31/ago/18 - 09h00
O Brasil vive a mais grave crise política desde 1889. A
desesperança é geral. A dinâmica sociedade civil está começando a entender que
a estrutura estatal — dos três Poderes, registre-se — é impermeável às mudanças
exigidas para, finalmente, termos uma república digna desse nome. Ao longo de
mais de um século o País já passou por momentos de muita tensão, como em 1930 e
1964. Porém, agora, a situação conjuntural é muito mais complexa. Nos dois
momentos citados havia diversos caminhos que poderiam ser percorridos,
dependendo, claro, de quem fosse o vencedor do embate político. A questão que
fica, nesse momento, é que não há no horizonte nenhum rumo delimitado. Isso
porque o sistema é absolutamente petrificado, impedindo qualquer possibilidade
de mudança. Assim, como a transformação é impossibilitada de nascer — devido a
solidez da estrutura estatal —, resta a permanência ou uma ruptura que, até o
momento, não se avizinha. Nesse jogo pérfido quem perde é o País. Mas todos
perdem? Não, alguns ganham, os que se locupletam com a coisa pública, os
inimigos da República. Mas quem são? A elite dirigente — e elite no sentido
mais amplo do conceito.
Enquanto não for resolvida a crise política, o Brasil
permanecerá estagnado. Viverá, no máximo, de pequenos surtos de crescimento
para depois retornar à recessão. É a política que determina a economia — e não
o inverso. Sendo assim, é uma ilusão imaginar que a conjuntura mais tensa que
vivemos no último século será enfrentada — e solucionada — pelas urnas a 7 de
outubro. Falácia, pura falácia. Nada indica que o Congresso Nacional deve
melhorar a forma de representação popular. Pelo contrário, a tendência é de que
os velhos caciques estarão de volta ao Senado e à Câmara dos Deputados
acompanhados da quadrilha oligárquica de seus estados. Ou seja, poderemos
sentir saudade do atual Parlamento, por mais incrível que pareça.
No campo do Executivo federal, independentemente de quem for
eleito, a dissociação com o sentimento popular deve permanecer. O momento é
preocupante, mas os candidatos continuam
desenvolvendo campanhas como se vivêssemos uma simples crise, algo que poderia
ser resolvido sem grandes transtornos. Chegamos ao ponto de um presidiário se
lançar candidato à Presidência da República e isso ser visto por operadores do
Direito — regiamente pagos — como algo absolutamente natural.
É ilusão imaginar que a conjuntura mais tensa que vivemos no
último século será enfrentada – e solucionada – pelas urnas a 7 de
outubro. Falácia, pura falácia.
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Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista
da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos
(1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993).
É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia
(USP) e Doutor em História (USP).
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