Artigo Censurado
Já que a revista Veja não quis publicar o artigo de um dos
mais respeitados jornalistas do país, e culminou na sua saída, eu, #lindamente
ROUBEI o artigo. Sorry, José Roberto Guzzo, ROUBEI sim, você não viu, me
desculpe, mas na minha opinião merece leitura
Um dos grandes amigos do Brasil e dos brasileiros de hoje é
o calendário. Só ele, e mais nenhum outro instrumento à disposição da
República, pode resolver um problema que jamais deveria ter se transformado em
problema, pois sua função é justamente resolver problemas – o Supremo Tribunal
Federal.
O STF deu um cavalo de pau nos seus deveres e, com isso,
conseguiu promover a si próprio à condição de calamidade pública, como essas
que são trazidas por enchentes, vendavais ou terremotos de primeira linha. Aberrações
malignas da natureza, como todo mundo sabe, podem ser resolvidas pela ação do
Corpo de Bombeiros e demais serviços de salvamento. Mas o STF é outro bicho.
Ali a chuva não para de cair, o vento não para de soprar e a terra não para de
tremer – não enquanto os indivíduos que fabricam essas desgraças continuarem em
ação.
Eles são os onze ministros que formam a nossa “corte
suprema”, e não podem ser demitidos nunca de seus cargos, nem que matem, fritem
e comam a própria mãe no plenário. Só há uma maneira da população se livrar
legalmente deles: esperar que completem 75 anos de idade. Aí, em compensação,
não podem ser salvos nem por seus próprios decretos. Têm de ir embora, no ato,
e não podem voltar nunca mais. Glória a Deus.
Demora? Demora, sem dúvida, e muita coisa realmente ruim
pode acontecer enquanto o tempo não passa, mas há duas considerações básicas a
se fazer antes de abandonar a alma ao desespero a cada vez que se reúne a
apavorante “Segunda Turma” do STF – o símbolo, hoje, da maioria de ministros
que transformou o Supremo, possivelmente, no pior tribunal superior em
funcionamento em todo o mundo civilizado e em toda a nossa história.
A primeira consideração é que não se pode eliminar o
STF sem um golpe de Estado, e isso não é uma opção válida dos pontos de vista
político, moral ou prático. A segunda é que o calendário não para. Anda na base
das 24 horas a cada dia e dos 365 dias a cada ano, é verdade, mas não há força
neste mundo capaz de impedir que ele continue a andar. Levará embora para
sempre, um dia, Gilmar Mendes, Antônio Toffoli, Ricardo Lewandovski. Antes
deles, já em novembro do ano que vem e em julho de 2021, irão para casa Celso
Mello e Marco Aurélio – será a maior contribuição que terão dado ao país desde
sua entrada no serviço público, como acontecerá no caso dos colegas citados
acima. E assim, um por um, todos irão embora – os bons, os ruins e os
horríveis.
Faz diferença, é claro. Só os dois que irão para a rua a
curto prazo já ajudam a mudar o equilíbrio aritmético entre o pouco de bom e o
muitíssimo de ruim que existe hoje no tribunal. Como é praticamente impossível
que sejam nomeados dois ministros piores do que eles, o resultado é uma soma no
polo positivo e uma subtração no polo negativo – o que vai acabar influindo na
formação da maioria nas votações em plenário e nas “turmas”.
Com mais algum tempo, em maio de 2023, o Brasil se livra de
Lewandovski. A menos que o presidente da época seja Lula, ou coisa parecida, o
ministro a ser nomeado para seu lugar tende a ser o seu exato contrário – e o
STF, enfim, estará com uma cara bem diferente da que tem hoje. O fato, em suma,
é que o calendário não perdoa. O ministro Gilmar Mendes pode, por exemplo,
proibir que o filho do presidente da República seja investigado criminalmente,
ou que provas ilegais, obtidas através da prática de crime, sejam válidas numa
corte de justiça. Mas não pode obrigar ninguém a fazer aniversário por ele.
Gilmar e os seus colegas podem rasgar a Constituição todos os dias, mas não
podem fugir da velhice.
O Brasil que vem aí à frente, por esse único fato, será um
país melhor. Se você tem menos de 25 ou 30 anos de idade, pode ter certeza de
que vai viver numa sociedade com outro conceito do que é justiça. Não estará
sujeito, como acontece hoje, à ditadura de um STF que inventa leis, censura
órgãos de imprensa e assina despachos em favor de seus próprios membros.
Se tiver mais do que isso, ainda pode pegar um bom
período longe do pesadelo de insegurança, desordem e injustiça que existe hoje.
Só não há jeito, mesmo, para quem já está na sala de espera da vida, aguardando
a chamada para o último voo. Para estes, paciência. (Poderiam contar, no papel,
com o Senado - o único instrumento capaz de encurtar a espera, já que só ele
tem o poder de decretar o impeachment de ministros do STF. Mas isso não vai
acontecer nunca; o Senado brasileiro é algo geneticamente programado para fazer
o mal).
Para a maioria, a vitória virá com a passagem do tempo.
J. R. GUZZO - Jornalista
(Recebi via WhatsApp)
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