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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

AS FOBIAS E OS COMPLEXOS DE INFERIORIDADE


           
Todos nós conhecemos as manifestações do medo, ainda que alguns sejam mais hábeis que outros na arte de ocultá-las. Quando as possibilidades de perigo se apresentam repentinamente no campo consciente, o sangue parece retirar-se do cérebro. Inicia-se de repente a transpiração; debilitam-se os joelhos; não se pode quase pensar e há no estômago uma sensação de vazio, de agonia, como se se houvesse recebido um golpe no plexo solar e perdido a respiração. Mesmo passado o pânico, a mente embargada pelo temor, não pode pensar em outra coisa; e as lembranças associadas com o susto passado giram de forma intolerável ao redor do indivíduo, a ponto de levá-los as bordas da loucura.

            Um destes ataques de medo, em que a emoção fica desenfreada, por assim dizer, e a razão não consegue recobrar o domínio, pode ser na meninice o ponto de partida de uma fobia que nos acossará por toda a vida. O escritor Carlos Hanson Towne descreveu uma vez como se iniciou nele, quando era já adulto, uma espantosa claustrofobia que o perseguiu por muitos anos. Parece que enquanto percorria um cárcere em missão da imprensa, o carcereiro lhe perguntou se não gostaria de provar por um momento o que significa estar encerrado numa cela. A ideia não o encantava muito, porém era difícil negar-se ao proposto, e entrou numa das celas cuja porta estava aberta e dava para um corredor no qual se encontrava. Apenas entrou e viu como a porta se trancava automaticamente, sentiu-se presa de uma angústia indescritível. Imaginou uma quantidade de coisas. O que sucederia se irrompesse um incêndio? E se seus companheiros se afastassem dali e se esquecessem de livrá-lo? Alguma coisa parecia aferrar-se em sua garganta ao pensar nas horas e anos que os sentenciados deviam passar ali sem esperança de sair; e tão intolerável se lhe tornou a angústia, que irrompeu num grito: “Por favor abram a porta!” E durante os poucos segundos que se passaram até que lhe abrissem a porta ele se sentiu quase fora de si de medo e angústia.

            “Durante muitos dias depois disto - conta ele mesmo - obcecou-me este trágico sentimento. Não podia esquecê-lo. Enquanto andava por uma avenida, a pleno Sol, recordava essa odiosa prisão, em que se apinhavam os seres humanos como animais. Nunca me sentira bem ao ter que passar por túneis ou subterrâneos; mas nunca me havia sentido excessivamente nervoso quando entrava neles. Desde aquela ocasião, fui sentindo medo crescente. Comecei a ter medo dos elevadores ... e preferia subir dezenas de degraus a usar o elevador, nos grandes edifícios. O que havia sido temor vago se tornou em medo aterrador. Sentia que era algo insensato, falta de varonilidade, isso de se deixar vencer pela cobardia, mas se aceleravam as batidas de meu coração cada vez que procurava esquecer meus nervos torturados”.

Persistência de uma fobia

            A prova Suprema foi-lhe uma viagem entre a Suíça e a Itália, na qual teve que atravessar o Simplon, pelo túnel mais longo do mundo, cujo percurso durava, então, cerca de três horas. Ao deter-se o trem e entre os lugares de parada regular, creu perder a razão. Com o tempo e a reflexão, chegou, entretanto, a dominar sua fobia. No relato de como o conseguiu é que está o valor de seu artigo.

            De fato, não nos interessa tanto saber o de que sofre a pessoa atacada de claustrofobia, ou de qualquer outra fobia, pois é muito longa a lista destes temores desarrazoados, que podem afetar pessoas inteligentes e preparadas noutros sentidos. Napoleão, por exemplo, tinha horror aos gatos (ailurofobia). Há quem tenha medo dos espaços abertos (agrofobia). Outros não podem ver sangue (hematofobia). Outros ainda temem as alturas (acrofobia). Há também a triakaidecafobia, o temor ao número treze, a cardiofobia, ou temor das enfermidades do coração, etc. Mas o que nos interessa é curar-nos dessas fobias se algumas delas temos.

            Segundo a explicação que nos dão os psicólogos, a causa de uma fobia deve buscar-se sempre no inconsciente. Num caso de claustrofobia, houve alguma vez na vida, com mais frequência na primeira infância, algum susto, sucesso ou pensamentos que criaram complexo relativo ao dano que pode sofrer a pessoa ao estar encarcerada em espaço exíguo. O trauma psíquico (ou dano sofrido na mente) pode haver sido esquecido, e, entretanto, o incidente que ocasionou o transtorno emotivo se aplica a outros tipos de prisão em outros lugares fechados.

            É algo de que se devem lembrar os pais ou aqueles que têm a seu cargo crianças que podem necessitar de disciplina. Às vezes prendem-nas numa despensa ou em quartos escuros, coisa que nunca deveria ser feita. Pode ser isto o começo de uma claustrofobia que se estenderá aos elevadores, submarinos, ou qualquer outro lugar de estreito confinamento. Mas, por que, entre certo número de pessoas que receberam igual trato, uns adquirem fobia e outros não? Os psicólogos o atribuem ao fato de que, nas primeiras, existe o sentimento de culpabilidade. Consideravam que mereciam castigo, e conservaram o sentimento de culpa, ou talvez por outros motivos, de maneira que se infligem inconscientemente um castigo com sua fobia.

           
Marcelo I. Fayard
(A CHAVE DA FELICIDADE E A SAÚDE MENTAL 
4ª Edição)

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