Na partida
decisiva, em que jogaram Brasil e Itália, o proprietário do bar da Estação
Rodoviária, colocara um aparelho de TV, para que todos pudessem assistir ao
jogo, e aí foi realmente uma festa. Com a vitória do Brasil, muita gente do
arraial não conseguiu voltar para casa; uns, porque naquela confusão terminaram perdendo o último transporte, e
outros preferiram ficar lá mesmo, comemorando a vitória, no carnaval que se
seguiu, e que varou noite adentro, sob o pipocar de fogos de artifícios e do
barulho infernal das buzinas dos automóveis.
Com o
advento do sistema energético, o arraial tomou grande impulso, e as coisas
foram melhorando acentuadamente. A primeira televisão que apareceu ali, era de
propriedade de um rapaz que tinha o prenome
de Carlito. Há quem afirme que ele perdeu o sossego, depois que instalou
o aparelho em sua casa. Quando aconteciam jogos de futebol, especialmente entre
Flamengo e Vasco, sua residência superlotava de desportistas, que danavam a
tecer comentários em torno do jogo, numa tremenda algazarra. Carlito persistia
calado, e jamais reclamou, mesmo se sentindo prejudicado. Nada dizia porque, na
maioria, todos eram seus amigos, e não gostaria de ser indelicado.
Tentando solucionar
o impasse resolveu deixar de lado a amizade e passou a cobrar o ingresso,
estipulando um precinho “camarada”. Quem quisesse assistir ao jogo teria que
desembolsar a quantia de CR$10,00 (dez cruzeiros), sem direito a pechinchar. O dinheiro
já não mais tinha valor, ante a paz e a tranquilidade perdidas, o que Carlito
queria mesmo, era se ver livre do
assédio do povo. A sua jogada não surtiu o efeito esperado, porque aqueles mais
fanáticos tomavam até dinheiro emprestado, faziam sacrifícios, porém jamais
deixaram de assistir televisão na sua casa.
(Salobrinho - ENCANTOS E DESENCANTOS DE UM POVOADO)
Sherney Pereira
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário