Pai Nosso...
O colégio do professor Chalup, onde estudei, ficava na Praça
Adami, em Itabuna, nas imediações entre o Banco Santo André e as Casas Maia. A
área construída era muito grande; no centro, havia um salão, onde ele
ministrava as suas aulas e mais quatro salas, nas quais trabalhavam outros
professores, dentre estes, a sua esposa, professora Mariazinha.
O professor Chalup era de estatura mediana, branco, gordo,
careca e asmático; a sua esposa, professora Mariazinha, menor que ele, também
era obesa, mas de cor parda.
Todos os dias de aula formava-se aquela fila quilométrica,
composta por alunos relapsos, que não queriam nada com a “voz do Brasil¨. No
começo da fila, estava o professor Chalup, distribuindo bolos de palmatória
àquele ¨alunos¨, que os recebiam nas mãos, com muita dor e lágrimas. Dentro
daquela fila, dificilmente eu não me encontrava, seguindo depois para ficar
ajoelhado sobre os caroços de milho, até o encerramento das aulas.
Aquele castigo só era interrompido, quando tínhamos que
voltar para casa. Mas quem não quisesse voltar para ele, no outro dia, tinha
que fazer, do punho próprio, mais de cem copias do texto que o professor Chalup
determinava.
Numa dessas vezes, passei a me sentir mal. A professora
Mariazinha, preocupada comigo, pôs as mãos sobre o meu peito e começou a orar:
-Pai Nosso que estais nos Céus...
A dor que estava sentindo, transferiu-se de mim para ela.
Desse dia em diante, mesmo sem fazer um exame comprobatório, passei a ser tido
como portador de alguma deficiência cardiovascular.
Para quem não queria nada, aquele sintoma foi muito
oportuno. Toda a vez que entrava naquela fila, deparando-me com o professor
Chalup, ele me olhava com fraternidade nos olhos, dispensando da pena que me
seria aplicada.
Foi só assim que deixei de tomar aqueles indesejáveis bolos,
até que um dia tive que me contrapor a uma ordem do professor Chalup.
Ele havia mandado quatro leões de chácara pegar o meu irmão
Bento Rocha (também era seu aluno), lá na nossa casa, para reconduzi-lo àquele
lugar de cativeiro.
Fiquei tão indignado que reagi, defendendo Bento verbal e
fisicamente daqueles asseclas, passando desse dia em diante, a ser massacrado
pelo professor Chalup, todas as vezes que retornava àquela fila quilométrica,
do único bolo indesejável: o bolo de palmatória.
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Jorge Luiz Santos.
Advogado e cronista. Itabuna - Bahia
E-mail: advjls13@hotmail.com
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Fonte: JORNAL DIREITOS
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