O velho Waack
“Eu sou preto.
Já trabalhei com ele na França, em Portugal, na Espanha, na
Índia e em São Paulo.
Nesta caminhada de 30 anos, fazendo imagens e contando
histórias, poucos colegas foram tão solidários quanto o velho Waack. Ele faz
parte dos pouquíssimos globais que carregam o tripé para o repórter
cinematográfico preto ou branco. Na verdade, não me lembro de ninguém na Globo
que o faça. O velho sabe para que serve cada botão da câmera e o peso do tripé.
Quando um preto sugere um restaurante mais simples, ele não
dá atenção porque paga a conta dos colegas que ganham menos no restaurante
melhor.
Como ele fez piada idiota de preto, ele faz dele próprio,
suas olheiras, velhice etc.
O que a Globo mais tem são mocinhos e mocinhas de cabelos
arrumadinhos, vindos da PUC ou da USP, que são moldados ao jeito da casa.
Posso dar o exemplo de quando estávamos gravando uma
passagem no meio da rua, onde havia um acidente, e sugeri a uma patricinha
repórter que prendesse o cabelo devido ao vento. Ela o fez. Gravamos na
correria porque estávamos a duas horas do RJ. No dia seguinte, na redação, que
aparece no cenário do JN, ela comenta:
— Você viu a matéria ontem?
— Não.
— Sobrou uma ponta do cabelo, fiquei parecendo uma empregada
doméstica.
Ao que respondi:
— Eu sou repórter cinematográfico, cabeleireiro não havia na
equipe.
Posso lembrar-me de muitas coisas como, quando fazíamos uma
matéria para o Fantástico, uma mesa de discussão, e, ao ouvido, ouço o repórter
falar.
— Põe aquela pretinha mais para trás.
Isto faz parte do cotidiano. Os verdadeiros racistas estão
por todas as partes, mas são discretos.
Também tem a famosa, que chegou ao prédio onde vive, e uma
moradora (namorada de um amigo) segurou o elevador.
A famosa negra não agradeceu, e ficou de braços cruzados. O
elevador começou a subir.
Jornalista Famosa:
— Você não sabe qual é o meu andar?
— Sei, mas não sou sua empregada.
No vídeo, ela é uma “querida”, jamais trata mal o
entrevistado, se estiver gravando…
Voltando ao "racista" William Waack:
Quando íamos para a Índia — eu vivia em Lisboa — fui três
dias antes para Londres, de onde partiríamos para Dheli.
Eu ia ficar em um hotel, mas o racista que havia trabalhado
comigo até então somente uma vez em Cannes convidou-me para ficar em sua casa,
onde vivia com esposa e dois filhos, esposa essa a quem ele, 'preconceituosamente', chamava de “flaca” devido à sua magreza. Eu via como uma
forma de carinho.Comemos, bebemos bom vinho e, em nenhum momento, alguém quis
se mostrar mais erudito que eu, nem mais racista.”
Gil Moura
Enviado do meu smartphone Samsung Galaxy.
* * *
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