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sábado, 13 de janeiro de 2018

O MENINO DAS MEIAS VERMELHAS - Carlos Heitor Cony

Todos os dias, ele ia para o colégio com meias vermelhas.

Era um garoto triste, procurava estudar muito, mas na hora do recreio ficava afastado dos colegas, como se estivesse procurando alguma coisa. Os outros guris zombavam dele, implicavam com as meias vermelhas que ele usava.

Um dia, perguntaram porque o menino das meias vermelhas só usava meias vermelhas.

Ele contou com simplicidade:

- "No ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo. Botou em mim essas meias vermelhas. Eu reclamei, comecei a chorar, disse que todo mundo ia zombar de mim por causa das meias vermelhas. Mas ela disse que se me perdesse, bastaria olhar para o chão e quando visse um menino de meias vermelhas saberia que o filho era dela".

Os garotos retrucaram:

- "Você não está num circo! Porque não tira essas meias vermelhas e joga fora?"

Mas o menino das meias vermelhas explicou:

- "É que a minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora. Por isso eu continuo usando essas meias vermelhas. Quando ela passar por mim vai me encontrar e me levará com ela".

Quantas crianças e adolescentes estão HOJE, solitários e tristes, chorando  por alguém  que se foi. Colocam "meias vermelhas," na esperança que alguém as  identifique, em meio à multidão, e as leve para a intimidade do próprio coração.

São crianças, cujos pais as deixaram, um dia, em braços alheios, enquanto eles mesmos se lançaram à procura de tesouros, nem sempre reais.

Perdendo os melhores tesouros: seus próprios filhos.

Lesadas em sua afetividade, essas crianças vivem cada dia à espera de alguém, que as entenda, que lhes dê esperança, um aconchego.

Têm sede de carinho e fome de afeto.

Trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia por ternura.

Ninguém no mundo pode medir a dor de um coração quando abandonado por alguém que tanto amou e esperou.

Talvez, HOJE, exista alguém, bem pertinho de você usando meias vermelhas, esperando uma pessoa que ame a Deus e a encontre.

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Carlos Heitor Cony - Quinto ocupante da Cadeira nº 3 da ABL, eleito em 23 de março de 2000, na sucessão de Herberto Sales e recebido em 31 de maio de 2000 pelo acadêmico Arnaldo Niskier. Faleceu dia 05 de janeiro de 2018.

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