Segundo renomado historiador protestante, portanto
insuspeito, a Santíssima Virgem sempre esteve no centro da vida medieval, sendo
a alma da Cristandade
Plinio Maria Solimeo
Durante séculos se criou uma legenda negra a respeito da
Idade Média, tachando-a de uma época obscurantista e primitiva. Isso se deveu
sobretudo ao ódio de muitos ao papel exercido pela religião nesse tempo, assim
descrito por Leão XIII em sua famosa encíclica Immortale Dei, de 1885:
“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os
Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina
penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias
e todas as relações da sociedade civil. Então, a Religião instituída por Jesus
Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda
parte era florescente, graças aos favores dos Príncipes e à proteção legítima
dos Magistrados. […] Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores
a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em
inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou
obscurecer”.
Isso
explica o interesse que os monumentos da Idade Média despertam até hoje, pelo
número incontável de turistas que vão de todo o mundo à Europa, principalmente
à França, para vê-los e admirá-los.
Grande
observador da realidade histórica, Adams se encantou com a Idade Média,
desiludido como estava com a vida pública do seu tempo. Depois de tentar a
carreira política, “ficou enojado com os políticos demagogos, e com uma
sociedade na qual todos se haviam tornados ‘servos do poder’. Escreveu que os
americanos ‘não tinham tempo para pensar; só viam, e não conseguiam ver nada
além do dia de trabalho; dizia que a atitude deles em relação ao universo
exterior era como a dos peixes de profundidade” (Encyclopedia Brittanica),
que não se importam a não ser com o que passa ao seu redor.
O
jornalista Carmelo López-Arias, em artigo em Cari Filii, afirma que “o
pensador e historiador protestante” descobriu a Idade Média através do
papel que nela teve a Santíssima Virgem. Para López-Arias, em suas múltiplas
viagens à Europa ele soube “captar a onipresença da Santíssima Virgem em
todas as formas da cultura tradicional europeia; e, com uma sensibilidade
especial, compreendeu que essa omnipresença era a própria alma da Cristandade,
e respondia a uma psicologia humana e razoável”.
Ainda
segundo López Arias, Adams assim explica a relação do homem medieval com a
Santíssima Virgem: “‘Seu vínculo com Maria respondia a um instinto de
sobrevivência. Sabiam que estavam em perigo. Se havia uma vida futura, Maria
era a única esperança’. Ante a lei divina, ‘essencialmente eterna, infinita,
imutável’, que não permitia ‘debilidade nem erro’, os homens ‘se viam forçados
a ir de esquina em esquina seguindo uma lógica implacável, até cair desvalidos
aos pés de Maria […], felizes de encontrar proteção e esperança em um ser que
podia entender a linguagem que falavam, e as escusas que podiam oferecer’”.
A fim de
superar esse trauma, Adams começou a viajar por todo o mundo. “Buscando um
ponto no qual focalizar sua vida e seus estudos, encontrou-se com a Cristandade
medieval. […] ‘Para apagar sua melancolia e sobrelevar a aceleração dos
princípios do século XX, buscou a sabedoria e a beleza do século XII’. A
caminho de Chartres, descobriu que quase todas as grandes igrejas dos séculos
XII e XIII pertenciam a Maria’”, e que sua presença era insubstituível para o
homem medieval.
Crítico do mundo moderno, Henry Adams visitou a tão bafejada
Exposição Universal de Paris de 1900. Comenta López-Arias: “Ali, nos
pavilhões industriais nos quais se expunham as grandes máquinas a vapor e seus
gigantescos dínamos, descobriu a idolatria da força mecânica que anunciava seu
domínio na centúria nascente. E ocorreu-lhe uma comparação que faria fortuna:
‘No Louvre e em Chartres […] se encontra a força mais alta jamais conhecida
pelo homem [Maria Santíssima], criadora das quartas quintas partes da melhor
arte, capaz de exercer uma atração sobre a alma humana maior do que todas as
máquinas a vapor e que todos os dínamos concebíveis. […] Todo o vapor do mundo
é incapaz de construir Chartres, mas a Virgem o pôde. […] Símbolo ou energia, a
Virgem atuou como a maior força que o mundo ocidental jamais experimentou, e
atraiu a si as atividades dos homens com mais força que qualquer outro poder
natural ou sobrenatural jamais pôde exercer’”. Adams faz esta contundente afirmação
no capítulo O dínamo da Virgem, em sua mais famosa obra de caráter
autobiográfico, A educação de Henry Adams, escrito em terceira pessoa em
1907.
López-Arias
comenta: Esses “São parágrafos de Adams que recolhe John Senior em ‘A
restauração da cultura cristã’ [capa ao lado], e Adams explica que isso é
verdade não somente para as grandes catedrais, mas para ‘a cultura cristã
absolutamente em todo lugar, e o será sempre, sobre toda a superfície da Terra.
E Maria é sua causa, sua consequência e sua medida’”. Pergunta Senior: “Cada
uma de nossas roupas, cada uma de nossas diversões, cada uma de nossas
conversas, de nossas empresas ou de nossas experiências nos laboratórios, cada
um de nossos escritos, Lhe estão dedicados?” E conclui: “A
restauração da Cristandade está ligada ao número de corações que estão
consagrados ao Imaculado Coração de Maria’”.
Concluindo:
Apesar de toda delicadeza de Henry Adams em descrever o amor do medieval à
Virgem, não se nota no que ele diz de um amor especial por Ela. Por isso,
apesar de tudo que escreveu sobre Ela, ele nunca se fez católico. Quando Adams
morreu, em 1918, sua sobrinha encontrou em uma gaveta um poema intitulado Oração
à Virgem de Chartres. Almejamos que a Virgem Mãe nossa tenha obtido de seu
divino Filho compaixão para sua alma, tão apreciável em tantos lados.
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Fontes:
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