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sábado, 9 de dezembro de 2017

MILHO DE PIPOCA - Rubem Alves


Milho de pipoca

A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho de pipoca somos nós, duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com gente:  As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo - quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas, só elas não percebem, acham que é o seu jeito de ser, mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: Dor.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio:  Apagar o fogo.
Sem fogo, o sofrimento diminui.
E com isso a possibilidade da grande transformação.
Pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: Bum!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, com que ela mesma nunca havia sonhado.
 Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o seu medo são a dura casca que não estoura.
O destino delas é triste: Ficarão duras a vida inteira, não vão se transformar na flor branca e macia, não vão dar alegria a ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
E você o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?
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Rubem Azevedo Alves foi um psicanalista, educador, teólogo, escritor e ex-pastor presbiteriano brasileiro. Foi autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis. 
Nascimento: 15 de setembro de 1933, Boa Esperança, Minas Gerais
Falecimento: 19 de julho de 2014, Campinas, São Paulo 


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