Os católicos costumam argumentar sobre as pessoas que, por
qualquer motivo se afastam da Igreja: "vamos à Igreja, não pelas pessoas, pelos
movimentos, pelas pastorais, pelo padre, mas por Jesus Cristo".
Eu costumo retrucar: "claro que vou à Igreja por Jesus Cristo, mas, como me alegra contemplar o rosto humano de Jesus Cristo, na pessoa do Padre"!
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Eu costumo retrucar: "claro que vou à Igreja por Jesus Cristo, mas, como me alegra contemplar o rosto humano de Jesus Cristo, na pessoa do Padre"!
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Meu primeiro
contato com o Padre José foi através da Internet. Ele apareceu pedindo
registro no nosso site e foi aprovado. Ao ver sua foto do perfil percebi que
aquele rosto alegre e sereno não me era estranho, afirmei comigo mesma, eu
conheço este padre... Mas de onde?! Pouco depois o vi na foto de capa da minha
página no Facebook, comigo e várias outras pessoas do clero e confrades meus. Fomos
fotografados no dia da posse do nosso bispo diocesano Dom Ceslau Stanula, na
Academia Grapiúna de Letras (AGRAL).
Ficamos na
amizade virtual por algum tempo. Um dia ele me convidou para visitar o
Santuário da Piedade em dia de Romaria e prometi que iria, porém sem vontade
alguma de subir a colina já que muitos aqui em baixo diziam que no bairro imperava a violência, que só doido lá iria.
Continuei de longe, acessando o blog da paróquia e me encantando cada vez mais
com a simplicidade daquele Missionário Redentorista de sobrenome estrambótico
cheio de consoantes, até que decidi enfrentar a ‘bandidagem’. Foi um final de
tarde profícuo e delicioso que tive, pois não apareceu bandido algum para me
atacar e naquela maravilhosa nave reinava a paz. Não fui reconhecida, não me
apresentei, já que sou tabaroa, mas fui
tratada com tanta delicadeza pelo padre e pelos paroquianos, que me apaixonei
por tudo aquilo. Um dia ele me cobrou uma visita à Piedade e eu disse-lhe que
já estivera lá. Pronto, virei freguesa.
Sempre tratando
a todos igualmente, o pároco do Santuário da Piedade, padre José nunca mudava de humor. Nem mesmo quando doente
deixou de ser legal e alegre. Eu percebia que ele não estava bem, não por mudanças
de comportamento, mas pelo meu sexto sentido muito aguçado que percebia certa inquietação
escondida naquele olhar azul.
Em dois ‘Caruru da Piedade’ que participei, ele era um dos últimos a se servir, pegava os
pratos para nós, fazia-nos companhia à mesa, parecia um menino. E é de fato um
menino vivaz e ao mesmo tempo de uma quietude que só existe mesmo na alma
criança.
Na Paróquia
Santuário da Piedade rezei as Mil Ave-Marias, participei das carreatas que
antecedem a novena da Padroeira, visitei
as comunidades, me encantei com as
crianças coroinhas, tão organizadas e fervorosas, aprendi a rezar a Novena Perpétua
e recebi a bênção da Saúde. Ao final da cada peregrinação que acontece sempre
no dia 15 de cada mês rezei aos pés de N.S. da Piedade no Momento Mariano e fui
aspergida com água benta. Quando da visita do Senhor Bom Jesus da Lapa estive
com o povo louvando e rendendo graças. Nos folguedos juninos festejamos o
‘forró da Piedade’. O padre José e seu colega, Pe. Cristóvão Dworak ficaram
engraçados vestidos de caipiras.
Também chorei
com o povo do Maria Pinheiro a morte de alguns membros das comunidades.
A Igreja esteve
sempre tão limpa que, se fosse preciso podíamos sentar no chão. No Natal o
presépio chamava a atenção, pela simplicidade e bom gosto com que o pessoal o ornamentava
orientado pelo pároco. Em todos os momentos fortes a Igreja Santuário primou
pelo bom gosto e aconchego.
Em 2013, durante
o Retiro Espiritual da Irmandade, o Pe. José nos falou da entrega do Ícone de
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro aos Redentoristas pelo Papa Pio IX, enriquecendo a história com inúmeras fotos. Educador, com muito cuidado
para não ferir sensibilidades chamava a atenção dos participantes para
conter-se às refeições, ao servir seu prato, e também solicitou de todos, o cuidado
com o arvoredo e as flores, para deixarmos
tudo intocado.
Das suas
viagens coleciona camisetas com a imagem da Virgem do Perpétuo
Socorro, cada uma diferente da outra. Interessei-me por uma bege - achava que
era a ‘minha cara’. Quis comprá-la, não estava à venda. Negou-me cortesmente. Tenho
quatro outras camisetas, duas das quais levei de graça. Ao saber que mudaria
para Salvador, imaginei: quem sabe, agora, aquela camiseta bege... Pelo Facebook perguntei-lhe se a coleção
ficaria ou iria com ele... Resposta: já
foram.........
Esmerado na
missão em Itabuna mereceu o título de Cidadão Itabunense da Câmara Municipal, criou o CEMI – Centro de Espiritualidade
Mariana de Itabuna, incentivou o “Arte
na Periferia” – Concurso de criatividade em várias modalidades, premiando os
participantes. Sempre tratou com
educação, carinho e respeito, o povo daquelas comunidades, objeto do seu
desvelo. Ele conhecia de perto cada pessoa da paróquia; era capaz de citar cada
paroquiano pelo nome.
Afligiu-se com
os problemas de cada um, vibrou com as vitórias de muitos, contribuiu com
afinco pelo crescimento espiritual de todos. Nas comunidades ninguém se
destacava por estar bem ou mal vestido, pois todos usavam uma camiseta da
paróquia (quem não podia pagar levava de graça, claro). Esse cidadão do
infinito nas horas vagas cultivava uma horta aos pés da imagem do Cristo Redentor que
fez questão de colocá-la de costas para a cidade – quando lhe falei que
estranhava a estátua não estar do alto abraçando a cidade de Itabuna
respondeu-me que a imagem abraçaria o
povo amado da colina. Depois de tudo acabado tive a grata surpresa de constatar
quão feliz foi
a sua decisão, pois à frente, à direita e à esquerda do Cristo Redentor no
Monte Calvário estava o povo da paróquia e ao fundo o mais belo pedaço de céu
de Itabuna com suas mais belas nuvens, suas luzes, seus prédios majestosos, -
um encanto! Essa imagem ficou tão impregnada na minha vida que em qualquer
lugar que eu esteja, vendo um céu azul coalhado de nuvens, me vem à lembrança aquele
lugar.
O Santuário
esteve lotado, no dia 14 de janeiro de 2015. Muitos dos seus colegas de
sacerdócio, diáconos permanentes, irmãs consagradas, movimentos, pastorais,
grupos, e o povo de Deus da Diocese estiveram representados na concelebração de
envio do Padre José, presidida pelo Bispo Diocesano de Itabuna Dom Ceslau
Stanula. No final, muitas homenagens, com votos de sucesso, presentes, e
manifestações de saudades, sem chororô, sem ninguém contra sua partida, porque o Padre José soube
muito bem transmitir a mensagem de missionário sem apegos. Partiu levando tão
somente o que trouxe: um coração voltado para os menos favorecidos e muita,
muita paz!
E o pessoal da
Diocese de Itabuna, sente aquela doce saudade. E a Paróquia Santuário da
Piedade, depois da sua passagem por aqui ficou mais rica e bem mais feliz! Que
as nossas luzes interiores e o estímulo desse Missionário nas nossas vidas nos
impulsionem a seguir com um serviço
acolhedor, apesar dos conflitos e medos deste mundo inquieto, em desarmonia!
Eglê S Machado
Academia Grapiúna de Letras-AGRAL
Itabuna (BA), 23/02/2015
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