Samuel Matos:
Eglê, como vai? Sobre Caymmi, além de nos ter deixado 120
canções tecnicamente perfeitas, em termos de ritmo, prosódia, etc., sem falar
na bela poética do amor, da natureza e da cultura baiana, entendo que ele
também nos deixou um conjunto rico de lições de vida sobre a relação com o
trabalho. Ele se dedicava com afinco à composição e à pintura, mas sobretudo
priorizava o prazer, a alegria, e a realização imaterial, sem se preocupar com
os “resultados”.
Quando se cansava de música, ou quando a música lhe colocava
em situação de impasse (quando as letras lhe faltavam), ele simplesmente
largava aquilo e passava a pintar quadros. Quando não queria mais pintar,
dava-se ao direito de bater papo com os amigos, contar piadas, rir,
despreocupadamente. Não tinha pressa nem para terminar o quadro, nem a música.
Esse processo às vezes durava anos.
Porém, o que fazia (e concluía), ele o
fazia perfeita e prazerosamente. Entendia que há um tempo apropriado para cada
coisa, que não adianta “forçar a barra” e que é preciso saber esperar.
Inclusive, em certas situações, compunha esmeradamente uma música. Em outras,
fazia da música uma brincadeira, para seu próprio divertimento.
Há um caso engraçado (ou uma anedota) sobre a canção Adalgisa.
Fala-se que Caymmi chegou num bar, onde estavam alguns dos seus amigos. Pegou o
violão e cantou:
“Adalgisa mandou dizê / Que a Bahia tá viva ainda lá / Que a
Bahia tá viva ainda lá / Que a Bahia tá viva ainda lá”.
Aí perguntaram: “Ô,
Caymmi, é só isso? E ele respondeu: “Não, ainda não terminei”.
Passaram-se dez
anos, até que um dia, no mesmo bar, ele disse: “Lembram daquela história da
Adalgisa? Terminei”.
“Foi mesmo, Caymmi? Então canta aí pra gente”.
E ele pegou
o violão e cantou o restante da música:
“Que nada mudou inda lá / Que a Bahia
tá viva ainda lá / Que a Bahia tá viva ainda lá / Que a Bahia tá viva ainda lá
/ Pela graça de Deus inda lá / Que a Bahia tá viva ainda lá / Que a Bahia tá
viva ainda lá / Que a Bahia tá viva ainda lá”.
E os amigos insistiam:
“Mas
Caymmi, é só isso mesmo? Só acrescentou esse pedacinho”?
- “É, é só isso.
Precisa mais”?
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Eglê:
Eglê:
Rsrsrs! - Ô, caro confrade Samuel Matos, o Caymmi foi
perfeito, como perfeito foi o seu grande amigo, Jorge, o AMADO!
Samuel, que tal você conversar com o Presidente da AGRAL,
Ivann Krebs Montenegro, sobre apresentar um trabalho falando de Caymmi, como o fez tão brilhantemente no centenário
do Vinícius de Moraes? Seria mais uma pérola a adornar o tesouro da Academia
Grapiúna de Letras.
Muito obrigada pelo comentário a esta postagem que muito
enriqueceu nossa página aqui no Facebook! Abraço!
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