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segunda-feira, 30 de julho de 2018

RELAÇÕES AMOROSAS – Jorge Luís Santos


Toda a atividade para ser realizada precisa de uma ferramenta específica. O pintor, depende do pincel; o médico, do raio laser, o homem do campo, da enxada... E com estas mantém uma relação de amor. Quem escreve não é diferente. A caneta, antigamente, depois a máquina de escrever e hoje o computador, são ferramentas imprescindíveis, sem os quais o autor não consegue plasmar a sua criatividade.

            Tenho pessoalmente um verdadeiro amor por esses objetos “inanimados”. Cada um a seu turno. Sou do tempo da caneta, da máquina de escrever e, felizmente, da informatização destes meios: o computador.

            Lembro-me de que na comemoração de um dos dia do estudante, ganhei uma caneta no sorteio realizado na sala de aula. Fique muito feliz. Quando coloquei tinta nela, vi a minha felicidade azul escorrer por todos os lados. Mesmo assim guardei aquela caneta furada. Depois ganhei outra da mesma marca e modelo. Elas são douradas, parece de ouro, mas são de alumínio chinês. Chamam tanto a atenção, que são objetos da cobiça alheia. Quando fui assaltado, o autor do fato visava a caneta, mas só conseguiu levar o meu relógio de pulso. A máquina de escrever veio logo depois. Tive-as de quase todas as marcas. Não tenho preferência por nenhuma delas. Todas facilitam o trabalho do autor, na tarefa feliz da sua produção literária. Quem está próximo, lá pelas tantas horas da madrugada, reclama do seu tic-tac infernal. Mas o autor pode e deve, em respeito ao sono alheio e á continuidade da formalização de sua obra, utilizar-se da colaboração silenciosa da caneta, na noite iluminada pela fonte inesgotável do seu poder criador.

            O computador, principalmente o net-book, revolucionou esta relação. Menor, mais leve e portador de recursos antes inimagináveis, o net-book tornou-se uma ferramenta imprescindível na área de pesquisa e comunicação, superando infinitamente a contribuição simplória dada pela caneta e pela maquina de escrever.

            Aquele assalto não me deixou fobias. Transito pelas ruas sem nenhuma síndrome, mas também sem portar o computador. Ele não fica lá em casa, mas no meu escritório. Para acessá-lo, preciso acionar oito chaves, abrindo primeiro as portas do coração, sem o qual nem Dante Alighieri teria se inspirado, para poder nos legar a Divina Comédia.

Jorge Luís Santos.
Advogado e cronista. Itabuna - Bahia


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