24 de dezembro de 2017
O Patriarca latino de Jerusalém, Mons. Fouad Twal, porta a
imagem do Menino Jesus durante a Missa do Galo em Belém
Luis Dufaur
“Missa do Galo” é o nome da celebração litúrgica da
meia-noite, na véspera do Natal. A expressão vem da tradição segundo a qual à
meia-noite do dia 24 de dezembro um galo cantou mais fortemente que qualquer
outro de seus semelhantes, anunciando o nascimento do Menino Jesus.
Assim como o galo anuncia o nascer do sol e seu canto
preludia o amanhecer, assim também a “Missa do Galo” comemora e canta o
nascimento de Jesus, o Sol nascente que, clareando a escuridão do pecado, veio
nos remir.
Galo no alto da torre da Catedral de São Vito, em Praga
O galo foi escolhido como símbolo desta celebração porque
ele representa, histórica e tradicionalmente, a vigilância, a fidelidade e a fé
proclamada no auge das trevas.
Por isso podemos ver, no topo do campanário das igrejas, um
galo proclamando para todos os quadrantes que Jesus nasceu.
A celebração é feita à meia-noite porque o nascimento
ocorreu por volta dessa hora. A “Missa do Galo” foi celebrada pela primeira vez
no século V pelo Papa Xisto III na então nova basílica de Santa Maria Maior,
onde são hoje veneradas as relíquias do Santo Presépio, conservadas em
artístico e alusivo relicário.
Nos primórdios da Igreja, os cristãos se encontravam para
rezar na cidade de Belém à hora do primeiro canto do galo. Com a expansão da
Igreja, na vigília do Natal os fiéis se reuniam na igreja mais próxima e
passavam a noite rezando e cantando.
Ceia de Natal ou “consoada”
Em algumas aldeias espanholas era costume os camponeses
levarem um galo à igreja para que ele cantasse na missa. A igreja era toda
iluminada com lâmpadas de azeite e tochas. As paredes eram revestidas com panos
e tapetes. O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta.
Desde o início desta devoção a véspera de Natal é suave e
nobremente jubilosa. Por isso é chamada de Noite Santa. Seus cânticos são
festivos, como o tradicional Glória litúrgico.
Segundo uma tradição católica muito generalizada, os fiéis
iam acendendo uma vela a mais em cada semana do Advento, ou período de
quatro domingos antes do Natal. Elas já estavam todas acesas na “Missa do
Galo”, solenemente celebrada e na qual a comunhão era oferecida pelo nascimento
do Messias.
Em Roma, o Papa deve conduzir pessoalmente a celebração,
pois ele é sucessor de Pedro, o Apóstolo designado pelo próprio Jesus para
primeiro monarca da Igreja (Mt 16,18).
O Natal é uma das raríssimas datas litúrgicas que contemplam
três Missas diferentes: a da noite, a da aurora e a do dia. Segundo São
Gregório Magno, a Missa da noite, ou “do Galo” in galli cantu (à hora
em que o galo canta) comemora a vinda de Jesus à Terra; a Missa da aurora,
celebrada logo depois, comemora o nascimento de Jesus no coração dos fiéis; a
Missa do dia, ou Missa de Natal propriamente dita, evoca o nascimento do Verbo
de Deus.
Aldeões se dirigem à Igreja para a “Missa do Galo”
A Missa começava com um cântico natalício. No momento
do “Gloria in excelsis Deo”, as campainhas tocavam para assinalar o
nascimento do Redentor. No fim da celebração, todos iam oscular o Menino. Em
algumas Igrejas, o presépio permanecia coberto até o momento do cântico.
De início jejuava-se durante a vigília, como forma de
desprendimento e convite à contemplação do grande mistério que vai se celebrar.
Comia-se apenas peixe — e em Portugal bacalhau, costume que ainda perdura em
muitos lares brasileiros.
Depois que se aboliu o jejum, o povo continuou a chamar a
ceia de Natal de “consoada”, embora esta tenha passado a ser mais abundante.
“Consoada” significa pequena refeição e surgiu no século XVII. Era feita após a
“Missa do Galo”.
O nome “Missa do Galo” usa-se apenas em português e
espanhol. Na maior parte do mundo chama-se simplesmente Missa da noite de Natal
ou Missa da meia-noite.
Na Espanha havia uma tradição peculiar: “Antes de
baterem as 12 badaladas da meia-noite de 24 de dezembro, cada lavrador da
província de Toledo matava um galo, em memória daquele que cantou três vezes,
quando Pedro negou Jesus, por ocasião da sua morte”.
Em seguida, a “ave era levada para a igreja e oferecida
aos pobres”, informa a agência católica Ecclesia.*
Apesar do laicismo moderno e da escalada do ateísmo
materialista, nessa abençoada noite as catedrais de Paris, Londres, Barcelona e
muitas outras se enchem, para acompanhar os coros que cantam as santas alegrias
do Natal iminente… até o galo cantar anunciando a Boa Nova!
____________
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário