19º Domingo do Tempo Comum – 11/08/2019
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Não
tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o
Reino. Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem,
um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça
corrói. Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso
coração.
Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede
como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento,
para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater.
Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados
quando chegar. Em verdade eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los
sentar-se à mesa e, passando, os servirá. E caso ele chegue à meia-noite
ou às três da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar!
Mas ficai certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o
ladrão iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua casa. Vós também,
ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o
esperardes”.
Então Pedro disse: “Senhor, tu contas esta parábola para nós
ou para todos?”
E o Senhor respondeu: “Quem é o administrador fiel e
prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar
comida a todos na hora certa? Feliz o empregado que o patrão, ao chegar,
encontrar agindo assim! Em verdade eu vos digo: o senhor lhe confiará a
administração de todos os seus bens. Porém, se aquele empregado pensar:
‘Meu patrão está demorando’, e começar a espancar os criados e as criadas, e a
comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele empregado chegará num dia
inesperado e numa hora imprevista, ele o partirá ao meio e o fará participar do
destino dos infiéis. Aquele empregado que, conhecendo a vontade do senhor,
nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas
vezes. Porém, o empregado que não conhecia essa vontade e fez coisas que
merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem muito foi dado, muito
será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!”
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger
Araújo:
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Esperas construtivas
“Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de
uma festa de casamento...” (Lc 12,36)
O texto do evangelho deste domingo faz parte de um amplo
contexto, que começou no domingo passado com a petição de alguém a Jesus:
“Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. A partir daí, Lucas
revela uma longa conversação de Jesus com os discípulos e toca diversos temas
de difícil harmonização. Naturalmente se trata de pensamentos dispersos que o
evangelista organiza à sua maneira para ir aclarando as exigências de Jesus, na
formação do seu discipulado.
No domingo passado, Jesus nos pedia para não colocar nossa
confiança nas riquezas; hoje, Ele nos diz em quem devemos confiar para que
nossa vida seja autêntica. Confiadamente, é preciso ativar todos os recursos de
nosso ser, conscientes que Deus atua em nosso interior, e que só através da
sintonia com essa presença interna nossa vida avança, amadurece e se plenifica.
Nosso Deus não é o “Deus todo-poderoso” distante, mas o fundamento de nossa
vida: afinal, somos morada do Deus sempre surpreendente.
A condição humana pode ser definida em termos de “espera
radical”. O nosso coração está habitado por “esperas” de todo gênero. São
tantas as esperas na vida humana! Está todo mundo esperando. É através das
esperas que nos fazemos humanos. Somos feitos disso: desejo, súplica, anseio,
abertura, busca, esperança... A espera está ligada ao verbo “esperançar”:
espera ativa, aberta ao futuro imprevisível, ao novo plenificante...; ela cria
o espaço vital que permite a realização do possível.
Quem espera faz-se disponível, acolhedor, abre espaço para o
mistério do outro que lhe vem ao encontro; quem espera, acolhe o diferente. Os
intolerantes e preconceituosos não esperam nada: amargam a vida no fechamento,
no dogmatismo e no moralismo.
Esperar é passar do “tempo fechado” ao “tempo aberto”, da
fugacidade do “ter” à plenitude do “ser”, do “lugar estreito” ao “lugar amplo”,
do “medo paralisante” à “coragem criativa”... Durante a espera, a imaginação
trabalha e cria mil momentos insuperavelmente felizes. E quando acontece o
encontro entre o desejo e a realização, entre a espera e o esperado, entre o
vazio e aquilo que plenifica, explode uma alegria incontida. Uma mistura de
festa com ternura e boas emoções solidificam esta certeza: valeu a
pena esperar!
A vida que é feita de tantas esperas, também é “esperada”.
Somos continuamente tentados a pensar que somente nós esperamos e esquecer que
também Deus nos espera. A espera divina é paciente, compreensiva e compassiva.
Em nossas esperas, somos ansiosos e impacientes; fazemos da
espera um tempo “em branco”, vivendo como se nada estivesse para acontecer,
mergulhados no tempo rotineiro, sem abertura à surpresa.
Não sabemos esperar: basta ir às salas de esperas dos
hospitais e consultórios para comprovar como as pessoas se desesperam porque
não lhe atendem à hora marcada. Perdemos a paciência porque pretendemos que
tudo seja imediato e a nosso gosto. Não suportamos uma contradição.
O evangelho deste domingo pode ser uma boa oportunidade para
recordar isto. Exercitar-se na arte de esperar com paciência. Desejar, dar asas
à imaginação sobre aquele que vai chegar, sem que esteja em nossa mão adiantar
ou controlar sua chegada. Deus, pelo contrário, nos espera incansavelmente. Por
isso se “humanizou”. Não nos esperou com prepotência, tampouco com soberba.
Esperou na humildade, no húmus da vida, afundando os pés na nossa existência.
Mas Deus não precisa vir de nenhuma parte. Ele está chamando
sempre, mas a partir de dentro de cada um de nós; é a partir de dentro que Ele
se faz visível em nossas relações com os outros.
Somos nós que projetamos Deus fora e distante de nós, que
nos ameaça com prêmios e castigos, que aparece de surpresa para nos pegar em
flagra. O medo de Deus brota quando o imaginamos fora de nós. “Deus de fora” é
o Deus idealizado, que alimenta medo, ameaça com inferno, que castiga.
No evangelho deste domingo (19º Tempo Comum), Jesus revela
“Deus em saída” até o ser humano e desvela o ser humano em saída até Deus. E o
encontro entre ambos é o que o Evangelho propõe. O encontro de pessoas que se
esperavam: como nos aeroportos-rodoviárias, desejando a chegada do(a) amigo(a);
ou nas salas de urgências dos hospitais desejando saber a situação do enfermo
familiar. Essas são esperas autênticas: desejantes, emocionantes, inocentes...
porque esperam uma pessoa. Essa deve ser a disposição de uma “Igreja em saída”
e que não aguarda em uma sala de espera.
O decisivo é entrar em sintonia com o Deus presente em nós;
“esperar” significa estar desperto para conectar-nos com essa presença, sempre
nova e sempre cheia de surpresa. Deus, ao mesmo tempo, está sempre presente e
sempre chegando de maneira surpreendente. Ele é dom e pura gratuidade. Aqui não
há mais lugar para o medo, a culpa, a angústia. Quem entra em sintonia com Ele
e se deixa conduzir por Ele não atua por mérito, mas por pura gratuidade.
O evangelho de hoje, através de parábolas, nos apresenta
alguém que não vive a relação com Deus internamente. O que acontece com ele? As
consequências são funestas, provocadas não por Deus, mas pela pessoa mesma:
irresponsabilidade no serviço, violência com os outros, autoagressão,
partindo-se ao meio... Uma experiência infernal.
Um cristão é uma pessoa que vive em “estado de espera”.
O importante é isto, o “estado”, o processo, a continuidade,
o estar sempre a tempo, sempre alerta, sempre preparado. A vida inteira se
converte numa contínua espera: o equilíbrio, o contato, a liberdade, a
generosidade, cada nervo sintonizado, cada músculo em forma. E assim entramos
na vida e enfrentamos mil situações.
Cada pequeno encontro é uma satisfação em si mesma e uma
preparação para a seguinte. Sempre avante. Avanço que pode ser mudado de
direção a cada instante.
“Não morras na sala de espera” (Hervey Cox). As “salas de
espera do espírito” estão cheias de pessoas que simplesmente estão ali, ali
moram e permanecem, ali vivem e morrem. O fato de já estar na “sala de espera”
lhes dá a impressão de que já fizeram alguma coisa, já começaram a viagem.
As esperas têm rosto de criatividade, de itinerância, de
abertura ao diferente. Elas põem em ação nossos melhores recursos internos;
elas alimentam uma contínua atitude de busca.
Só assim o coração estará mais preparado para a chegada do
Momento cume, quando deixaremos “Deus ser Deus” na nossa morada interior.
Texto bíblico: Lc 12,32-48
Na oração: Você é um impaciente? Não suporta esperar a fila
no cinema? Fica nervoso quando o ônibus atrasa mais de cinco minutos? Espera
que lhe respondam as mensagens de Whatsapp em questão de segundos? Ou quando
alguém chega um pouco atrasado no encontro marcado?...
E, no entanto, você sabe que o importante requer seu tempo,
que os bons pratos são cozidos a fogo lento.
A paciência não é uma palavra da moda hoje em dia. E talvez
por isso é das mais necessárias. A paciência supõe esperar e respeitar os
tempos. Supõe desejar a chegada do outro e não ter mais que fazer a não ser
esperar. Desejar e esperar.
- Como você vive suas “esperas cotidianas?”
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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