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sábado, 12 de outubro de 2019

PRÊMIO NOBEL DA PAZ 2019


Abiy Ahmed Ali, primeiro-ministro da Etiópia, ganha Nobel da Paz 2019

Vencedor do 100º Nobel da Paz contribuiu decisivamente para colocar fim ao conflito de 20 anos do seu país com a Eritreia, no leste da África.

Por G1
11/10/2019

Abiy Ahmed Ali em foto de 15 de setembro deste ano — Foto: Michael Tewelde/AFP

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed Ali, ganhou o Nobel da Paz 2019 por sua iniciativa decisiva para resolver o conflito de fronteira com a vizinha Eritreia, no leste da África. O anúncio do 100º Prêmio Nobel da Paz foi feito na manhã desta sexta-feira (11), em Oslo, na Noruega.

Em estreita cooperação com o presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, o premiê de 43 anos rapidamente elaborou os princípios de um acordo para acabar com o longo impasse "sem paz, sem guerra" entre os dois países. O tratado colocou formalmente fim a 20 anos de uma guerra que deixou mais de 80 mil mortos.

"O Comitê Nobel espera que o prêmio da Paz reforce o primeiro-ministro Abiy em seu trabalho a favor da paz e da reconciliação. É um reconhecimento e também um estímulo a seus esforços. Somos conscientes de que resta muito por fazer", afirmou a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen.


Como primeiro-ministro, Abiy Ahmed "procurou promover a reconciliação, a solidariedade e a justiça social". Ele iniciou importantes reformas que "dão a muitos cidadãos a esperança de uma vida melhor e de um futuro melhor".

O Comitê do Nobel também reconhece com esse prêmio todos que trabalham pela paz e reconciliação na Etiópia e nas regiões leste e nordeste da África. O trabalho do presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, foi destacado.

"A paz não é alcançada apenas com as ações de uma única pessoa. Quando o primeiro-ministro Abiy estendeu a mão, o presidente Afwerki aceitou e ajudou a dar forma ao processo de paz entre os dois países", afirmou o comitê.

'Prêmio para a África'

Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed Ali, e o presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, comemoram a reabertura da Embaixada da Eritreia na Etiópia, em Adis Abeba, em 16 de julho de 2018 — Foto: Michael Tewelde / AFP

No telefonema em que foi informado do prêmio, o premiê afirmou ter recebido humildemente a premiação e que ficou emocionado:

"É um prêmio dado à África, dado à Etiópia, e posso imaginar como os outros líderes da África serão incentivados a trabalhar no processo de construção da paz em nosso continente. Estou muito feliz e emocionado com a notícia. Muito obrigado, é um grande reconhecimento", afirmou o laureado.

Após o anúncio, o gabinete de Abiy afirmou que o prêmio é um testemunho "dos ideais de unidade, cooperação e convivência mútua que o primeiro-ministro sempre defende". O governo etíope anunciou que o país está orgulhoso pelo prêmio.

O prêmio significará um impulso para o governante, que enfrenta uma onda crescente de violência entre diferentes grupos em seu país, onde estão previstas eleições legislativas em maio de 2020.

Entenda o conflito entre Etiópia e Eritreia — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Biografia

Abiy nasceu em uma família muito pobre, em Zona Jima, no sul da Etiópia, em 1976. Ele é filho de pai muçulmano Oromo e mãe cristã Amhara. Ele ingressou na política em 2010, como membro da Organização Democrática do Povo de Oromo.

Posteriormente, ele foi eleito membro do parlamento. Nessa época, ocorreram fortes disputas entre católicos e muçulmanos e ele teve a iniciativa de criar o "Fórum Religioso pela Paz", uma solução duradoura para o problema.

Em abril de 2018, ele assumiu o cargo de premiê da Etiópia, a segunda maior população da África, e introduziu reformas liberalizantes, que tiveram forte impacto no país. Ali libertou da prisão milhares de ativistas da oposição, pediu desculpas pela brutalidade do Estado e permitiu que dissidentes exilados voltassem para casa.

Mais importante ainda, ele assinou o acordo de paz com a Eritreia em julho de 2018.

Conflito Etiópia x Eritreia

Soldados etíopes comemoram após tomar o controle da cidade de Zala Anbesa, em maio de 2000 — Foto: Alexander Joe / AFP

A Eritreia declarou independência da Etiópia em 1993. Isaias Afwerki se tornou o presidente (e até hoje o único) da nova nação. Afwerki, que controla o país com mão de ferro, e Meles Zenawi, então premiê etíope, eram primos. A relação ia bem, mas, cinco anos depois, as duas nações entraram em confronto por questões fronteiriças.

De 1998 a 2000, Etiópia e Eritreia travaram uma guerra que deixou mais de 80 mil mortos, principalmente devido a divergências sobre a fronteira. O confronto eclodiu na cidade fronteiriça de Badme (Eritreia).

O confronto foi apelidado pela mídia local de "guerra louca" no Chifre da África. Ele parecia resultar de nada mais do que rivalidade entre familiares - cada lado exigia "respeito" e alegava não estar recebendo.

Além das milhares de vidas perdidas, as duas nações investiram bilhões de dólares em um conflito aparentemente sem importância estratégica para nenhum dos lados, de acordo com a CNN.

Um acordo de paz chegou a ser assinado em 2000, mas não foi colocado em prática. Em 2002, a Etiópia se recusou a aceitar uma proposta de uma comissão independente, liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU), para a demarcação da fronteira entre os dois países e manteve a animosidade.

Em agosto de 2012, Meles morreu e, aparentemente, esse fato contribuiu para a posterior resolução do conflito.

Em 9 de julho de 2018, Abiy Ahmed Ali e Isaias Afwerki assinaram o acordo que restabelecia as relações diplomáticas entre os dois países.

“Uma nova era de paz e amizade começa. Os dois países se abrem para promover uma estreita cooperação, nos setores da cooperação, nos setores da política, da economia, do social, da cultura e da segurança”, dizia o documento.

A partir de então, o comércio, os transportes e as telecomunicações entre as duas nações foram retomadas.

Premiê etíope, Abiy Ahmed (centro), de mãos dadas com o presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, falam ao público na capital da Etiópia — Foto: Mulugeta Ayene/AP

O vencedor do Nobel receberá um prêmio de 9 milhões de coroas suecas (R$ 3,72 milhões). A cerimônia de entrega acontecerá no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do idealizador do prêmio, o industrial e filantropo sueco Alfred Nobel (1833-1896).

O Comitê Nobel registrou neste ano 301 candidaturas, sendo 223 pessoas e 78 organizações. Criada pelo industrial sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite, a premiação foi concedida pela primeira vez em 1901.

Veja os vencedores de 2019

Literatura: Olga Tokarczuk ganhou o prêmio referente ao ano de 2018, quando a academia cancelou a premiação após um escândalo sexual. Já Peter Handke levou o deste ano.

Química: John B. Goodenough, M. Stanley Whittingham e Akira Yoshino foram premiados pelo desenvolvimento de baterias de íons de lítio.

Física: James Peebles, suíços Michel Mayor e Didier Queloz foram premiados por suas contribuições para a compreensão do universo e pela descoberta do primeiro planeta fora do Sistema Solar que orbita uma estrela semelhante ao Sol.

Medicina: William Kaelin, Gregg Semenza e Sir Peter Ratcliffe ganharam o prêmio pelo estudo sobre como as células detectam e se adaptam à disponibilidade de oxigênio.

O ganhador na categoria Economia será conhecido na segunda-feira (14).

Últimos ganhadores do Nobel da Paz

2018: ex-escrava sexual do grupo extremista Estado Islâmico Nadia Murad e o médico Denis Mukwege ganharam o prêmio pela luta contra o uso do estupro como arma de guerra.


Os vencedores do prêmio Nobel da Paz, o médico congolês Denis Mukwege e a yazidi Nadia Murad, ex-escrava de extremistas, posam com suas medalhas de vencedores do Nobel da Paz 2018, em cerimônia em Oslo, na Noruega — Foto: Haakon Mosvold Larsen/NTB Scanpix via AP

2017: A Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican, sua sigla em inglês) foi premiada por chamar a atenção para as consequências catastróficas do uso de armas nucleares e pelos seus esforços inovadores para conseguir a proibição do uso dessas armas.

2016: Juan Manuel Santos, então presidente da Colômbia, conquistou o prêmio pelo esforço de pacificação do país. Naquele ano, o governo conseguiu fechar um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) após uma guerra civil que já durava mais de 50 anos.

Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia, em imagem de arquivo — Foto: AP Photo/Ronald Zak

2015: Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia ganhou o prêmio por sua decisiva contribuição para a construção de uma democracia pluralista no país durante a revolução de 2011.

2014: os vencedores foram o indiano Kailash Satyarthi e a paquistanesa Malala Yousafzay, "pela sua luta contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação". A estudante do Paquistão se tornou a mais jovem ganhadora do prêmio.


2013: Organização para a Proibição das Armas Químicas, entidade que supervisiona destruição do arsenal químico na Síria em guerra.

Malala Yousafza durante visita a Salvador, em imagem de arquivo — Foto: Egi Santana/G1

2012: União Europeia ganhou por ter contribuído para pacificar um continente devastado por duas guerras mundiais.

2011: Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee (Libéria) e Tawakkol Karman (Iêmen) ganharam por sua luta não violenta em favor da segurança das mulheres e seus direitos a participar dos processos de paz.

2010: Chinês Liu Xiaobo (China), dissidente detido, "por seus esforços duradouros e não violentos em favor dos Direitos Humanos na China".

2009: O então presidente americano Barack Obama foi premiado "por seus esforços extraordinários com o objetivo de reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos".

Barack Obama, em imagem de arquivo — Foto: AFP

2008: Martti Ahtisaari (Finlândia) foi premiado por suas numerosas mediações de paz em todo o mundo.

2007: Al Gore (EUA) e o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU ganharam o prêmio por seus esforços para aumentar o conhecimento sobre as mudanças climáticas.

2006: O prêmio foi para Muhammad Yunus (Bangladesh) e seu banco especializado no microcrédito, o Grameen Bank, porque "uma paz duradoura não pode ser obtida sem que uma parte importante da população encontre a maneira de sair da pobreza".



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