres
urbanizada em mansas filas,
chegava a desafio
seu caminhar Sevilha:
que é levando a cabeça
em flor que fosse espiga.
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Dentro da vida de Madrid,
onde Castela, monja e bispa,
alguma vez deixa-se rir,
deixa-se ser Andaluzia,
logo se descobria
seu ter-se, de Sevilha:
como, se o riso é claro,
há mais riso em quem ria.
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através túneis de museus,
museus-mosteiros que amortiçam
a luz já velha, castelhana,
sobre obras mortas de fadiga,
tudo ela convertia
no museu de Sevilha:
museu entre jardins
e caules de água viva.
(Serial, 1959-1961)
João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade do Recife, a 6 de
janeiro de 1920 e faleceu no dia 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, aos
79 anos. Eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 15 de agosto de
1968, tomou posse em 6 de maio de 1969. Foi recebido por José Américo.
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