31º Domingo do Tempo Comum - Solenidade de todos os Santos –
04/11/2018
Anúncio do Evangelho (Mt 5,1-12a)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, vendo Jesus as multidões, subiu ao
monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a
ensiná-los:
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o
Reino dos Céus.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque
serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão
chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da
justiça, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e
perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de
mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos
céus”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o link abaixo e acompanhe a reflexão do Evangelho:
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Amor é o que diz
"sim" em nós
“...amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração...
amarás o teu próximo como a ti mesmo”
Há perguntas que realmente não despertam nada; há perguntas
maliciosas e capciosas que só buscam complicar o outro; mas há perguntas
essenciais que despertam nosso “eu profundo”.
No evangelho deste domingo (31º Dom TC) nos encontramos com
alguém sincero que, como outros muitos, se vê enredado em meio a tantos
mandamentos e preceitos que já não sabe por onde começar a caminhar.
Finalmente, alguém quer pôr as coisas em seu lugar; não quer ficar nos ramos,
mas quer ir à raiz, ao verdadeiramente essencial. “Qual é o primeiro de todos
os mandamentos”? Jesus também não é daqueles que soluciona os problemas vitais
multiplicando mandatos, leis, preceitos. Jesus também vai as raízes da
fé.
Possivelmente é a única vez que Jesus responde diretamente à
pergunta, porque a considera interessante e sincera. Significativamente, Jesus
não apela aos dez mandamentos, mas à atitude central da experiência religiosa
judaica: “Escuta, Israel! Amarás o Senhor teu Deus...” Ele não começa pelo
sexto mandamento, nem pelo nono, que são mandamentos fundamentais para a imensa
maioria dos cristãos; nem sequer pelo quinto (não matar) ou pelo sétimo (não
roubar).
Jesus entende muito bem o que aquele homem sente. Quando na
religião vão se acumulando normas e preceitos, costumes e ritos, é fácil viver
dispersos, sem saber exatamente o que é fundamental para orientar a vida de
maneira sadia. Algo disto acontece muito entre nós cristãos. Jesus, diante da
pergunta do escriba, atreveu-se a ir mais longe: há uma realidade em nossas
vidas capaz de fazer emergir o melhor que há em todos nós, e é simplesmente o
amor. E não há outra experiência de que mais necessitamos e que mais nos
realiza como humanos como essa: “amar e ser amado”.
Comecemos pela experiência básica: no princípio não está o
“faça isso”, nem o “amarás”, mas o “escuta”: acolha a voz de Deus! Só a partir
dessa “escuta” se pode falar de amor a Deus e ao próximo. “Escuta”: este é o
princípio de todo mandamento. No fundo, esta expressão quer dizer: “não te
feches, não faças de tua vida um espaço enclausurado, onde só se escutam tuas
vozes e as vozes de teu mundo”. Para além do que fazemos ou pensamos, daquilo
que desejamos e buscamos, estende-se o amplo campo da manifestação de Deus; abrir-nos
à sua voz, manter ativa a atenção à sua presença, ser receptivos frente sua
Palavra..., esse é o princípio e sentido do qual brota toda vida e todo
mandamento.
Cada ouvinte é um “tu” de Deus, chamado a responder-lhe com
amor. Este amor que aqui se pede deve surgir como resposta: não é uma “obra”
que o ser humano possa suscitar por si mesmo, mas um dinamismo pleno que brota
ali onde cada ser humano acolhe a voz de Deus. Não pode responder quem não
escutou; não pode amar quem não entrou no fluxo do amor de Deus, eleito por sua
graça. Só porque Deus o chamou e o amou primeiro, é que o ser humano pode lhe
responder.
Quando entramos em sintonia e escutamos o verdadeiro Deus,
desperta-se naturalmente em nós uma atração para o amor. O “mandamento do Amor”
não é propriamente uma ordem ou imposição. É o que brota em nós ao abrir-nos ao
Mistério último da vida. “Amarás”. O mandamento do Amor não é lei que se impõe
a partir de fora; ele “emana” (mandamento) do nosso próprio interior, pois o
Amor tem como Fonte o coração do próprio Deus. Amar Aquele que é a Fonte e a
origem da vida é viver amando a vida, a criação e, sobretudo, as pessoas. Jesus
fala do amar “com todo o coração, com toda a alma, com todo o ser”: sem
mediocridade nem cálculos interesseiros, mas de maneira generosa e confiada.
O importante não é conhecer preceitos e cumpri-los. O
decisivo é nos deter a escutar o Deus que nos fala ao coração, ativando a
“faísca de amor” que aí está presente. Nesta experiência, não há intermediários
religiosos, não há teólogos nem moralistas. Não precisamos que alguém nos diga
a partir de fora. Sabemos que o essencial é amar. E isto basta!
De fato, só merece o nome de Amor aquele que brota a partir
da mais profunda liberdade e sem outra motivação que a atração desse mesmo
amor. “Palavra grande, realidade maior”, dizia S. Agostinho a respeito do
amor.
Nas duas tradições, judaica e cristã, o centro da pessoa é o
coração. Amar é fazer tudo com o coração. Falamos do Amor Ágape que transborda,
que nada pede em troca, que ama sem ter nada de particular para amar. É amor de
pura gratuidade, como dom total de si mesmo. Não é motivado pelo valor do
outro, ou pela recompensa que o outra possa trazer. Com efeito, neste caso não
se ama o outro porque ele é bom, mas para que seja bom, já que o amor quer o
bem do amado. “O amor é comunicação mútua de dons” (S. Inácio)
O amor ágape é expansivo: nos alarga através dos nossos
membros, mãos e pés. O Amor Ágape não é o amor que sacia nossa sede, pois ele
não nasce da nossa sede, mas ele nasce da nossa fonte que corre. Não é o amor
da falta, da carência, mas é o amor da plenitude.
Podemos dizer que o amor tem mãos e pés: mãos que cuidam,
curam, abençoam... e pés que nos arrancam de nossos lugares rotineiros e nos
deslocam para as margens, junto aos mais excluídos. Uma das maiores razões para
o Amor ser uma experiência de expansão se deve à sensação de imortalidade e
eternidade que nos proporciona. Quem ama vê o tempo se alargar e a vida ganhar
mais sentido. Em outras palavras, o Amor traz em si a marca da
eternidade, pois se trata da “faísca de Javé” colocado por Ele no coração do
ser humano, impregnando toda a sua vida.
Quando o Amor nos habita tudo se torna sagrado. Não há
“Terra Santa”, há uma maneira santa de caminhar sobre a terra. “O amor é o que
diz sim, em nós”: sim à vida, sim ao compromisso, sim à compaixão... É preciso
encontrar dentro de nós este estado de “sim” ao que é. É necessário que
descubramos em nosso interior, o sim mais profundo que se faz visível no amor
oblativo.
Quando o amor nos habita, tudo se torna sagrado; nossos
olhos se tornam contemplativos, ou seja, o olhar que libera o que há de melhor
em nós e nos outros. Transformamo-nos naquilo que olhamos e tornamo-nos aquilo
que amamos. O amor é uma irradiação do nosso ser.
A originalidade de Jesus é a de nos revelar um amor
horizontal no qual o movimento do eu em direção ao outro é reprodução e
prolongamento do movimento de Deus em direção ao ser humano. Este amor a Deus é
inseparável do amor ao próximo. Só se pode amar a Deus amando o próximo; do
contrário, o amor a Deus é falso. Como vamos amar o Pai sem amar os seus filhos
e filhas?
O texto de hoje não só reafirma o amor ao próximo, mas, ao
mesmo tempo, realça sua modalidade: “ame a seu próximo como a si mesmo”. O que
significa amar o próximo “como a si mesmo”? É como se dissesse: “ame seu
próximo, é você mesmo”; “esse amor ao próximo é você mesmo”; “ame o seu
próximo, tudo isso é você mesmo”; “ame o seu próximo, porque o seu próximo é
justamente como você mesmo”.
A medida do amor de Deus é não ter medida, ou seja,
experiência de abertura infinita, pois Deus ultrapassa os limites e normas da
humanidade. “Como a ti mesmo”: a medida do amor ao próximo é agora a do próprio
amor: amar o outro como a mim mesmo, ou seja, senti-lo como “outro eu” a meu
lado, fazendo de sua vida espaço e centro de minha própria vida.
Texto bíblico: Mc. 12,28-34
Na oração:
- entoar um hino de louvor e gratidão a Deus pelo Seu “amor
em excesso” que se revela no cotidiano da vida;
- ter sempre presente na memória que fomos criados
para viver em relação de amor e solidariedade com todos;
- considere que toda a Criação saiu das mãos do Criador como
presente especial e gratuito, como uma mensagem de Amor a cada um de nós.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/1530-amor-e-o-que-diz-sim-em-nos
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