28 de dezembro de 2017
Péricles Capanema
Anima ouvir “Feliz Natal”! Soa agradável Natal de muita
saúde e paz. “Santo Natal”, expressão afável, cada vez menos comum. Escutei
sem-número de vezes votos de alegre Natal. Óbvio, jamais me deram votos de
tristes festividades natalinas.
E nem de sério Natal. Cairia estranho, poderia parecer
censura a um brincalhão. Pensando bem, nem tão estranho assim. Pelo menos uma
vez, gostaria que alguém me tivesse dito: “um sério Natal”.
Desejar “Feliz Natal” é querer as festas em ambiente leve.
“Sério Natal”, que continuem presentes as graves questões que povoam a vida de
cada um de nós. Gravidade e leveza não se excluem, nunca se excluíram,
complementam-se. Leveza sem gravidade despenca para a leviandade.
Gravidade sem leveza descamba para caturrice. Sábia é a
pessoa que alia leveza e gravidade. Minha ambição hoje é alcandorar a
seriedade, raiz da sabedoria, caminho para a felicidade. Se conseguir bem, será
brilhante bola vermelha na árvore da sala, meu presente de Natal para os
leitores.
Já no começo, faz falta acabar com a confusão entre alegria
e felicidade. Em geral, as pessoas querem ser vistas alegres para assim parecer
felizes. E é comum um abismo entre as duas realidades. Le bonheur n’est
pas gai (a felicidade não é alegre), frase que retumbou mundo afora, resumia
o filme Le Plaisir, baseado em três contos de Guy de Maupassant.
Continuando no tema, mudo o cenário. Li, faz pouco, o mesmo
por aqui: “Sou alegre, mas não feliz”, lamento de Dadá Maravilha, o
futebolista folgazão. O mais alegre dos jogadores se vê como um infeliz. Uma
mãe que trabalha de sol a sol para pagar os estudos da filha aplicada pode não
estar alegre, mas será intensamente feliz, animada com o cumprimento do dever e
por abrir boas perspectivas para a moça.
Todos percebem, o esforço e o dever estão mais ligados à
felicidade que à alegria. Enfim, são várias as formas de alegria. A felicidade
pode ser alegre, pode estar triste, pode brilhar num rosto esgotado. Um menino
brincando sozinho com um carrinho em geral tem semblante sério e feliz. Nietzsche
afirmava, o homem se torna maduro quando reencontra a seriedade que tinha
quando brincava em criança.
Temos aqui, não a procura, mas o reencontro de um tempo às
vezes perdido durante a adolescência e a juventude. O Natal autêntico tem isso,
festa familiar com nota infantil séria. A alegria natalina — calma, temperante,
esperançosa, entendendo o sofrimento — é átrio para entrar no palácio da
felicidade.
Sem seriedade, não alcançamos ser felizes. A alegria
contemporânea desembesta para o rumo oposto.
Para esconder a infelicidade,
procura saída artificial, aparece vestida com roupagem extravagante. Basta
examinar os role models atuais, celebridades do entretenimento em
primeiro lugar, a mais de outras nos mais variados espaços da vida humana.Inautênticos, estadeiam estilos de vida estapafúrdios, sorrisos exagerados,
risadas desatinadas. Ali pululam as drogas, o suicídio, as separações
matrimoniais contínuas, tanta coisa mais. O que são em suas representações
enganadoras? Embusteiros, alguns geniais, juntos na promoção de uma fraude.
O bem não faz barulho e o barulho não faz bem, escreveu São
Francisco de Sales, o suave doutor da Igreja. Discreta, a verdadeira felicidade
pode conviver com a tristeza, a dor, o fracasso; também com a alegria, os
êxitos, as grandes conquistas. Mas sempre se manifestará veraz. Assoma agora à
porta uma irmã da seriedade, a autenticidade, saudemo-la.
Verazes, autênticos e sérios caminhemos até a manjedoura
onde dorme placidamente o Menino-Deus. Súplices, peçamos a Ele que nos sustente
em todos os passos da peregrinação ao encontro da Felicidade infinita.
----------
Péricles Capanema
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário