08/jun/18
A greve dos caminhoneiros recolocou a questão da
privatização da Petrobras e — por tabela — de todas as estatais. O tema entrou
na pauta meio de contrabando. Afinal, a questão envolvia diversas questões e o
ataque às empresas estatais foi somente mais um pretexto na longa luta em
defesa do que os liberais chamam de Estado enxuto. Os liberais brasileiros
sempre foram meio fora da curva clássica: apoiaram ditaduras, fecharam os olhos
às graves violações dos direitos humanos, à censura e, quando lhes convinham, à
presença estatal na economia.
Não é possível falar em história do desenvolvimento
econômico brasileiro no século XX sem falar do Estado. Foi ele o grande indutor
da economia. Qual empresário quis fundar a Companhia Siderúrgica Nacional? E a
Petrobras? E a Embraer e a Embratel? E a vale do Rio Doce? E Itaipu? A lista é
quilométrica e, para economizar espaço, fico somente nessas empresas.
Todas elas exigiram investimentos de longa maturação e,
inicialmente, as taxas de lucros eram baixas. Tudo o que o empresariado
brasileiro não gosta.
O lucro fácil é o seu principal objetivo e a história do
Brasil é farta em exemplos que reforçam essa afirmação. Portanto, não estamos
no terreno da ideologia, mas sim trabalhando com dados muito conhecidos e
inquestionáveis.
Ao longo do tempo — e é um problema sério — as empresas
estatais foram ocupando espaços que deveriam estar reservados à iniciativa
privada. É um fato. Também as estatais foram perdendo seus objetivos originais
e acabaram, boa parte delas, tomadas por interesses político-partidários, o que
também é um fato de conhecimento geral.
Sendo assim, a questão que se coloca não passa pela
privatização indiscriminada de todas as estatais, pelo grito inconsequente de
privatize tudo. Não! O Estado, até por razões de segurança nacional, mas não
só, tem de continuar controlando com eficiência e competência setores que são
fundamentais para o País. É urgente despartidarizar as estatais, limpá-las da
corrupção e colocá-las à serviço do desenvolvimento nacional. Essas empresas
não devem ser dirigidas com o objetivo de atender prioritariamente os
investidores. Se agirem assim é melhor que deixem de ser estatais. O grande
desafio é recolocar as estatais no seu papel de indutor do desenvolvimento.
Entregá-las de mãos beijadas para investidores — principalmente estrangeiros —
será um crime de Lesa-pátria.
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Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista
da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos
(1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993).
É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia
(USP) e Doutor em História (USP)
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