O Parceiro Ângelo Roberto
Cyro de Mattos
Consagrado
desenhista baiano, Ângelo Roberto nasceu em Ibicaraí, antiga Palestina, Sul da
Bahia, em 1938. Estava radicado há décadas em Salvador. Pertenceu à geração de
Glauber Rocha. Figurou nas famosas jogralescas, movimento estudantil com encenação
de poetas modernos, dirigido por Glauber Rocha, no Colégio da Bahia (Central).
Cursou a Escola de Belas Artes da UFBA. Participou de teatro amador, desenhou
cartuns, fez ilustrações para jornais, revistas e livros de autores importantes
da Bahia. Muitas exposições individuais e coletivas, no Brasil e exterior.
Compareceu às duas Bienais Nacionais de Artes Plásticas na Bahia. Expôs
individualmente no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Possui alguns prêmios de
cartazes em salões universitários. É autor de várias apresentações de filmes de
curta-metragem, tendo participado de alguns deles como ator.
Tive a sorte de ser amigo do Ângelo. Deus possibilitou nosso
encontro na jornada da vida. Ele ilustrou vários dos meus livros. Foi um
parceiro fraterno, que com seus desenhos de fina criação e conteúdo humano
valoroso enriqueceu meus livros. Cito A Casa Verde e Outros Poemas, Oratório de
Natal, infantil, Poesie Brasiliane della Bahia (Poesia Brasileira da Bahia),
publicado na Itália, Alma Mais Que Tudo, crônicas, e O Mundo É Uma Criança com
Palhaço e Lambança, ainda inédito, com projeto para ser publicado pela Editus, editora da UESC, neste ano.
Homem simples, estimado no círculo de escritores e artistas
baianos. Indiferente às traiçoeiras invenções da inveja. Abria meu coração de alegria quando enviava
as ilustrações que iam figurar em algum dos meus livros. De uma boa vontade que chamava a atenção pela
repetição costumeira. Sem querer nada
de volta, a não ser o prazer que tinha em fazer circular com o meu texto a
beleza de sua arte. Tinha sentimentos dignos, inseridos, sem esforço, em seus
desenhos para acender a luz do amor na inocência e no drama.
Foi um dia com as cores ressentidas de pesar quando soube
que o amigo Ângelo havia nos deixado para morar em outras paragens, as quais no
lado dos que ficam expandem-se em mistério e no esquecimento. Aquele homem
solidário, de boa prosa.
Quando se
encontrava comigo em algum lançamento de livro em Salvador, na Academia de
Letras da Bahia, por exemplo, gostava de reviver suas raízes provindas de
Ibicaraí. Lembrava parentes e velhos amigos, gente que conviveu com ele na
cidade natal, em tempo de infância. A conversa ficava animada e tomava ares de
saudade incontornável quando se dava com Mariza, minha esposa, sua conterrânea,
da mesma geração dele no chão de nascimento.
Tomo conhecimento que Marlene, a esposa de Ângelo, com a
filha Naia, teve a iniciativa de homenagear em boa hora a memória desse saudoso
amigo, com a publicação póstuma de seu livro O Mistério do Arco-Íris, uma
fábula para o público infantil. Ângelo diz na escrita com os ares da pureza que
a vida só é possível com a amizade. Viável com os dias solidários, cheios de
esperança. Fiquei surpreso quando vi que na última página desse pequeno grande livro
consta o registro seguinte: “Ilustrador de mais de dez livros de poesia e prosa do velho amigo, o escritor
Cyro de Mattos, acredita (Ângelo) que o
fato de ilustrar seus livros infantis,
lhe deu a coragem para retirar da gaveta
esta velha história do arco-íris.”
Claro que
fiquei lisonjeado com a revelação do parceiro.
Se o Ângelo, em vida, tivesse me dado para ler O Mistério do Arco-Íris,
não hesitaria em dizer-lhe: “Amigo Ângelo, escreva mais livros para crianças,
você sabe das coisas.” Encanto e graça nas asas da beleza, foi o que eu senti
quando fui arrastado pela história de O Mistério do Arco-Íris. Os desenhos criativos como sempre dão a
sensação de pessoas se movendo num cenário vivo, de tons que fazem bem aos
olhos, de rostos nos quais emanam momentos do riso, de um lado, e, no outro,
acalmam com a leveza dos gestos.
Conhecia
Ângelo Roberto como desenhista dos bons, o poeta do traço, como era chamado, de
fina forma e conteúdo pontuado de lirismo.
Com O Mistério do Arco-Íris eis que passo a conhecer o autor de uma
história interessante destinada à criançada, mas que serve para o adulto amante
de poesia em prosa delicada, ritmada de afeto e surpresa agradável.
Delícia.
*O Mistério do Arco-Íris, Ângelo Roberto, Pimenta Malagueta
Editora, Salvador, 2019.
* * *
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