Ter a consciência de que é chegada a hora de partir para
outras paragens será um dos maiores bens que poderemos fazer a nós mesmos e a
quem amamos de fato. Estender-se além do permitido, além do que já saturou e
deu o que tinha que dar, em nada nos ajudará.
O momento certo de se retirar do emprego, de casa, de uma
relação, equivale a salvar vidas: a nossa e a de quem se beneficia também. Ter
a consciência de que é chegada a hora de partir para outras paragens será um
dos maiores bens que poderemos fazer a nós mesmos e a quem amamos de fato.
Estender-se além do permitido, além do que já saturou e deu o que tinha que
dar, em nada nos ajudará.
Há pessoas que se recusam a se aposentar, agarrando-se ao
serviço como algo sem o qual não se vive. Outros se aposentam, mas continuam na
lida. Embora alguns ainda consigam se manter inteiros por anos e anos, muitos
acabam por comprometer uma imagem que, até ali, era imaculada. Perdem-se por
bobeira, por simplesmente não querer desfrutar de um descanso mais do que
merecido. Mal sabem o tanto de vida que existe além dos escritórios.
Da mesma forma, existem os relutantes em aceitar que o relacionamento
terminou, que a amizade extinguiu, que nada mais há a ser regado por ali, além
de terrenos infecundos. A pouco e pouco, distanciam-se da própria dignidade, na
luta vã por continuar namorando, casado, amigo que seja, quando não se
encontram mais possibilidades de florescer afetividade naquele lugar.
E há quem não se permite desistir de nada nem de ninguém,
como se alguma coisa ou pessoa nesse mundo fosse propriedade de outrem.
Sentem-se donos do que, na verdade, a vida nos empresta, para que aprendamos
que o aquilo é nosso de fato é tão somente o que possuímos aqui dentro de
nossos corações, nada mais do que isso. Pessoas e coisas saem de nossas vidas,
mas a essência do que foi verdadeiro jamais se despedirá de nossas almas.
A passagem do tempo carrega consigo muito do que achávamos
ser eterno e imutável, obrigando-nos a nos despedir de muito daquilo que
relutávamos em deixar para trás. Mas não tem jeito, o que tiver de ser, será; o
que tiver que ir, vai-se; o que for para sempre, há de permanecer, mesmo que
nas nossas mais doces lembranças. É preciso saber a hora de sair de cena, no
palco e na vida. É assim que tudo de bom se eterniza onde existiu verdade e
amor.
MARCEL CAMARGO
"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto
respirar".
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