16º Domingo do Tempo Comum – 22/07/2018
Anúncio do Evangelho (Mc 6,30-34)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós!
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Marcos.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, os apóstolos reuniram-se com Jesus e
contaram tudo o que haviam feito e ensinado.
Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e
descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não
tinham tempo nem para comer.
Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e
afastado. Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de
todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles. Ao
desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como
ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão de Dom Pedro Carlos
Cipolini, bispo da diocese de Amparo – São Paulo:
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COMPAIXÃO: compartilhar a
mesma humanidade
"Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve
compaixão” (Mc 6,34)
No evangelho deste domingo(16º dom do Tempo Comum),
contemplamos Jesus olhando a realidade para além da superfície evidente de
abandono em que vive o povo, até chegar a outra dimensão mais profunda onde
descobre o rosto de um Pai compadecido, que sofre o abandono e a dor de seus
filhos e filhas. Jesus olha e vê. Esse é o primeiro passo. Não desvia de seus
olhos a realidade dura de seu povo. “Contemplava”, ou seja, olhava atentamente,
uma e outra vez, pousava o olhar sobre a crosta ressecada e sem beleza
provocada por golpes mal curados. E, nesse primeiro olhar, vê a miséria da
multidão dispersa frente a ausência de verdadeiros pastores que cuidassem de
suas ovelhas; vê as mordidas mal cicatrizadas dos lobos. Desse primeiro olhar
nascem a compaixão, a misericórdia. Seu coração sensível deixa-se afetar pela
miséria e abandono de seu povo.
Como em outras passagens do Evangelho, Jesus muda o plano do
dia de descanso com seus discípulos para acolher a dor das pessoas que surge de
repente em seu caminho; contempla-as, e em sua maneira de se fazer próximo está
já encarnado, em gestos, palavras e olhares, o Reino que anuncia.
Deus é compassivo: esta é a base da atuação de Jesus. É
precisamente esta compaixão de Deus aquela que move Jesus em direção das
vítimas inocentes: as maltratadas pela vida ou pelas injustiças dos poderosos.
É a compaixão de Deus que faz Jesus tão sensível ao sofrimento e à humilhação
das pessoas. Sua paixão pelo Deus da compaixão se traduz em compaixão pelo ser
humano.
A partir desta experiência de um Deus compassivo, Jesus vai
introduzir um princípio de atuação, a compaixão. Chegou o momento de recuperar
a compaixão como a herança decisiva que Jesus deixou à humanidade, a força que
deve impregnar a marcha do mundo, o princípio de ação que deve mover a história
para um futuro mais humano. É a compaixão, ativa e solidária, aquela que nos há
de conduzir para esse mundo mais digno e ditoso querido por Deus para todos.
“Com-paixão”, palavra de etimologia latina, significa
“padecer-com”, “sentir-com”, vibrar-com”, “afetar-se-com”... Seu equivalente,
derivado do grego, seria a palavra “sim-patia”, termo ao qual se opõe
diretamente o de “a-patia”, ausência de sentimentos, de vibração, de capacidade
de proximidade... Muitos se referem à compaixão como uma paixão, outros como
uma emoção forte, outros ainda, como um sentimento...; mas todos coincidem em
um ponto: ela tem a ver com nossa comum humanidade.
A compaixão nos situa em uma espécie de irmandade entre
seres radicalmente iguais em sua humanidade. É um dinamismo natural que
expressa a bondade original do ser humano, a origem dos sentimentos altruístas,
a sensibilidade solidária...
A compaixão é força que impulsiona à ação; não se trata de
uma relação de cima para baixo, de quem, a partir de uma situação superior e
distante, faz concessões a quem lhe é inferior. A compaixão é, antes de tudo,
uma situação na qual prevalecem a igualdade, a dignidade básica e comum do ser
humano; ela capacita a superar barreiras e condicionamentos que impedem uma
vinculação fraterna entre as pessoas, para chegar a se colocar no lugar do
outro e atuar por e para ele.
A compaixão é essa capacidade de sentir com o outro,
particularmente o outro golpeado pelas circunstâncias da vida. É a valentia
para compartilhar sua paixão, é participação imediata no seu sofrimento e
buscar com ele a esperança, o alívio e a alegria. A compaixão desvela o
sentimento profundo de amor para com aqueles que sofrem, buscando eficazmente
aliviar sua situação, através de uma ação bondosa e serviçal.
Por isso o outro deixa de ser um estranho e se converte em
próximo.
Mas a compaixão genuína nasce de uma fonte ainda mais
profunda: não é só a experiência da própria vulnerabilidade, mas a consciência
de uma identidade compartilhada. Não somos seres separados que, eventualmente,
se ajudam uns aos outros, mas que constituímos uma Unidade, pela qual ninguém
nos é indiferente. O bem dos outros é nosso bem; sua dor, nossa dor. “Sou
humano, e nada do humano me é alheio” (escritor romano Lactancio). Por isso,
podemos afirmar que o obstáculo comum para viver a compaixão é a identificação
com o ego. Tal identificação apoia-se na crença fundamental de que somos seres
separados. Dessa crença nascem, entre outras coisas, o individualismo, a
egocentrismo, a indiferença, a intolerância...
O ego busca a comodidade, porque se rege pela lei do mínimo
esforço, ou seja, pelo apego ao “agradável” e a aversão para o “desagradável”.
Tende a evitar tudo aquilo que lhe implica mudança em suas rotinas ou
expectativas e busca, acima de tudo, “sentir-se bem”. Dado que a necessidade do
outro o implicaria em um compromisso, o ego tende a refugiar-se na indiferença,
que não é outra coisa que a “cegueira” diante da realidade, porque, como diz o
refrão popular “olhos que não veem, coração que não sente”.
Em definitiva, para poder viver a compaixão, precisamos
ativar os recursos internos que potenciam nossa capacidade de sentir e nossa
capacidade de amar e, simultaneamente, o empenho pessoal que nos permita
libertar-nos da identificação com o ego, assumindo um compromisso solidário com
quem mais sofre.
A compaixão esvazia toda pretensão de poder, pois ela
projeta a pessoa para o outro, torna a pessoa sensível ao clamor e às
necessidades do outro. A compaixão rompe a couraça do “eu” constituída pelo
poder. A vida do outro é a razão única da autoridade.
Um dos sintomas que definem a nossa época é o fato de ser um
tempo de “sem-compaixão”, um tempo no qual se faz muito difícil vibrar de
verdade com os outros, alegrar-se com quem se alegra, caminhar juntos,
com-viver, oferecendo-se mutuamente o ombro e dando-se as mãos. O outro,
sua necessidade e sofrimento, será sempre a alavanca que gera no coração humano
a compreensão e o exercício da autoridade como verdadeiro serviço.
Só a compaixão desloca cada um para o lugar do outro. Só a
compaixão ilumina a realidade do sofrimento do outro. Só a compaixão move na
direção da oferta do outro. A compaixão é a entrada do ser humano no mundo do
humano; ela é o perfume do humano que invade a chão da vida, a sua fragilidade
e sofrimento, e torna operativo o processo de humanização.
Texto bíblico: Mc 6,30-34
Na oração: A experiência de viver permanentemente sob o
olhar compassivo de Deus nos permite descobrir que “o ser-com” e “o
ser-para” é a autêntica condição humana que se desloca em direção ao
outro, na arte de deixar e abrir lugar ao excluído, ao estranho, ao sobrante...
- Sua vivência do Seguimento de Jesus é marcada pelo “olhar
compassivo e comprometido” ou por práticas piedosas alienadas, que não o(a)
projetam em direção aos mais sofredores?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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