Espiritismo
De como me tornei adepto desta consoladora filosofia
Viajava eu
da antiga Tabocas para Bahia, e ao aportar, num domingo, ao atracar do saveiro,
que me conduzia da lancha à terra, “ao cais das amarras”, onde hoje está o
prédio dos Correios, lá encontrei Pio, espantado pela coincidência de achar-se
ele ali, à minha espera.
Perguntei-lhe
depois de estreitá-lo num longo abraço:
- Que coincidência
agradável?!
- Já lhe
esperava, na sessão disseram-me que você vinha ali...
Trocei. Era
lá possível tal coisa?
Fomos para
a república. Lá estavam todos os amigos e fizeram-me ruidosa recepção.
À noite,
fomos passear, como de costume, e ai voltarmos, não consegui conciliar o sono. Passei
a noite insone. Sentia que algo mexia com a minha rede, onde repousava.
No dia
seguinte, segunda feira, havia sessão em um grupo, por Pio e Santos
frequentado. Convidaram-me, relutei, porém fui.
O grupo
era em Itapagipe, em casa de um ferreiro de nome Antonio, que era médium, de
faculdades desenvolvidas.
As sessões
eram presididas pelo próprio Antonio, que acumulava as qualidades de médium e
presidente dos trabalhos.
Fiquei na
terceira fila e bem distante da mesa dos trabalhos.
Aberta a
sessão e feitas as preces do ritual, faz-se silêncio e a concentração precisa
para a incorporação das entidades do além.
Acho-me possuído de medo terrível. O coração
dá tais pancadas que parece pretender saltar fora da caixa peitoral.
O médium
estremece, toma de um lápis, escreve algo sobre um pedaço de papel pautado e,
virando-se para mim, o entrega. Leio: “Deus vos guie e ilumine os vossos
passos. Olimpia”.
Fico petrificado.
De novo o
médium levanta-se, toma posição de tribuno, enrija-se, alça o peito e com
ênfase diz:
Augusto
Conte. “As verdades e as mentiras de Augusto Conte”.
E eloquente,
fluente, faz verdadeira conferencia em torno do tema epigrafado.
Perora brilhantemente,
deixando a plateia deslumbrada, e eu espírita convicto.
Havia recebido
o meu batismo de fogo e encontrado a minha estrada de Damasco.
À noite, não consegui dormir. A minha mente despertava para pensar
melhor e compreender coisas e fatos que mereciam esclarecimentos e estudos.
Pio já possuía
alguns livros doutrinários e filosóficos, de Kardec e Flamarion. Passei dos de
Kardec aos de Leon Denis, e quanto mais lia, mais a leitura me atraía e achava
gosto em saborear e assimilar os sublimes conceitos, os belíssimos ensinamentos
e a pura moral naqueles livros. Com a fé sempre revigorada, com a chegada de
Pio e Santos em Itabuna, fizemos sessões em casa de Santos, e, tempos depois, fundamos um grupo espírita,
que tomou o nome de “Deus na Natureza”, cuja presidência foi ocupada por Santos,
servindo de médium a sua esposa, dona Rosa.
Esse grupo
proporcionou-nos belas sessões, depois mudaram para a casa onde tenho hoje e
depósito da loja. Neste local, adquirimos biblioteca e organizamos a sociedade
em molde mais completo, mais amplo.
Martinho
Conceição e Oscar Fontes já faziam parte dele e aí tínhamos sessões de assistência
aos necessitados.
A enchente
de 1914 levou a casa, e nós nos mudamos para outra, que tomou nova denominação.
Martinho fazia
parte da diretoria do novo grupo espírita, que se chamava “Perseverança”, até
que a mudança de Santos levou Martinho a assumir a presidência e, finalmente, construir um prédio na praça da
Boa Vista, onde tem o citado grupo a sua sede do qual eu e Loura fazemos parte.
(MEMÓRIAS DE CHICO BENÍCIO)
Francisco Benício dos Santos
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