27 de setembro de 2014
Jacinto Flecha
Ucranianos, depois de terem derrubado monumento de Lênin,
destroem a estátua no centro de Kiev
Depois que se tornou patente aos olhos do mundo a situação
de miséria na União Soviética, os adeptos de doutrinas igualitárias deveriam
ter pedido perdão por espalhar suas ideias, tão contrárias ao progresso da
humanidade. Seria esta uma atitude razoável, decente, mas se alguém esperava ou
ainda espera esse improvável mea culpa, é melhor reavaliar seus
conhecimentos sobre a natureza humana, pois não existiu nem existirá essa
retratação. Não se deve esperar também que escolham caminho diferente, a não
ser que o tal caminho diferente seja o mesmo.
Não pense que estou brincando com os termos, logo você verá
que o mesmo é diferente de diferente.
Uma constante nos países comunistas foi explicitada neste
paradoxo muito divulgado no Ocidente não comunista: Todos são iguais, mas
uns são mais iguais do que os outros. Já era assim antes de desmoronar o
comunismo (você deve se lembrar da famigerada e privilegiada nomenclatura soviética),
e continua adquirindo requintes o favorecimento desses “amigos do rei”. Também
nos poucos países onde se manteve o regime, basta comparar o padrão de vida do
povo com o do “rei” e seus amigos. Nos países que agem atualmente de acordo com
a cartilha bolivariana, o espetáculo dos “mais iguais” se renova com outras
cores, outras moedas, outros atores, a mesma desonestidade e incompetência. Aí
você tem algumas diferenças no mesmo caminho.
No ambiente psicossocial posterior à derrocada do império
comunista, muitos estudiosos se esforçaram honestamente para explicar por que
não deu certo. São muitas as explicações válidas, e uma delas está na base de
todas as outras: O ser humano é desigual pela própria natureza, e tende a
melhorar sua situação com esforço e iniciativa próprios, aumentando assim a
desigualdade. Portanto as doutrinas igualitárias tendem necessariamente ao
fracasso. E fracassarão sempre, ainda que meios coercitivos tentem impedir essa
diferenciação.
Além desses estudiosos bem orientados, alguns esquerdistas
com graus variáveis de preconceitos igualitários apresentaram tentativas de explicação,
com o objetivo de disfarçar algumas coisinhas para poderem permanecer nos
mesmos erros. Não vou catalogar nem discutir cada uma dessas tentativas de
explicação, apenas direi algo sobre uma que li em alguns comentaristas, desses
que encontram sempre abertas as portas da mídia. Ela pode ser resumida assim: O
socialismo, para dar certo, tem de ser aplicado em todos os países, não pode
restringir-se a um só ou a alguns.
Qualquer filósofo, psicólogo, sociólogo, antropólogo dotado
de bom nível de conhecimento da sua ciência, terá argumentos incontestáveis
para aniquilar propostas como essa. Na faixa científica em que sempre atuei,
exemplos abundantes mostram a falsidade dessa pretensa explicação. Comento
apenas um, muito fácil de entender. Antes de lançar no mercado um medicamento
novo, indicado para o tratamento de uma doença, a eficácia dele é inicialmente
testada in vitro, depois em animais de laboratório. Se funcionou bem, sem
efeitos colaterais consideráveis, será em seguida testado em número restrito de
voluntários. O uso em maior escala só será permitido se sua eficácia for
comprovada, sem riscos consideráveis. Esse processo costuma demorar mais de dez
anos. Mesmo na última fase, em que o medicamento passa a ser usado pelos
pacientes em geral, qualquer alerta sobre alguma consequência imprevista ou
imprevisível acarretará sua exclusão imediata. Com a Talidomida aconteceu isso,
e o laboratório foi processado no mundo inteiro, com enormes multas e
indenizações.
Imagine agora o que aconteceria se não fossem tomadas todas
essas precauções. Suponhamos que um vendedor ambulante — digamos, um Carlos
Marques da Sillva — saia por aí vendendo uma “garrafada” igualitária que
produziu. Ele imagina bons efeitos terapêuticos, mas não a testou
cientificamente. Você correria o risco de tomá-la? Se muitos se deixassem
convencer, e as consequências danosas começassem a aparecer, você recomendaria
que fosse usada por todos?
Formulo estas perguntas apenas pro forma, pois não
imagino estar sendo lido por algum desparafusado e inconsequente. Mas veja bem
que esta é a atitude sugerida por aqueles comentaristas igualitários da mídia.
E as minhas perguntas precisam ser respondidas por quem dirige os destinos de
países e governos, como também pelos que pretendem assumir essa condição. O
destino de um país não pode ser confiado a quem se serve de pajelanças
perigosas, como a “garrafada” comunista. E agora nem há mais desculpa, pois as
consequências desastrosas já estão comprovadas. Só não entendo que não entendam
isso nossos terroristas enfeitados e empoleirados.
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