6 de Março de 2015
José Carlos Sepúlveda da Fonseca
Tenho por hábito comentar notícias ou análises estampadas na
imprensa. Hoje, após me debruçar sobre a imprensa diária e constatar o quadro
crescentemente tumultuado da situação nacional, ocorreu-me trazer para a
consideração de todos um outro texto.
De norte a sul do País se alastra um sentimento de
inconformidade com a esquerda no poder. A sociedade, como um todo, vai
rechaçando um projeto de poder autoritário que, por todos os meios, lícitos e
ilícitos, se lhe tentou impor. Num primeiro momento, o Brasil distanciou-se da
esquerda; depois ficou ressentido; e, por fim, furioso
O comunismo se engana com o Brasil…
Em 1978, quando se assinalava mais um aniversário da
revolução comunista na Rússia, Plinio Corrêa de Oliveira – esse grande líder
católico, anti-comunista – alertava sobre a ameaça de um futuro perigo
comunista para o Brasil, bem como sobre as ilusões que a esquerda alimentava em
relação ao País e a seu povo; mas alertava também a respeito das ilusões que
muitos brasileiros, imprevidentes, alimentavam em relação ao comunismo: “O
comunismo se engana com o Brasil, mas eu devo acrescentar que o Brasil se
engana com o comunismo”! Entretanto, acrescentava convicto: O comunismo não
tomará conta do Brasil. Nossa fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, simbolizada no
Cristo Redentor, há de nos salvar!
Suas palavras de militância e de fé, carregadas de senso
profético, parecem mais atuais do que nunca, motivo pelo qual aqui as
transcrevo:
O Brasil há de vencer!
“Pelo brilho desta solenidade [em honra das vítimas do
comunismo] eu vejo afirmada mais uma vez uma convicção que eu tenho há muito
tempo e é que, a respeito do Brasil, os comunistas se enganam. Eles têm
talvez a impressão de que eles poderão tomar conta facilmente do Brasil e não é
verdade. Há pujanças anticomunistas no Brasil muito maiores do que eles
supõem. Os senhores são uma expressão local de um fato imenso que se
estende – para usar o Hino das Congregações Marianas – “do Prata ao Amazonas,
do mar às cordilheiras”.
Realmente, meus caros, o nosso povo é um povo muito
inteligente, é um povo ao mesmo tempo muito cordato e muito pacífico, que tem
no mais alto grau o senso da improvisação, e que muitas vezes vê vir de longe o
perigo, e o vê chegar com o olho manso, com atitudes displicentes, com a cara
despreocupada de quem não vê. Por causa disso dá a impressão de que nada
fará, mas quando esse povo se sente de fato a ameaçado, ele sabe
levantar-se como um só homem e sabe dar o revide à agressão comunista.
Realmente, meus caros, o comunismo se engana com o Brasil,
mas eu devo acrescentar que o Brasil se engana com o comunismo. Pelo menos
muitos brasileiros se enganam com o comunismo se pensam que em relação a esse
inimigo, ultra adestrado, solerte, falso, especializado em aproveitar as
menores circunstâncias para desferir seu ataque, valem as velhas
contemporizações, cheias da simpática bonomia de outrora. Nós não estamos
diante de um adversário qualquer, mas é de uma onça, de uma onça ardilosa que
nos pega na noite no meio das trevas, no meio da selva, para nos devorar; que
nos pega talvez nas ilusões de nossa bonomia e que nos cria em determinado
momento certa situação consumada, que com previsão, com articulação, com
energia, nós poderíamos ter evitado.
O comunismo não tomará conta do Brasil – eu creio nisso
realmente – pela inteligência, pela força, pela fé do povo brasileiro. Mas
quanto isto pode custar se o povo brasileiro não for previdente! Às nossas
qualidades naturais falta a previdência, falta aquele senso de luta
continuamente mobilizado e a disposição de intervir em todas as ocasiões
difíceis, numa época dura e difícil como a nossa. É preciso estar de sobreaviso
a respeito de tudo para não ser derrotado. A condição da vitória não é
apenas a coragem, é mais do que a coragem: é a previsão, é a luta oferecida no
primeiro momento, é a defesa oferecida na primeira circunstância que for
necessária. É isto que é indispensável para que o Brasil vença o
adversário enorme que tem diante de si. Adversário que tem porte mundial, que
está fazendo estremecer todas as nações da terra.
Meus caros, nós devemos caminhar para esta perspectiva com
mais audácia, com mais previsão, com mais senso de luta do que nunca, e é para
esse senso de luta que eu vos conclamo associado a um ato de fé!
A imagem de Nossa Senhora de Fátima aqui está nesta
soleníssima reunião. A imagem de Nossa Senhora de Fátima que em 1917 apareceu
em Portugal, na Cova da Iria, precavendo o mundo contra os castigos que viriam
e, antes ainda da queda do tzarismo, prevendo que a Rússia espalharia seus
erros por toda parte.
O fato concreto é que desde 1917 nós estamos avisados. Nós
não podemos nos deixar tomar de improviso, nós temos que abandonar a nossa
posição daquele laissez faire tradicional do bom temperamento antigo
brasileiro. E a militância anticomunista tem que marcar cada vez mais a
nossa presença por toda parte.
A fé prevê não só o que é terreno mas o que é extraterreno
também, e faz-nos prever títulos e razões de esperar e de vitória nas circunstâncias
mesmo mais difíceis e mais penosas com que talvez nos defrontemos no futuro.
Eu não posso me esquecer a noite em que eu estava no Rio de
Janeiro, noite em que a neblina levantada do mar cercava a estátua de Cristo
Redentor no Corcovado. Não posso me esquecer que tinha os olhos fixados
naquilo: durante algum tempo era apenas um foco de luz no qual eu não discernia
nada; em determinado momento, batia o vento, fazia-se um pouco de claridade, eu
percebia um dos braços e uma das mãos do Cristo Redentor, iluminado com aquela
luminosidade especial, que a pedra sabão de que é revestido o monumento absorve
a luz que sobre ele se projeta.
Pouco depois o vento batia e era a face do Cristo Redentor
que aparecia, era o seu peito onde pulsa o seu Sagrado Coração, mais adiante
eram os seus pés divinos que todos nós gostaríamos de oscular, mas eu prestava
atenção, prestava atenção… em nenhum momento, por mais densas que fossem as
névoas, a luz deixava de encontrar um certo ponto de apoio no monumento, de
maneira que apenas sendo uma luz fixa sobre uma silhueta ou sobre uma mão que
protege, uma mão que abençoa, um coração que palpita de amor, ou uma face que
contempla com solicitude, em nenhum momento a neblina conseguiu apagar a figura
do Redentor.
Esta é a fé com que nós caminhamos para o futuro, quaisquer
que sejam as circunstâncias. Poderá ser que provações muito difíceis toldem dos
nossos olhos as perspectivas da vitória, pode ser que circunstâncias
imprevistas coloquem para nós problemas que hoje não são os nossos. Mas, para
além das névoas, para além de tudo aquilo que pode tapar a verdade, no
horizonte visual do brasileiro há algo que nada tira: é a imagem do Cristo
Redentor, a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta fé há de nos salvar!
Meus caros, o Brasil há de vencer qualquer que seja a
situação, e é rumo a esta vitória que todos caminhamos com o passo resoluto e a
alma cheia de fé“.
_________________
(Trechos da conferência pública proferida no Hotel Hilton,
em São Paulo, a 17 de Outubro de 1978).
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