29 de Março de 2018
Plinio Maria Solimeo
No
dia 23 último, um terrorista invadiu um supermercado em Trèbes, na França, e
fez alguns reféns, exigindo a liberdade de outro muçulmano em poder da polícia.
O alarme foi dado e vários policiais entraram no estabelecimento, entre eles
Arnaud Beltrame, tenente-coronel da corporação [foto acima].
Durante três horas de tratativas com o terrorista, os reféns
foram sendo soltos, restando nas mãos do assaltante apenas uma funcionária do
estabelecimento. Então Arnaud Beltrame pôs de lado sua arma, levantou as mãos
ao ar e se propôs a tomar o lugar da refém. Sendo a proposta aceita, o policial
contatou seus colegas pelo celular, pedindo-lhes que deixassem o local, pois o
assaltante exigia a libertação de Salah Abdeslam e ameaçava explodir granadas
no supermercado.
Depois de quase uma hora de tensão, o terrorista saiu do
local onde estava, servindo-se do tenente-coronel como escudo, com uma arma
colocada em seu pescoço. Quando a polícia ouviu dois disparos, deu o assalto,
encontrando no solo o corpo do terrorista e o do policial. Este tinha recebido
uma profunda ferida no pescoço e foi levado imediatamente para o hospital de
Carcassone, mas não resistiu.
Quem era Arnaud Beltrame?
Oriundo de uma família católica pouco praticante, Arnaud se
converteu aos 33 anos, recebendo a Primeira Comunhão e a Confirmação dois anos
depois.
O Pe. Jean-Baptiste, sacerdote da Abadia de Lagrasse, que o
acompanhou em seu caminho para a fé e em sua preparação para o matrimônio,
declarou: “Só sua fé pode explicar a loucura deste sacrifício que fez hoje,
para admiração de todos. Ele sabia que, como nos disse Jesus, não há maior amor
que o de dar a vida por seus amigos.”
Isto nos faz lembrar um caso parecido, ocorrido com o
sacerdote polonês São Maximiliano Kolbe, que deu a vida para salvar a de um pai
de família condenado pelos nazistas.
O Pe. Jean-Baptiste contou que conheceu Arnaud e a sua noiva
por ocasião de uma visita que eles fizeram à sua abadia, que é um monumento
histórico. Eles se simpatizaram com o sacerdote e lhe pediram que os preparasse
para o matrimônio religioso (já haviam se casado no civil), que seria celebrado
em junho próximo: “Inteligente, esportista, falador e carismático, Arnaud
gostava de falar de sua conversão em torno de 2008, aos 33 anos”, comenta o
sacerdote. E acrescenta: “Apaixonado pela polícia, alimentava desde sempre
grande paixão pela França, por sua grandeza, por sua história e por suas raízes
cristãs”.
Acrescenta ainda o Pe. Jean-Baptiste: “Ao oferecer-se para
tomar o lugar dos reféns, provavelmente esteve animado com paixão por seu
heroísmo de oficial, porque para ele ser policial queria dizer proteger. Mas
sabia o risco extraordinário que assumia.”
O sacerdote declarou também que pôde vê-lo ainda em vida: “Pude vê-lo no
hospital de Carcassone por volta das nove horas da noite de sexta-feira. Os
policiais, os médicos e as enfermeiras me levaram para junto dele com grande
delicadeza. Ele estava vivo, mas inconsciente. Pude dar-lhe a extrema-unção e a
bênção apostólica in articulo mortis. Era a Sexta-feira das Dores, pouco
antes de começar a Semana Santa. Eu acabava de rezar o ofício de Noa e a Via
Sacra por sua intenção. Pedi ao pessoal que cuidava dele se podia pôr uma
medalha da Virgem, a da Rue du Bac, de Paris [Medalha Milagrosa] junto a
ele. Compreensiva e profissional, uma enfermeira a sujeitou em seu ombro”.
É louvável a atitude desse sacerdote, que mostra bem o que
pode fazer um ministro de Deus com espírito sobrenatural e compenetração de
seus deveres sacerdotais.
Entre as várias homenagens que Arnaud recebeu estão a do
Ministro do Interior e a do Comandante Geral da Polícia. Nessa ocasião lhe
foram concedidas, a título póstumo, as medalhas da segurança interior, da
Polícia Nacional, e a de coragem e devotamento. Foi-lhe conferido também o grau
de coronel.
O Comandante da Polícia assim se expressou em sua homenagem
a Beltrame: “O tenente-coronel foi até o limite de seu engajamento, e
nisso a Polícia Nacional é orgulhosa do que ele fez; orgulhosa de contar com
Arnaud Beltrame em suas fileiras. Seu exemplo deverá nos inspirar no serviço
que empreendemos no dia-a-dia da população e de nossos concidadãos”1.
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