1 de junho de 2019
Aquilino Sirtoli
· Francisco
Machado
Nas cercanias da cidade de Ronda Alta (RS), no acostamento
de uma estrada, aproximadamente 1000 famílias de sem-terra encontravam-se
acampadas.
Certo dia, nos idos de 1980, elas receberam a visita do
Coronel Sebastião Curió. Este militar perguntou-lhes: gostariam de ir para o
norte do Mato Grosso? Era terra promissora no centro-oeste do Brasil, ainda não
desbravada.
A proposta era tentadora: o governo bancava a mudança em
caminhão, oferecia grátis aos interessados viagem de ônibus, concedia 200
hectares para o plantio e cada família receberia, durante 18 meses, um salário
mínimo.
Assim, ambas as partes ganhavam: os sem-terra sairiam das
condições inumanas e degradantes do acampamento. O governo colonizaria o
interior do país, trazendo desenvolvimento, prosperidade e desinflaria a
agitação agrária nascente no agrupamento que se transformaria no MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Com a desaprovação do líder do acampamento, João Pedro
Stedile, Aquilino Sirtoli, de Tapejara, foi uma das 205 famílias que aceitaram
a benéfica e vantajosa proposta.
Com a esposa, Jurema e a filhinha de 6 anos foram para o
Mato Grosso, numa viagem de três dias, no final da qual recebeu, conforme
prometido, 200 hectares de terra.
Hoje, com 70 anos, Aquilino relembra as agruras que passou
no acampamento: “A gente era da roça, morávamos num barranco de beira de
estrada. Era como pegar uma favela e trazer para cá”, diz Aquilino, com seu
inseparável chimarrão. “O governo juntou nossos caquinhos, botou num
caminhão e viemos. Chegamos aqui era só terra e mosquito, a única coisa que
havia era um batalhão do Exército”, acrescenta.
No início foi difícil. — “Eu pensei em voltar, mas
a Jurema me impediu. Ela me disse: ‘Você não dizia que ia vir mesmo sem mim?
Agora, nós vamos ficar’. E graças a Deus nós ficamos” — afirma ele.
Após cinco meses morando debaixo de uma lona, ele conseguiu
construir sua primeira casa de madeira. Enfrentou também dificuldades com o
plantio. O Instituto Nacional para Colonização e Reforma Agrária (Incra),
proibia que se plantasse soja.
— “Queriam que a gente cultivasse só frutas e
hortaliças para subsistência, diziam que assim era a reforma agrária”, afirma.
Enfrentando toda espécie de problemas, Aquilino não
desistiu. No Banco do Brasil pegou seu primeiro empréstimo. Não
conseguiu pagá-lo. Ficou com o crédito bloqueado. Perseverou e em 1985
conseguiu comprar um trator, acrescentando que levou mais cinco anos para sair
do sufoco.
Em 1990, no Mato Grosso, com o boom da soja, Aquilino
conseguiu prosperar. Comprou mais terras. Aumentou a produção. Plantou soja e
milho. Emprega hoje, quatro famílias. Tem três filhos trabalhando na terra. Ele
diz ter uma admiração enorme pelos militares que o levaram para o
Centro-Oeste.
Ele não concorda com as táticas empregadas pelo MST,
movimento de cujo embrião ele, de uma certa forma, participou.
— “O MST é das piores coisas que existem. Invadir as
terras dos outros, queimar as coisas, fazer maldade, isso não funciona”, declarou
o Sr. Aquilino, acrescentando: “Eu nunca me envolvi com política. Eu só
queria plantar”.
Aquilino e sua família moram hoje em Lucas do Rio Verde,
cidade que enriqueceu com as culturas do milho e da soja, que cresce em ritmo
extraordinário. Com 65 mil habitantes, dobrou de tamanho nos últimos 10 anos.
Das 205 famílias pioneiras, 150 já tinham voltado para o Sul nos primeiros dois
anos.
Hoje o ex-sem-terra, Aquilino Sirtoli, é dono de fazenda com
dois mil hectares (10 vezes o lote original) no Mato Grosso e proprietário de
confortável casa no centro de Lucas do Rio Verde (350 km de Cuiabá).
O leitor não concorda, depois desse exemplo, que é melhor
ensinar a pescar do que dar o peixe? Deus Nosso Senhor deu ao homem
inteligência, saúde e outros dons, que, como sementes, devemos cultivar e fazer
prosperar. Assim procedeu o Sr. Aquilino, o ex-sem-terra e hoje próspero
fazendeiro.
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