Machombongo
Cyro de Mattos
Se com o
romance Comercinho do Poço Fundo e a novela Os genros o
ficcionista Euclides Neto passa a ocupar um lugar de destaque na expressiva
literatura da região cacaueira na Bahia, é com o livro Machombongo que
o escritor de Ipiaú consegue realizar a sua obra de ficção mais bem estruturada
em termos de novelística moderna.
Escritor que
dá, em alguns de seus romances, um testemunho significativo de acontecimentos e
vivências nas terras do cacau, outrora ricas, registrando emoções, expressões e
cenas típicas de uma realidade que tão bem conhece, Euclides Neto não coloca no
coração do camponês a alegria que ele não possui. Não caminha também por certo
regionalismo espiritual em que as impressões colhidas pelo ficcionista vão
formando o clima da história, a atmosfera que sustenta a narrativa, deixando
num plano secundário o ambiente onde os personagens vão mover seu drama.
Euclides Neto
não transfigura a realidade da região cacaueira na Bahia e nesta não instaura
um império de tragicidade por onde as criaturas terão de inexoravelmente cavar
as próprias sepulturas. O seu compromisso é antes de tudo com a realidade
social, de exploradores e explorados em torno da lavoura cacaueira, da terra
que brota o seu processo econômico com novos aspectos nos tempos atuais.
Escritor
experimentado, fiel à problemática social de sua região, Euclides Neto evita a
gratuidade de certo esteticismo regionalista. Com um estilo vigoroso,
impregnado de oralidade, muitas vezes com a linguagem recriada de maneira
feliz, o romancista em Machombongo mais uma vez mostra ser conhecedor
de sua arte, da psicologia de sua gente, da condição de miséria em que
populações abandonadas vivem em sua região. E com isso nos dá em Machombongo um
romance que é o resultado bem-acabado de ficção imbricada na realidade,
envolvendo aspectos sociais, econômicos e culturais do homem como animal político.
Romance que,
se fosse assinado por Jorge Amado, teria certamente grande ressonância no
Brasil e, como sempre, correria o mundo.
Cyro de Mattos é poeta e escritor.
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