Todos os passageiros devem desembarcar
Vinha voltando da cidade no metrô e observava os
passageiros. Na minha frente vinha um senhor bem vestido e lendo o Jornal do
Brasil. Ele parecia muito tenso. As sobrancelhas cerradas, a testa franzida. O que
o preocupava? “O Pacote Econômico”, era a reportagem que ele estava lendo. Teria
sido ele o autor do pacote? Não, o seu autor deve estar bem satisfeito, pelo
menos deve acreditar no que fez, na melhor das hipóteses.
Junto a ele estava um senhor do povo lendo “O
Dia”. Estava atento, preso no que lia , sem estar tenso como o seu vizinho. Tinha
o seguinte título, a manchete que ele lia: “Marido pegou a mulher com o amante”.
Parecia que estava lendo um romance policial, devorava o jornal com os olhos.
Eu comparava
os dois e por mais incrível que pareça, o segundo parecia mais feliz.
Quando ambos
terminaram de ler, notei que o executivo continuava tenso enquanto o operário
começou a assobiar. Entrou, então, um homem que trazia uma criança no colo. Sentou-se
ao meu lado. A criança dormia e aparentava ter três anos. Ele olhava para ela,
acariciava-lhe a cabeça e beijava-a. Parecia sofrer muito.
Quis iniciar
um diálogo e timidamente perguntei-lhe a idade da filha.
- Três aninhos
e já não tem mãe.
- Imagino como você deve estar sofrendo. Tem muito tempo que a
mãezinha dela morreu?
- Não, a
desgraçada me deixou por outro homem e deixou a filha também.
Disse alguma palavras de apoio e procurei fugir daquela
realidade. Passei a observar outros passageiros.
Em pé – já
não havia lugar para sentar – estava um casal de namorados. Finalmente algo
positivo. Como vinham felizes. Não de envergonhavam de trocarem beijos aos
olhos do público. Um olhava para o outro sem importarem-se com o que podiam estar pensando os outros. Abraçavam-se,
riam, admiravam-se. Um se refletia no outro. Que beleza! Para eles o mais
importante era aquele momento. Cada beijo parecia o último. Em cada abraço, um
queria aquecer o outro, pois estava muito frio. O inverno tinha começado. Lembrei-me,
então, de uma música de Roberto Carlos: “eu quero é que você me aqueça neste
inverno e que tudo mais vá pro inferno”. Era exatamente isto que aqueles jovens
estavam fazendo.
Pacote econômico,
inflação, desemprego, assalto, que fossem para o inferno. No momento, só
importava eles. Estavam juntos curtiam o seu amor.
- Estação
terminal, todos os passageiros devem desembarcar.
“Que
susto! Já cheguei?” Continuei minha viagem rumo ao Leblon, os outros
passageiros também. Cada um tomou o seu rumo.
No ônibus,
ainda ouvia a voz do homenzinho do metrô: estação terminal... Estação terminal
coisa nenhuma, cinco minutos após ele voltaria levando outros passageiros.
A estação
terminal virá, sim. Cada um terá a sua. Aí, não encontrarei mais aqueles
passageiros carregados de sofrimento, de tensão, nem mesmo de esperança. Encontrarei
somente passageiros como aquele jovem
casal, carregados de amor. Um amor diferente, total, profundo. É o amor de
Deus.
O amor que
une um homem a uma mulher é maravilhoso, mas torna-se pequeno diante do amor de
Deus.
Devemos tentar
experimentar esta amor aqui na terra, pois só assim podemos participar dele na “estação terminal”.
(CARROSSEL)
Marília Benício dos Santos
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário