Queridos confrades,
confreiras
Reiterando as
atividades do calendário alitano, eis uma excelente oportunidade para estamos
reunidos. O lançamento do livro de Cyro de Mattos, poeta e escritor que o
próprio nome dá a direção da estatura da obra.
Peço, carinhosamente
que, além das vossas presenças, possam convidar seus amigos, e grupos para
estarem também neste evento.
Certa de que teremos
momentos de alegria nesta realização acadêmica e prestando carinho ao
nosso confrade, agradeço.
Atenciosamente
Silmara Oliveira
(73) 9110-9540
(73) 9110-9540
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Lugar de Encanto
Cyro de Mattos
Arte que se manifesta com o pé na bola, numa cidade do
interior da Bahia, durante cerca de cinquenta anos, o futebol amador fez a vida
tomar cores de encantamento. Emergir o ser humano de seus interiores, com
empenho e talento, emoção e arte. Todo festivo, ora com a sensação da vida
inscrita no pódio da glória, ora com angústia e tristeza. Transformou uma
pequena cidade em saga. Despertou paixões,
criou mitos, joias, através de jogadores amadores de ouro e, entre eles, Léo
Briglia, Santinho, Fernando Riela, Lua, Déri e Gajé, os meus preferidos.
A cidade ainda adolescente nos anos 50. De poucas ruas
calçadas, o trem como uma coisa viva partia e chegava, trazia da vizinha cidade
de Ilhéus cargas de peixe, cordas de caju e caranguejo, coco, beiju. Tinha o
circo pequeno com a lona furada. A lua derramava prata no areal deixado pela
enchente do rio Cachoeira, onde a turma da rua de baixo jogava com a da rua de
cima a partida mais empolgante do mundo. Cidade com as tropas carregadas de
sacos de cacau, tocando música com chocalho e guizo pelas ruas de poeira ou
lama.
Comemorava o cinquentenário em 1960, acompanhada de sua
lavra do cacau por toda a extensão da pele, as veias pulsando no apogeu dos
frutos maduros. No velho Campo da
Desportiva, com seu piso irregular, de construção precária para abrigar
superlotado cerca de cinco mil pessoas, o futebol operou o milagre de despojar
o coração de outras necessidades materiais, conduzindo-o para o terreno dos
sonhos. O coração do torcedor na arquibancada ou geral batia diferente quando
sentia que seu time de fé entrava no gramado e, em especial, a sua seleção
amadora de ouro, que ganhou seis vezes consecutivas o campeonato do
intermunicipal, além do torneio Antonio Balbino na Fonte Nova, em Salvador.
Esse futebol amador ensinou que viver valia a pena mesmo
quando o cenário estava armado distante de centros esportivos adiantados. Conseguia dar um show de bola quando se afinava num jogo
coberto de amor e vingança.
Perseguiu, nas tardes de domingo e nas
quartas-feiras, à noite, quando o campo já tinha refletores, o milagre do
branco ser preto, o pobre ser rico, todos juntos numa corrente de irmãos, com o
grito de gol irrompendo das gargantas com a força do vento forte na
rajada.
Pelo título – No Velho Campo da Desportiva – depreende-se
sem esforço que o universo da bola retratado aqui neste livro não vem de
apresentações de grandes clubes nacionais no estádio gigantesco. Com seus
ídolos, vitórias consagradoras, rendas excepcionais. Entra no gramado da leitura através de
memórias relatadas e inventadas, capazes de revelar o cotidiano e envolvente
mundo da bola disseminado no interior brasileiro como uma de suas grandes
paixões populares. De boca a ouvido, no recesso dos lares, barbearia, feira, fazenda de cacau, loja do
comércio, largo dos bairros.
As artimanhas do cartola, as rivalidades dos torcedores, a
vibração em vitórias consagradoras, as cenas engraçadas. Busca fazer um gol
bonito de ver, oferecendo ao torcedor, agora leitor, a vida revestida de
densidade humana, sonho e emoção, sem esquecer a poesia que naqueles idos
esportivos do futebol amador fazia com que a cidade de Itabuna soubesse que
pisava também no chão de uma pátria em chuteiras.
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Cyro de Mattos é escritor e poeta. Primeiro Doutor Honoris
Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro efetivo da Academia de
Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil, Academia de Letras de Ilhéus e Academia
de Letras de Itabuna. Autor premiado no Brasil, Portugal, Itália e México.
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