QUE É IMPRESSIONISMO?
Como diz Afrânio
Coutinho, o Impressionismo é uma fusão de elementos realísticos e simbólicos. A
reprodução da realidade de maneira objetiva, minuciosa, constituía a norma
realista; para o impressionista, a realidade ainda é foco de interesse, mas o
que ele pretende mesmo é registrar a impressão que a realidade provoca no
espírito do artista, no exato momento em que se dá a impressão. O importante
não é o objeto e sim as sensações que o objeto desperta num determinado
instante. O impressionista capta o instante, o fragmentário, o instável. O
tempo constitui, portanto, o elemento básico do movimento.
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UM IMPRESSIONISTA BRASILEIRO
Raul D’Ávila
Pompéia nasceu em Angra dos Reis, província do Rio de Janeiro, em 1863, e
faleceu no Rio de Janeiro em 1895. Estudou
no Colégio Pedro II e bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Recife;
iniciara, porém, seu curso em São Paulo, onde militou nos movimentos
abolicionista e republicano. Iniciou-se nas letras muito cedo com “Uma Tragédia
no Amazonas”, em 1880, novela que, apesar de imatura, já refletia um
temperamento angustiado. Essa mesma inquietude, traço fundamental de sua
constituição, levou-o a contínuas polêmicas e ao suicídio, aos trinta e dois
anos de idade, na noite de Natal de 1895.
Obras:
“Canções sem metro” (1881); “O Ateneu” (1888).
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“Vais
encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.”
“Bastante
experimentei depois a verdade deste aviso, porque me despia, num gesto, das
ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do
amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente que parece o
poema dos cuidado maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de
fazer mais sensível a criatura a impressão rude do primeiro ensinamento...”
Estas são
linhas iniciais de O Ateneu, um dos romances mais controvertidos de nossa
literatura, dada a sua violência e sua difícil colocação em qualquer dos
movimentos artísticos do século XIX. Fortemente autobiográfico, trata das
experiências frustrantes de um menino no internato do colégio Ateneu. O
narrador é o próprio personagem, que evoca a sua vida no internato, e assim o
leitor tem a visão de um sujeito adulto que lembra os acontecimentos e não a visão
que o menino tinha ao ingressar no Ateneu. O romance é a memória de uma
experiência infantil e está carregado com um espírito de vingança feroz. O
homem não perdoa aquilo que o sistema do internato fez à sua infância,
destruindo-a.
O livro se
compõe de episódios que são desmascaradamentos sucessivos da miséria moral e da
corrupção que habita o Ateneu. De uma sensibilidade quase mórbida (ver o trecho
acima) o menino percebe angustiado o cair das aparências. Aristarco, o diretor
do colégio, que diz velar “pela candura das crianças, como se fossem não digo
meus filhos: minhas próprias filhas”, se mostra cobiçoso, cínico e desumano. Os
colegas são também figuras insensíveis, brutais. O menino não consegue
estabelecer uma amizade profunda. Todas as camaradagens são rápidas, efêmeras e
dissimuladas por uma angustiante ânsia de poder e por um homossexualismo
evidente.
O Ateneu
supera o Realismo pela presença emotiva e grandiloquente de um narrador. As
vibrações sentimentais têm a propriedade de durar na consciência que os
recorda, e as lembranças de Sérgio adulto, os momentos que ele guardou do
internato são mais emocionais que objetivos. O Ateneu é pura expressão das
emoções do narrador, ou seja, de suas impressões emotivas. Assim, o colégio e
seus personagens não são encarados com absoluta objetividade. O espírito de
vingança, sofrimento e auto castigo de Raul Pompeia não o permitem. As
impressões são demasiadamente fortes para que ele seja impessoal. Daí o caráter
impressionista de seu romance.
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O INCÊNDIO DO ATENEU
Dirigi-me
para o terraço de mármore do outão. Lá estava Aristarco, tresnoitado, o infeliz.
No jardim continuava a multidão dos basbaques. Algumas famílias em toilette
matinal passeavam. Em redor do diretor muito discípulos tinham ficado desde a
véspera, vigor inabaláveis e compadecidos. Lá estava, a uma cadeira em que
passara a noite, imóvel, absorto, sujo de cinza como um penitente, o pé direito
sobre um monte enorme de carvões, o cotovelo, espetado na perna, a grande mão
felpuda envolvendo o queixo, dedos perdidos no bigode de branco , sobrolho
carregado.
Falavam do
incendiário. Imóvel! Contavam que não se achava a senhora. Imóvel! A própria
senhora com quem ele contava para o jardim de crianças! Dor venerada! Indiferença
suprema dos sofrimentos excepcionais! Majestade inerte do cedro fulminado! Ele
pertencia ao monopólio da mágoa. O Ateneu, devastado! O seu trabalho perdido, a
conquista inapreciável dos seus esforços!...
Em paz!... Não era um homem aquilo: era um de profundis.
POMPÉIA, Raul
– O ATENEU, Ed. Cultrix, São Paulo, 1976, pag. 216.
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Novo HORIZONTE
Literatura – Linguagem – Redação
Izaías Branco da Silva & Braz Ogleari
COMPANHIA EDITORA NACIONAL
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