Todos os dias, ele ia para o colégio com meias vermelhas.
Era um garoto triste, procurava estudar muito, mas na hora
do recreio ficava afastado dos colegas, como se estivesse procurando alguma
coisa. Os outros guris zombavam dele, implicavam com as meias vermelhas que ele
usava.
Um dia, perguntaram porque o menino das meias vermelhas só
usava meias vermelhas.
Ele contou com simplicidade:
- "No ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me
levou ao circo. Botou em mim essas meias vermelhas. Eu reclamei, comecei a
chorar, disse que todo mundo ia zombar de mim por causa das meias vermelhas.
Mas ela disse que se me perdesse, bastaria olhar para o chão e quando visse um
menino de meias vermelhas saberia que o filho era dela".
Os garotos retrucaram:
- "Você não está num circo! Porque não tira essas meias
vermelhas e joga fora?"
Mas o menino das meias vermelhas explicou:
- "É que a minha mãe abandonou a nossa casa e foi
embora. Por isso eu continuo usando essas meias vermelhas. Quando ela passar
por mim vai me encontrar e me levará com ela".
Quantas crianças e adolescentes estão HOJE, solitários e
tristes, chorando por alguém que se foi. Colocam "meias
vermelhas," na esperança que alguém as
identifique, em meio à multidão, e as leve para a intimidade do próprio
coração.
São crianças, cujos pais as deixaram, um dia, em braços
alheios, enquanto eles mesmos se lançaram à procura de tesouros, nem sempre
reais.
Perdendo os melhores tesouros: seus próprios filhos.
Lesadas em sua afetividade, essas crianças vivem cada dia à
espera de alguém, que as entenda, que lhes dê esperança, um aconchego.
Têm sede de carinho e fome de afeto.
Trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia
por ternura.
Ninguém no mundo pode medir a dor de um coração quando
abandonado por alguém que tanto amou e esperou.
Talvez, HOJE, exista alguém, bem pertinho de você usando
meias vermelhas, esperando uma pessoa que ame a Deus e a encontre.
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Carlos Heitor Cony - Quinto ocupante da Cadeira nº 3 da ABL,
eleito em 23 de março de 2000, na sucessão de Herberto Sales e recebido em 31
de maio de 2000 pelo acadêmico Arnaldo Niskier. Faleceu dia 05 de janeiro de
2018.
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