O depoimento do comediante à PF confirma que certas
demonstrações de covardia requerem mais coragem que atos de bravura em combate (*)
Do R7
O ator Gregório Duvivier
Thiago Duran/AgNews
Capturadas pela Polícia Federal, as conversas da dupla no
aplicativo Telegram revelam que Gregorio Duvivier e Walter Delgatti Neto
nasceram um para o outro. “Feliz de conhecer o hacker”, festejou o humorista na
manhã de 14 de julho, ao receber o primeiro recado do chefe da quadrilha que
estuprara o sigilo de mensagens atribuídas a Sergio Moro e procuradores
federais engajados na Operação Lava Jato. Em seguida, cumprimentou Delgatti
pelo crime praticado em parceria com Glenn Greenwald, receptador do material
roubado. “Você vai mudar o destino do país”, derramou-se Duvivier. Algumas
dezenas de palavras depois, o tom íntimo do diálogo digital lembrava um
reencontro de amigos de infância.
“Tem algo da Globo?, pergunta Duvivier. Animado com o recado
seguinte — “Peguei bastante” —, quer saber os nomes das vítimas. Decepcionado
com a informação de que o único alvo fora William Bonner, o comediante trucida
valores morais, códigos éticos e a língua portuguesa com apenas oito palavras:
“Cara os chefões da Globo vale pegar hein”. A risada eletrônica que encerra a
resposta informa que Delgatti acha a ideia divertida: “Me fala nomes kkkk”. A
conversa é retomada com a Lista de Duvivier. Começa com Carlos Schroder,
diretor-geral da Globo, e Ali Kamel, diretor de jornalismo da rede de televisão
em que o comediante frequentemente se apresenta.
Tão agressivo nos discursos de palanqueiro do PT, tão
atrevido ao invocar o direito de ofender a religiosidade alheia, o Duvivier
beligerante sumiu assim que a Polícia Federal apreendeu o palavrório sórdido.
Entrou em cena o pusilânime pronto para a rendição desonrosa. “Ele entregou
espontaneamente todas as mensagens trocadas com o hacker, com o objetivo de
cooperar com as investigações”, disse o advogado Augusto de Arruda Botelho. Ao
declamar sua versão no depoimento à PF, o humorista confirmou que certas
demonstrações de covardia requerem mais coragem do que atos de bravura em
combate que rendem medalhas e condecorações.
Segundo o advogado, “Gregorio explicou detalhadamente que,
aleatoriamente, mencionou uma série de nomes, em uma conversa informal, sem
qualquer intenção ou interesse de que tais nomes de fato fossem interceptados
ou muito menos investigados”. As “menções aleatórias, fruto de mera
curiosidade”, não incluíram alguma professora de matemática que o perseguia, ou
a namorada com quem dividiu o primeiro beijo, ou o vizinho que lhe confiscava o
sono ouvindo música sertaneja no último volume. Sem saber por que, o depoente
foi logo pensando nos diretores da Globo, no governador Wilson Witzel, no juiz
Marcelo Bretas, responsável pelas ações da Lava Jato no Rio, além de outros
inimigos do tempo presente. É muito cinismo e pouca vergonha.
O que deveria ser um depoimento foi uma piada sussurrada por
um humorista apavorado. Foi também uma prova de que medo de cadeia cura
insolência.
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Augusto Nunes
Estudou na Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (USP) e começou sua carreira como revisor no Diário
dos Associados. Foi repórter em O Estado de S.Paulo e da revista Veja. Dirigiu
jornais e revistas como O Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil (SP), Veja, Época
e Forbes. Apresentou o Roda Viva, da TV Cultura.
Augusto foi quatro vezes vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo e considerado
pela Fundação Getúlio Vargas (FVG) um dos mais importantes profissionais da
área do país. Envolvido com literatura, um dos livros que organizou e editou
foi o Minha Razão de Viver: Memórias de Um Repórter. Escreveu as biografias de
Tancredo Neves e de Luís Eduardo Magalhães, além de A Esperança Estilhaçada —
Crônica da Crise que Abalou o PT e o Governo Lula
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