ISTOÉ – Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki – A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais.
A segunda loucura é: “Você tem de estar
feliz todos os dias.”
A terceira é: “Você tem que comprar tudo o que puder.” O
resultado é esse consumismo absurdo.
Por fim, a quarta loucura: “Você tem de
fazer as coisas do jeito certo.”
Jeito certo não existe. Não há um caminho
único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas
não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito.
Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se
dizem infelizes justamente por causa do casamento.
Você precisa ser feliz
tomando sorvete, levando os filhos para brincar.
ISTOÉ – O sr. visita mestres na Índia com freqüência. Há
alguma parábola que o sr. aprendeu com eles que o ajude a agir?
Shinyashiki – Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: “Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero ser feliz.” Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis.
Uma história que aprendi na Índia me ensinou muito. O sujeito fugia de um urso
e caiu em um barranco. Conseguiu se pendurar em algumas raízes. O urso tentava
pegá-lo. Embaixo, onças pulavam para agarrar seu pé. No maior sufoco, o sujeito
olha para o lado e vê um arbusto com um morango. Ele pega o morango, admira sua
beleza e o saboreia.
Cada vez mais nós temos ursos e onças à nossa volta. Mas é
preciso comer os morangos.
* * *
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