Intolerância mal disfarçada
12 de Março de 2018
FHC com Fidel e Chavez — dois tiranos que afundaram seus
países na extrema miséria e não apenas material, mas também cultural e
espiritual. O que igualmente teria ocorrido no Brasil, caso o PT não tivesse
sido apeado do Poder.
Péricles Capanema
Fernando Henrique Cardoso concedeu reveladora entrevista,
largamente distribuída, a Fernando Grostein Andrade. Como se sabe, o atual
presidente de honra do PSDB, além de elder stateman, é tido como sendo o
mais conhecido intelectual público do Brasil. A entrevista tem advertência
importante, vem a seguir; traz ainda péssimas posições, mau agouro para o que
pode vir para o Brasil.
Por itens.
1. A advertência: o tráfico vai financiar e eleger candidatos.
Estamos a sete meses da eleição de deputados, senadores, governadores,
presidente da República. As campanhas serão caríssimas, mesmo que pouca gente o
reconheça. Lembro, ninguém ou quase tanto quis fazer valer o voto facultativo,
o que as baratearia de imediato. E o STF proibiu o financiamento empresarial. O
dinheiro público será insuficiente, o grosso virá de outras fontes, em geral
não registradas, receia-se com razão.
Diz o antigo presidente da República: “Olha, quando
comecei a mexer com essa questão de política de drogas, minha preocupação era
com a democracia. Pouco a pouco, os narcotraficantes foram tendo influência
política. Pablo Escobar é o maior exemplo disso. Mas não é só ele e não é só
lá. O Brasil ainda não tinha chegado a este ponto, mas está começando. O
problema é que os narcotraficantes dominaram certas áreas. E começam a entrar
na vida política. Aconteceu na Colômbia. Vai acontecer no Brasil, está
acontecendo. O tribunal eleitoral proibiu o uso do dinheiro das empresas, quem
é que tem dinheiro? É o narcotraficante, as igrejas [evangélicas] têm, que é do
dízimo”.
2. Apoio ao desatino da reforma agrária brasileira e simpatia
pelo MST. Na entrevista, FHC satisfeito vira as costas para os ruralistas e
aplaude ufano a subversão no campo, certamente prejudicando a candidatura
Alckmin e de vários companheiros do PSDB, mas danos eleitorais parecem
migalhas, diante da perspectiva de mais uma vez o político tucano se mostrar
afinado com a esquerda, mesmo a mais radical: “Reforma agrária no Brasil foi
feita por duas pessoas. Duas pessoas, não, dois governos. O do Lula e o meu.
Ninguém sabe o quanto de terra foi distribuído. É uma barbaridade. Mas fui eu o
Lula quem fizemos. O MST ajudou, porque faz barulho”.
3. Só a briga pelo poder afasta PT e PSDB. FHC vê os tucanos
como doutrinariamente próximos ao PT, partido que tem em seus documentos o
coletivismo total como meta (coletivismo é outro nome para comunismo): “Por que
o PT e o PSDB nunca se juntaram? Por disputa de poder, não por disputa
ideológica. Se eu pudesse reviver a História eu tentaria me aproximar não só do
Lula, mas de forças políticas que eu achasse progressistas. Eu gosto do
Fernando Haddad”. O presidente honorário do PSDB continua indiferente às
devastações eleitorais que pode causar em correligionários, escorraçando
eleitorado que agora pensa votar no PSDB como barreira ao PT. Esbofeteia
alegremente conveniências eleitorais de aliados e bafeja possibilidades de
vitória de adversários.
4. FHC prega frente comum com correntes libertárias. Enquanto
que, da direita, quer distância, em especial dos conservadores em matéria de
costumes, faz frente comum com libertários: “Você tem uma direita em matéria de
costumes, conservadora. Eu sou liberal em matéria de costumes, completamente
liberal. Acho que a diversidade tem de ser respeitada. O pessoal da direita
reacionária não acha isso. Está errado”.
5. Jean Wyllis, coincidimos em geral. Jean Willys (PSol-RJ) é o
deputado das causas LGBT, tem posições à esquerda do que publicamente defende a
maioria dos deputados do PT. FHC vai até ele: “Eu já defendi o Jean Willys
publicamente. Tive um debate com ele e em geral coincidimos. Eu o defendi
publicamente, porque acho que ele é corajoso”.
6. Intolerância com conservadores e direitistas. Num sentido, o
líder tucano favorece o programa demolidor da esquerda, almeja para ela
liberdade total em suas tentativas de implantá-lo. Em rumo oposto, gostaria de
cercear o pensamento “não progressista”. Intolerante, advoga na prática, ainda
que de forma disfarçada, o banimento da cena pública de ideias das quais
discorda. Para estas, ostracismo perpétuo, a mordaça inconfessada. Dois
exemplos.
O BTG tem convidado pessoas públicas de vários quadrantes
ideológicos para palestras, debates e entrevistas. Convidou Jair Bolsonaro. FHC
não gostou, achou “irresponsável” a atitude do banco: “Para que convidar
alguém que tem esse tipo de pensamento?” Outra vítima da intolerância. O
conceituado economista Paulo Guedes apresentou esboço de programa econômico de
governo com ênfase nas privatizações. Tem ficado clara sua preocupação social,
conjugada com o propósito de sanear as contas do Estado e estimular a produção.
Com as privatizações, segundo ele, haveria recursos públicos
para, por exemplo, aplicar em saúde e educação, hoje na UTI. FHC, coçando a
língua para atacá-lo, escolheu o caminho fácil: “Eu não conheço o Paulo
Guedes, mas pelo que leio ele acredita que basta liberalizar que tudo se
resolve. Tá na lua, né”? São no mínimo declarações irresponsáveis por
induzirem o leitor a ter ideia falsa do que pensa o economista. Não conhece e
já sai descendo a lenha?
Não há inimigos à esquerda, foi lema conhecido na Europa, em
especial na França. Existe uma misteriosa atração pelo abismo (pelo extremo da
própria posição) presente em correntes de centro-esquerda. Existiu em Kerensky.
Abriu o caminho para Lenine.
Existiu em Eduardo Frei. Abriu o caminho para
Allende. Quem pode negar que o período FHC em boa medida preparou os oito anos
de Lula? A entrevista revela a mesma misteriosa atração pelo abismo no mais
importante líder peessedebista — um exemplo do que existe Brasil afora em
grupos dirigentes dos mais variados setores. Inexistindo vacina na opinião
pública, a conivência e a subserviência de tanta gente podem ser decisivas para
a determinação dos destinos do Brasil pós-eleição.
Pelo menos deixa no ar alerta benéfico. Consequência dela
incoercível, vive na lua quem achar que bastaria votar de olhos fechados em
candidato tucano para salvar o Brasil do petismo e de outras formas de
bolchevismo atualizado.
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