6 de abril de 2019
Plinio Corrêa de Oliveira em sua biblioteca
A aliança entre a Alemanha nazista e a Rússia comunista, foi
consumada em 1939 com o “Pacto Ribbentrop-Molotov — o que confirmou as
denúncias feitas por Plinio Corrêa de Oliveira. Desmentindo todas as notícias que a mídia internacional
difundia antes da II Guerra Mundial a respeito da visceral incompatibilidade
entre nazismo e comunismo, a analogia ideológica e política entre ambos regimes
foi sistematicamente denunciada pelas páginas do “Legionário” e confirmada pela
assinatura do Pacto Ribbentrop-Molotov.
Juan Gonzalo Larraín Campbell
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 532, Abril/1995
Continuando o propósito, exposto em artigo de fevereiro
passado, de levar ao conhecimento dos leitores algumas previsões que o
Professor Plinio Corrêa de Oliveira apresentou no “Legionário”, por ocasião da
Segunda Guerra Mundial, focalizamos a seguir um dos prognósticos mais
sensacionais do fundador da TFP. Isto é, a antecipada denúncia do pacto
Ribbentrop-Molotov entre a Alemanha nazista e a Rússia comunista.
Falso dilema: comunismo ou nazismo
Para se compreender melhor o alcance da referida previsão,
convém que o leitor considere, ainda que de maneira sucinta, alguns aspectos do
quadro político-religioso reinante na época.
As democracias vigentes no início da década de 30, em países
da Europa e de outros continentes, estavam corroídas por seu próprio
liberalismo, que as conduzia a crescente desagregação social.
Nesse contexto,
começaram a aparecer no quadro internacional os totalitarismos chamados de
ordem, apresentando-se como panacéia em face da anarquia e, ao mesmo tempo,
como os únicos bastiões que se opunham à expansão do comunismo soviético. Sua
máxima expressão foi o nazismo.
O prestígio que Hitler alcançava tanto na Alemanha quanto no
Exterior se devia, em boa medida, ao fato de ser propagandeado pela mídia como
o grande adversário do comunismo.
Colocava-se assim para a opinião pública mundial e para a
católica, especialmente, uma alternativa: optar pelo comunismo (o que era
inaceitável para os católicos numa época feliz, na qual não existia ainda
a Ostpolitik vaticana) ou aderir de algum modo ao nazismo e seus
congêneres.
Nessa hora de extrema gravidade para a Igreja e a
Civilização Cristã, não faltou clarividência, argúcia e coragem ao futuro
fundador da TFP para denunciar energicamente, baseado na firmíssima solidez de
sua fé e em sua coerente adesão à doutrina católica, que a solução para
conjurar a ameaça comunista não consistia em “salvadores” totalitários. Tal
solução — sempre insistiu ele — cifrava-se no único Salvador verdadeiro, Nosso
Senhor Jesus Cristo, e nos ensinamentos de sua Santa Igreja.
Não é nossa intenção mostrar aqui a oposição sistemática que
o eminente pensador católico desenvolveu contra o nazi-fascismo, denunciando
desde o começo dos anos 30 as analogias doutrinárias e de métodos de ação
existentes entre este e o comunismo.1
O inverossímil do pacto teuto-russo
Interessa-nos, para efeito deste artigo, mostrar, a título
de exemplo, algumas das principais denúncias que o destacado líder católico
fizera sobre o itinerário convergente nazi-comunista que parecia na época
absolutamente inverossímil até para os espíritos tidos por mais lúcidos.
São muito sintomáticas nesse sentido as seguintes linhas
publicadas na revista francesa “Historiama”, em 1975:
“Quando foi conhecidas na França e na Grã-Bretanha, no mês
de agosto de 1939 a assinatura do pacto de aliança germano-soviética,
triunfo da diplomacia de Berlim, a opinião pública foi traumatizada […] O pacto
germano-soviético surpreendeu a diplomacia ocidental em 1939″.2
Se a opinião pública francesa e inglesa foram traumatizadas
e a diplomacia ocidental surpreendida, nem uma coisa nem outra aconteceu com o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira nem com o “Legionário” , órgão de imprensa do
qual era então diretor. Senão vejamos.
Auxílio econômico de Hitler a Stalin
Em outubro de 1937, comentando a restrição imposta pelo
Governo alemão à Igreja, mediante a qual este baixava instruções para que se
economizasse o mais possível o vinho e o trigo essenciais para a celebração do
Santo Sacrifício da Missa e à comunhão dos fiéis, Plinio Corrêa de Oliveira
lançava as primeiras suspeitas que o conduziriam a conjeturar o pacto
teuto-russo. Assim se expressava ele:
“Enquanto se faz economia com o culto divino economias
insignificantes e miseráveis que rebaixam quem as faz, o governo hitlerista
abria largos créditos […] para o governo russo(1), emprestando-lhe dinheiro
[…]. O dinheiro que se nega ao culto de Deus se gasta com um simples mortal e,
mais ainda, se fornece aos próprios inimigos da civilização”.3
Reatadas relações diplomáticas entre Alemanha e Rússia Em agosto de 1938, o Prof. Plinio agrega a desconfiança dos
leitores a respeito do entendimento germano-soviético:
“Simultaneamente com o tumulto causado pela tensão
germano-tcheca, produziram-se dois fatos importantes […]. O primeiro foi o
reatamento das relações diplomáticas entre a Alemanha e a Rússia, que vinham
sendo muito regulares e que se tornaram normais. Moscou tem hoje seu embaixador
ariano, assim como Berlim o seu embaixador russo […]. Porque a verdade é
esta: se bem que Hitler pregue contra o comunismo e se apresente como defensor
da civilização européia contra esse mal, sua atitude em relação ao governo
soviético difere fundamentalmente dessa propaganda e, apesar de todos os seus
discursos inflamados, ele tem feito muitas ofertas interessadas e amistosas a
Moscou”.4
1939 assistiu a espantosa previsão
Em 1° de janeiro de 1939, o destacado líder católico,
vaticinava de um modo que poderíamos qualificar de profético:
“Efetivamente, enquanto todos os campos se definem, um
movimentos cada vez mais nítido se processa. É a fusão doutrinária do nazismo
com o comunismo. A nosso ver, 1939 assistirá a consumação dessa fusão”5.
Os fatos confirmaram de modo espantoso a previsão acima.
De outro lado, as relações comerciais entre a Alemanha
nazista e o México nitidamente esquerdista se desenvolviam cada vez mais,
fortificando assim as razões da desconfiança levantada pelo insigne pensador
católico.
Afinidade ideológica dos totalitarismos
Em maio de 1939, o ilustre diretor do “Legionário” afirmava:
“A nota mais curiosa do noticiário da semana passada foi
fornecido, sem dúvida pelos rumores insistentes sobre uma aproximação
teuto-russa. À primeira vista esta versão tem contra si fortes possibilidades
[…].
“ Dada a campanha espetacular que o nazismo e o comunismo
dirigem um contra o outro, seria deveras surpreendente que ambos se
reconciliassem.
“Os observadores menos superficiais entretanto, não
consideram tão inverossímil essa hipótese.
“Em primeiro lugar nenhuma pessoa medianamente culta poderá
negar a inteira afinidade ideológica existente entre o totalitarismo e o
comunismo” […].
Após fundamentar com numerosos fatos a referida
identidade, o Prof. Plinio concluía:
“A Alemanha é nacional-socialista. A Rússia está ficando
nacionalista sem deixar de ser comunista.”
Pesem-se bem as palavras: entre um “nacionalismo-socialista” e
um “nacionalismo-comunista” que diferença há?6
A confirmação
Três meses depois, a 23 de agosto de 1939, era assinado o
pacto Ribbentrop-Molotov, que confirmou de modo retumbante as previsões que, a
esse respeito, fizera o diretor do “Legionário”. Pouco dias depois Hitler
invadia a católica Polônia, com aval russo, dando início à Segunda Guerra
Mundial.
A ufania de ser contra-revolucionário
O ódio dos revolucionários de todos os matizes, a
incompreensão e o silêncio acanhado dos moderados se desataram de modo especial
naquela época contra o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira por causa de sua
destemida denúncia da união nazi-comunista. É muito explicável pois, que o
“Legionário”, ufano pela posição assumida por seu diretor desafiasse, sempre
com espírito cavalheiresco, seus irredutíveis adversários, destacando de modo
particular o acerto de suas previsões, precisamente num dos pontos que mais
ódio suscitara.
Assim, na edição de 14 de janeiro de 1940, sob uma
fotografia, figura a seguinte legenda:
“Um aperto de mão histórico”
Stalin e Joachim von Ribbentrop
“A assinatura do pacto entre o nazismo e o comunismo
espantou grande número de pessoas. Daí a surpresa de muitos leitores ante a
cordialidade risonha e afetuosa do aperto de mão trocado, como acima se vê,
entre Ribbentrop e Stalin logo depois de assinado o acordo. O
“Legionário”, entretanto previu o acontecimento com uma longa
antecedência”.7
E o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escrevia em junho de 1940:
“Entrando na guerra do lado da Alemanha, a Itália confirmou
todas as previsões desta folha […].”
Referindo-se a seguir à propaganda que o
Governo italiano um ano antes fazia contra as democracias, devido às ligações
que estas mantinham com os soviéticos, prossegue:
“Nessa ocasião, o Legionário já sustentava a
inconsistência da luta entre o totalitarismo de direita e de esquerda. Segundo
as previsões desta folha, dia viria em que os fatos demonstrariam esta tese, e
o mundo ainda assistiria à aliança de uma e outra ideologia. Veio finalmente o
pacto Ribbentrop-Stalin e de lá para cá nosso ponto de vista tem recebido da
realidade a sua mais plena confirmação”.8
Mestre e guia da Contra-Revolução
Várias vezes em conversas e reuniões, o Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira tem aludido às polêmicas denúncias por ele feitas através das
páginas do “Legionário” . Entre as que se referem à ordem temporal, a relatada
no presente artigo é uma das que ele mais destaca, pelo inverossímil que ela
aparentava aos homens de pouca fé.
É pois com especial alegria que redigimos estas linhas para
os leitores de Catolicismo —continuador do Legionário —
sobre o glorioso passado do Fundador da TFP, colocando uma vez mais em relevo o
discernimento político providencial com que a Santíssima Virgem o dotou desde
sua juventude. O que faz dele, entre muitas outras qualidades e dons, o Mestre
e Guia incontestável, como já tem sido observado, da Contra-Revolução em nossos
dias
__________________
NOTAS
1. Quem deseje informar-se a respeito, pode consultar os
artigos por ele publicados sobre o assunto em “Legionário”, e, posteriormente,
em “Catolicismo” e na “Folha de S. Paulo” .
2. “Historama”, Paris, n° 280, p. 97.
3. Plinio Corrêa de Oliveira, À Margem do
hitlerismo, “Legionário”, 24-10-37.
4. Plinio Corrêa de Oliveira, Alemanha e Rússia trocam
carícias, “Legionário”, 28-8-38.
5. Plinio Corrêa de Oliveira, Entre o passado e o
futuro, “Legionário”, 1-1-39.
6. Plinio Corrêa de Oliveira, seção 7 dias em
revista, “Legionário”, 14-5-39.
7. “Legionário”, 14-5-40
8. Plinio Corrêa de Oliveira, seção 7 dias em
revista, “Legionário”, 16-6-40.
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