Um destes
ataques de medo, em que a emoção fica desenfreada, por assim dizer, e a razão
não consegue recobrar o domínio, pode ser na meninice o ponto de partida de uma
fobia que nos acossará por toda a vida. O escritor Carlos Hanson Towne
descreveu uma vez como se iniciou nele, quando era já adulto, uma espantosa
claustrofobia que o perseguiu por muitos anos. Parece que enquanto percorria um
cárcere em missão da imprensa, o carcereiro lhe perguntou se não gostaria de
provar por um momento o que significa estar encerrado numa cela. A ideia não o
encantava muito, porém era difícil negar-se ao proposto, e entrou numa das
celas cuja porta estava aberta e dava para um corredor no qual se encontrava. Apenas
entrou e viu como a porta se trancava automaticamente, sentiu-se presa de uma
angústia indescritível. Imaginou uma quantidade de coisas. O que sucederia se irrompesse
um incêndio? E se seus companheiros se afastassem dali e se esquecessem de
livrá-lo? Alguma coisa parecia aferrar-se em sua garganta ao pensar nas horas e
anos que os sentenciados deviam passar ali sem esperança de sair; e tão
intolerável se lhe tornou a angústia, que irrompeu num grito: “Por favor abram a
porta!” E durante os poucos segundos que se passaram até que lhe abrissem a
porta ele se sentiu quase fora de si de medo e angústia.
“Durante
muitos dias depois disto - conta ele mesmo - obcecou-me este trágico sentimento. Não podia
esquecê-lo. Enquanto andava por uma avenida, a pleno Sol, recordava essa odiosa
prisão, em que se apinhavam os seres humanos como animais. Nunca me sentira bem
ao ter que passar por túneis ou subterrâneos; mas nunca me havia sentido
excessivamente nervoso quando entrava neles. Desde aquela ocasião, fui sentindo
medo crescente. Comecei a ter medo dos elevadores ... e preferia subir dezenas
de degraus a usar o elevador, nos grandes edifícios. O que havia sido temor
vago se tornou em medo aterrador. Sentia que era algo insensato, falta de
varonilidade, isso de se deixar vencer pela cobardia, mas se aceleravam as
batidas de meu coração cada vez que procurava esquecer meus nervos torturados”.
Persistência de uma fobia
A prova
Suprema foi-lhe uma viagem entre a Suíça e a Itália, na qual teve que atravessar
o Simplon, pelo túnel mais longo do mundo, cujo percurso durava, então, cerca
de três horas. Ao deter-se o trem e entre os lugares de parada regular, creu
perder a razão. Com o tempo e a reflexão, chegou, entretanto, a dominar sua
fobia. No relato de como o conseguiu é que está o valor de seu artigo.
De fato, não
nos interessa tanto saber o de que sofre a pessoa atacada de claustrofobia, ou
de qualquer outra fobia, pois é muito longa a lista destes temores
desarrazoados, que podem afetar pessoas inteligentes e preparadas noutros
sentidos. Napoleão, por exemplo, tinha horror aos gatos (ailurofobia). Há quem
tenha medo dos espaços abertos (agrofobia). Outros não podem ver sangue (hematofobia).
Outros ainda temem as alturas (acrofobia). Há também a triakaidecafobia, o
temor ao número treze, a cardiofobia, ou temor das enfermidades do coração,
etc. Mas o que nos interessa é curar-nos dessas fobias se algumas delas temos.
Segundo a
explicação que nos dão os psicólogos, a causa de uma fobia deve buscar-se
sempre no inconsciente. Num caso de claustrofobia, houve alguma vez na vida, com
mais frequência na primeira infância, algum susto, sucesso ou pensamentos que
criaram complexo relativo ao dano que pode sofrer a pessoa ao estar encarcerada
em espaço exíguo. O trauma psíquico (ou dano sofrido na mente) pode haver sido
esquecido, e, entretanto, o incidente que ocasionou o transtorno emotivo se
aplica a outros tipos de prisão em outros lugares fechados.
É algo de
que se devem lembrar os pais ou aqueles que têm a seu cargo crianças que podem
necessitar de disciplina. Às vezes prendem-nas numa despensa ou em quartos
escuros, coisa que nunca deveria ser feita. Pode ser isto o começo de uma claustrofobia
que se estenderá aos elevadores, submarinos, ou qualquer outro lugar de
estreito confinamento. Mas, por que, entre certo número de pessoas que
receberam igual trato, uns adquirem fobia e outros não? Os psicólogos o
atribuem ao fato de que, nas primeiras, existe o sentimento de culpabilidade. Consideravam
que mereciam castigo, e conservaram o sentimento de culpa, ou talvez por outros
motivos, de maneira que se infligem inconscientemente um castigo com sua fobia.
Marcelo I. Fayard
(A CHAVE DA FELICIDADE E A SAÚDE MENTAL
4ª Edição)
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