13 de Fevereiro de 2019
Acabou acontecendo. Sendo o Brasil um Estado que se declara
laico, está agora envolvo num turbilhão internacional de fundo religioso que
poderá custar sua soberania sobre a Amazônia.
E quem brande a ameaça não é o poderio militar da Rússia ou
da China, mas a força institucional de um Estado com 0,44 km² de território e
uma população estimada em 1.000 habitantes.
Tempo houve em que o Brasil não tinha nada a temer do
Vaticano. Mas agora sopram por lá ventos da mais bem articulada e virulenta
esquerda do planeta, a qual possui a arma mais mortífera até hoje descoberta: a
capacidade de mover as consciências.
E o fato está consumado. Sob o poder de Francisco,
realizar-se-á em Roma, entre os dias 6 e 29 de outubro próximo, o Sínodo sobre
a Amazônia.
Que orientação terá esse Sínodo? A depender do quadro de
seus organizadores, a predominância será a da Teologia da Libertação. E a
partir dela, uma orquestração internacional envolvendo o Vaticano, a ONU, a
União Europeia, as ONGs do mundo inteiro, que clamariam pela
internacionalização da Amazônia.
Seria o lançamento de uma nova catequese, onde catequizar
seria secundário e até supérfluo, porque, segundo tal catequese, os índios já
vivem as bem-aventuranças: eles não conhecem a propriedade privada, o lucro, a
competição. Então, para quê Pátria, se o verdadeiro seria a apologia do
coletivismo tribal?
Estaríamos, portanto, diante de uma “Igreja-Nova” de
inspiração comunista, onde a propriedade é a heresia e o proprietário o herege,
e a vida selvagem a plena realização do ideal humano.
Quem quiser conhecer os desígnios dessa teologia em matéria
indigenista, leia o livro Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário
para o século XXI. Escrito em 1977 pelo renomado presidente do Conselho
Nacional da TFP, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, o livro previa esse ataque
da nova missiologia e enunciava as teses que, ainda com mais radicalidade,
serão certamente defendidas no Sínodo de outubro de 2019 e abrirão caminho para
o pedido de internacionalização da Amazônia.
Em sua época, esse livro foi um sucesso de venda. Ele teve
nove edições, num total de 82 mil exemplares. Caravanas de propagandistas da
TFP levaram-no a 2.963 cidades, em todos os quadrantes do Brasil.
Reeditado em 2008, ele foi acrescido de uma segunda parte,
na qual os jornalistas Nelson Ramos Barretto e Paulo Henrique Chaves contam o
que viram na reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima, e o que pesquisaram em
Mato Grosso e em Santa Catarina. Eles transcrevem reveladoras entrevistas com
várias personalidades e confirmam em tudo as teses sustentadas pelo Prof.
Plinio Corrêa de Oliveira em 1977.
Expressiva repercussão do alcance desse livro veio do
Ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal, que em sua
declaração de voto durante o julgamento da polêmica demarcação das terras
indígenas da reserva Raposa-Serra do Sol, afirmou:
“Também vale registrar que o professor Plinio Corrêa de
Oliveira, autor de ‘Tribalismo Indígena — Ideal Comuno-Missionário para o
Brasil no Século XXI’, diante dos trabalhos de elaboração da Carta de 1988,
advertiu: ‘O Projeto de Constituição, a adotar-se em uma concepção tão
hipertrofiada dos direitos dos índios, abre caminho a que se venha a reconhecer
aos vários agrupamentos indígenas uma como que soberania diminutae rationis.
Uma autodeterminação, segundo a expressão consagrada (Projeto de Constituição
angustia o País, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1987, p. 182; e p. 119 da obra
citada). Proféticas palavras tendo em conta, até mesmo, o fato de o Brasil, em
setembro de 2007, haver concorrido, no âmbito da Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas, para a aprovação da Declaração Universal dos
Direitos dos Indígenas” (cfr. Catolicismo n° 700, abril de 2009).
Prevenido o Brasil foi. Resta agora esperar que a diplomacia
brasileira saiba, com todo o respeito devido às autoridades eclesiásticas, mas
também com toda a firmeza necessária, fazer conhecer ao Vaticano e aos padres
sinodais que o Brasil não aceitará pressões de governos, nem de nenhum
organismo internacional, no sentido de fazer ingerências descabidas no governo
de seu próprio território.
Segundo a doutrina católica, não está na missão da Igreja
defender — conforme o fez D. Erwin Krütler (cfr. “O Estado de S. Paulo,
10-2-19), bispo emérito do Xingu, no Pará — o bioma ameaçado, nem definir se é
supérfluo ou não fiscalizar as ONGs, ou saber se o governo mudou ou não mudou a
demarcação das áreas indígenas. Também não cabe aos bispos fiscalizar se o governo
cumpre ou não cumpre a Constituição.
O que sobretudo o Estado brasileiro não poderá de nenhum
modo aceitar é a renúncia à sua soberania sobre a Amazônia. Ele terá todo o
direito e todo o dever de garantir a integridade territorial brasileira.
Para terminar, uma reflexão que se impõe.
Do atual governo podemos esperar uma política eficaz de
defesa da integridade do nosso território. O que seria impensável se ainda
estivesse no poder o Partido dos Trabalhadores, que coadjuvaria o Sínodo sobre
Amazônia no desmantelamento do Brasil…