O Louco
Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim...
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido
roubadas!
As sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete
vidas!
E corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:
“Ladrões, ladrões, malditos ladrões”...
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para
casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no
telhado de uma casa gritou: “É um louco”... Olhei para cima, pra vê-lo. O sol
beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha
face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas
máscaras.
E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os
ladrões que roubaram minhas máscaras”... Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha
loucura... a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual
que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.
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Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um
aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza,
num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da
vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.
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