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sexta-feira, 11 de maio de 2018

A PRIMEIRA TELEVISÃO – Sherney Pereira


                         
Na década de 70 ainda não havia energia elétrica no Salobrinho, e por ocasião da copa do Mundo, o povo dali se deslocava para Itabuna, a fim de assistir pela televisão, os jogos da Seleção Brasileira.

            Na partida decisiva, em que jogaram Brasil e Itália, o proprietário do bar da Estação Rodoviária, colocara um aparelho de TV, para que todos pudessem assistir ao jogo, e aí foi realmente uma festa. Com a vitória do Brasil, muita gente do arraial não conseguiu voltar para casa; uns, porque naquela confusão  terminaram perdendo o último transporte, e outros preferiram ficar lá mesmo, comemorando a vitória, no carnaval que se seguiu, e que varou noite adentro, sob o pipocar de fogos de artifícios e do barulho infernal das buzinas dos automóveis.

            Com o advento do sistema energético, o arraial tomou grande impulso, e as coisas foram melhorando acentuadamente. A primeira televisão que apareceu ali, era de propriedade de um rapaz que tinha o prenome  de Carlito. Há quem afirme que ele perdeu o sossego, depois que instalou o aparelho em sua casa. Quando aconteciam jogos de futebol, especialmente entre Flamengo e Vasco, sua residência superlotava de desportistas, que danavam a tecer comentários em torno do jogo, numa tremenda algazarra. Carlito persistia calado, e jamais reclamou, mesmo se sentindo prejudicado. Nada dizia porque, na maioria, todos eram seus amigos, e não gostaria de ser indelicado. 

            Tentando solucionar o impasse resolveu deixar de lado a amizade e passou a cobrar o ingresso, estipulando um precinho “camarada”. Quem quisesse assistir ao jogo teria que desembolsar a quantia de CR$10,00 (dez cruzeiros), sem direito a pechinchar. O dinheiro já não mais tinha valor, ante a paz e a tranquilidade perdidas, o que Carlito queria  mesmo, era se ver livre do assédio do povo. A sua jogada não surtiu o efeito esperado, porque aqueles mais fanáticos tomavam até dinheiro emprestado, faziam sacrifícios, porém jamais deixaram de assistir televisão na sua casa.

(Salobrinho - ENCANTOS E DESENCANTOS DE UM POVOADO)
Sherney Pereira

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