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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

PAJELANÇA IGUALITÁRIA – Jacinto Flecha


27 de setembro de 2014
Jacinto Flecha

Ucranianos, depois de terem derrubado monumento de Lênin, destroem a estátua no centro de Kiev

Depois que se tornou patente aos olhos do mundo a situação de miséria na União Soviética, os adeptos de doutrinas igualitárias deveriam ter pedido perdão por espalhar suas ideias, tão contrárias ao progresso da humanidade. Seria esta uma atitude razoável, decente, mas se alguém esperava ou ainda espera esse improvável mea culpa, é melhor reavaliar seus conhecimentos sobre a natureza humana, pois não existiu nem existirá essa retratação. Não se deve esperar também que escolham caminho diferente, a não ser que o tal caminho diferente seja o mesmo.

Não pense que estou brincando com os termos, logo você verá que o mesmo é diferente de diferente.

Uma constante nos países comunistas foi explicitada neste paradoxo muito divulgado no Ocidente não comunista: Todos são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros. Já era assim antes de desmoronar o comunismo (você deve se lembrar da famigerada e privilegiada nomenclatura soviética), e continua adquirindo requintes o favorecimento desses “amigos do rei”. Também nos poucos países onde se manteve o regime, basta comparar o padrão de vida do povo com o do “rei” e seus amigos. Nos países que agem atualmente de acordo com a cartilha bolivariana, o espetáculo dos “mais iguais” se renova com outras cores, outras moedas, outros atores, a mesma desonestidade e incompetência. Aí você tem algumas diferenças no mesmo caminho.

No ambiente psicossocial posterior à derrocada do império comunista, muitos estudiosos se esforçaram honestamente para explicar por que não deu certo. São muitas as explicações válidas, e uma delas está na base de todas as outras: O ser humano é desigual pela própria natureza, e tende a melhorar sua situação com esforço e iniciativa próprios, aumentando assim a desigualdade. Portanto as doutrinas igualitárias tendem necessariamente ao fracasso. E fracassarão sempre, ainda que meios coercitivos tentem impedir essa diferenciação.

Além desses estudiosos bem orientados, alguns esquerdistas com graus variáveis de preconceitos igualitários apresentaram tentativas de explicação, com o objetivo de disfarçar algumas coisinhas para poderem permanecer nos mesmos erros. Não vou catalogar nem discutir cada uma dessas tentativas de explicação, apenas direi algo sobre uma que li em alguns comentaristas, desses que encontram sempre abertas as portas da mídia. Ela pode ser resumida assim: O socialismo, para dar certo, tem de ser aplicado em todos os países, não pode restringir-se a um só ou a alguns.

Qualquer filósofo, psicólogo, sociólogo, antropólogo dotado de bom nível de conhecimento da sua ciência, terá argumentos incontestáveis para aniquilar propostas como essa. Na faixa científica em que sempre atuei, exemplos abundantes mostram a falsidade dessa pretensa explicação. Comento apenas um, muito fácil de entender. Antes de lançar no mercado um medicamento novo, indicado para o tratamento de uma doença, a eficácia dele é inicialmente testada in vitro, depois em animais de laboratório. Se funcionou bem, sem efeitos colaterais consideráveis, será em seguida testado em número restrito de voluntários. O uso em maior escala só será permitido se sua eficácia for comprovada, sem riscos consideráveis. Esse processo costuma demorar mais de dez anos. Mesmo na última fase, em que o medicamento passa a ser usado pelos pacientes em geral, qualquer alerta sobre alguma consequência imprevista ou imprevisível acarretará sua exclusão imediata. Com a Talidomida aconteceu isso, e o laboratório foi processado no mundo inteiro, com enormes multas e indenizações.

Imagine agora o que aconteceria se não fossem tomadas todas essas precauções. Suponhamos que um vendedor ambulante — digamos, um Carlos Marques da Sillva — saia por aí vendendo uma “garrafada” igualitária que produziu. Ele imagina bons efeitos terapêuticos, mas não a testou cientificamente. Você correria o risco de tomá-la? Se muitos se deixassem convencer, e as consequências danosas começassem a aparecer, você recomendaria que fosse usada por todos?

Formulo estas perguntas apenas pro forma, pois não imagino estar sendo lido por algum desparafusado e inconsequente. Mas veja bem que esta é a atitude sugerida por aqueles comentaristas igualitários da mídia. E as minhas perguntas precisam ser respondidas por quem dirige os destinos de países e governos, como também pelos que pretendem assumir essa condição. O destino de um país não pode ser confiado a quem se serve de pajelanças perigosas, como a “garrafada” comunista. E agora nem há mais desculpa, pois as consequências desastrosas já estão comprovadas. Só não entendo que não entendam isso nossos terroristas enfeitados e empoleirados.

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 Esta coluna semanal pode ser reproduzida e divulgada livremente


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