21 de maio de 2019
Igreja destruída na China comunista
Plinio Maria Solimeo
Apesar
do infeliz acordo da Santa Sé com a China comunista em prol da chamada Igreja
Patriótica, títere do governo chinês, e em detrimento da chamada Igreja
Subterrânea, fiel a Roma, continuam as perseguições naquele país. Bispos fiéis
e católicos leigos têm sido perseguidos, igrejas e conventos continuam a ser
invadidos e destruídos.
De acordo com o conceituado National Catholic Register,
desde dezembro de 2018 — não chegando a três meses depois de assinar seu acordo
com o Vaticano —, Pequim aumentou a perseguição religiosa, procurando sinicizar a
religião no país. Depois de citar perseguições a outros grupos religiosos, o
jornal acrescenta: “Com relação aos católicos, as condições são opressivas
também, com santuários no país sendo também demolidos. Os católicos menores de
18 anos são proibidos de assistir Missa, e algumas dioceses permanecem vagas”[i].
Isso porque
o comunismo não muda. E é implacável quando está no poder, levando tudo a ferro
e fogo para impor sua nefasta ideologia. Seriam muitos os exemplos ao longo da
história do século XX e início do XXI, tanto na Rússia quanto noutros países
onde ele predominou ou predomina. Escolhemos apenas um, ocorrido nos remotos
idos de 1929, para mostrar o ódio diabólico que esses sem-Deus já demonstravam
contra os católicos, assim que conquistavam um país. Trata-se do martírio de um
sacerdote irlandês, cruelmente morto pelo fato de simplesmente ser católico.
Timóteo
frequentou a Escola Nacional de Monaleen, foi interno no Colégio São Munchin em
Limerick e, depois de cursar a Universidade São Patrício, em Maynooth, foi
ordenado sacerdote no dia 28 de abril de 1918, para a Diocese de Limerick.
Pouco depois entrou para a Sociedade Missionária de São Columbano, que
havia sido fundada dois anos antes para enviar missionários à China.
Em 1924 seria fundado o ramo feminino da Sociedade, o
das Irmãs Missionárias de São Columbano, para assessorar os missionários
em seu apostolado. São Columbano (540-615) foi um monge missionário irlandês
que se tornou conhecido pela fundação de inúmeros mosteiros pela Europa, o mais
famoso sendo o de Luxeuil, na França, fundado em 590, no qual entraram tantos
monges, que foi possível fazer o laus perennis, isto é, o Ofício
ininterrupto, dia e noite, a Deus.
O Pe. Leonard foi dos primeiros missionários columbanos a
ser enviado à China, em 1920, com o Pe. Eduardo Galvin, co-fundador da
Sociedade com o Pe. João Blowick. Os missionários partiram no dia de São
Patrício, 17 de março, do porto de Liverpool, na Inglaterra, via Estados
Unidos.
Chegando a Shangai, os missionários participaram por vários
meses de um curso intensivo de chinês mandarim. Depois do que o Pe. Leonard foi
enviado para área de Haniang, começando então seu apostolado em solo chinês. O
Pe. Galvin mais tarde seria o primeiro bispo de Hanyang, naquele país.
Memorial em homenagem ao Pe. Timóteo Leonard
Em 1924 o Pe. Timóteo retornou à Irlanda em busca de novos
missionários e ajuda financeira para sua missão. Nesse intuito, pregou em
paróquias, colégios e escolas, projetando slides do trabalho dos
missionários na China. Como tinha nascido numa fazenda, também apresentou seu
trabalho numa feira de agricultura, sendo muito bem recebido pelos fazendeiros,
que lhe deram bom suporte financeiro.
Durante essa estadia na Irlanda, o Pe. William Fenton
perguntou-lhe se ele tinha considerado que poderia ser morto na China. O
intrépido missionário respondeu: “E daí? Se eu pensasse que não o poderia
ser, ficaria desapontado. Aliás, [o martírio] não será senão por um
quarto de hora. Pense então na recompensa eterna!”.
O Pe.
Leonard retornou à China em 1926, desta vez para a região de Hubei, na parte
central do país. Dois anos depois foi transferido para a província de Jiangxi,
ficando pároco de Nan Feng, na diocese de Nan Chang.
O
verdadeiro missionário era incansável em seu trabalho, seu entusiasmo não
encontrando limites. Além de atender a seus paroquianos da cidade, viajava por
péssimos caminhos em lombo de mula para visitar os católicos encontrados em
áreas distantes, em lugares às vezes quase inacessíveis.
Ora, os
revolucionários comunistas, liderados pelo feroz MaoTseTung, conseguiram
penetrar naquela área por volta de 1929. O exército vermelho somava então dez
mil homens na região. Todos seus membros odiavam os católicos, principalmente
os missionários estrangeiros que trabalhavam no país.
No dia 15
de julho de 1929, os energúmenos chegaram à cidade de Nan Feng, e foram direto
para a igreja. O Pe. Leonard estava exatamente terminando a consagração na
Missa das 5:00 horas da manhã. Os comunistas o arrancaram do altar, quebrando
os vasos sagrados. Nesse instante, a maior preocupação do sacerdote foi a de
salvar o Santíssimo Sacramento. Increpou então asperamente os sem-Deus pelo
sacrilégio que cometiam, fazendo heróicos esforços para proteger as Sagradas
Espécies. Mas os comunistas tiraram-lhe das mãos o cibório, jogaram as hóstias
sagradas pelo chão, e nelas pisaram.
Depois intimaram o Pe. Timóteo a pagar grande importância
por seu resgate. Como ele recusou, o levaram preso juntamente com 16 fiéis,
incluindo seu coroinha. O Pe. Leonardo pediu a seus captores que liberassem o
menino sem resgate, com o que eles condescenderam.
Os 17 confessores da fé foram aprisionados. Entretanto o Pe.
Timóteo, como o responsável por todos eles, foi levado para o alto de um monte,
onde o interrogaram e torturaram por muito tempo, durante o qual o sacerdote
recusou qualquer alimento, permanecendo entregue à oração.
No dia seguinte, depois de um simulacro de julgamento, o
missionário columbano foi condenado à morte, acusado de ser hostil ao povo da
China, isto é, dos comunistas, amigo dos Nacionalistas que contra eles lutavam,
e espião do Vaticano. O Pe. Timóteo foi executado no dia 17, sendo parcialmente
decapitado.
Três dias
depois, seus paroquianos recuperaram o seu corpo, e o levaram para a igreja
local, onde foi velado por três dias em meio a lágrimas, cânticos e orações dos
seus paroquianos.
No dia 23 de julho o missionário também columbano, Pe. Pat
Dermody, e um sacerdote chinês, cantaram solene Missa de réquiem pelo
eterno repouso da alma do falecido.
É preciso dizer que os missionários columbanos foram
expulsos da China quando os comunistas tomaram o poder no país em 1949.
O Pe. Timóteo Lonard foi o primeiro dos 24 missionários da
Sociedade de São Columbanoque deram sua vida pela fé. Ele tinha somente 36 anos
de idade quando foi martirizado.
O dia em
que sua família recebeu a notícia de seu martírio, foi de muita consternação
para a sua mãe e os seus irmãos. Entretanto, em meio à tristeza, veio da
Austrália uma nota de fé e alegria. Com efeito, um dos irmãos do falecido, Dr.
William Leonard, que se tornara grande erudito naquele país, ao saber da
notícia das circunstâncias da morte do irmão, mandou um telegrama à mãe, no
qual dizia: “Congratulações! A senhora se tornou a mãe de um
mártir”.
[i]NationalCatholicRegister,
disponível em http://www.ncregister.com/daily-news/china-and-the-catholic-church-yesterday-today-and-tomorrow
Outras fontes consultadas:
https://columbans.ie/new-headstone-columban-martyr-fr-timothy-leonard/
http://www.ncregister.com/daily-news/from-ireland-to-china-and-martyrdom-the-legacy-of-father-timothy-leonard
http://www.limerickcity.ie/media/olj%202011%20p046%20to%20048.pdf
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