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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

RAIVA E GÊNIO – Davi Nunes

Raiva e Gênio


Numa entrevista perguntaram a Jean Michel Basquiat o que motivava a sua arte.

Ele respondeu que era cerca de 80% Raiva. Acredito nisso.

A raiva é um sentimento sagrado.

É um rato que rói por dentro as entranhas com mandíbulas de cão a fazer o gênio voar: é o sangue no olho do negro drama a restituir em alguns momentos a sua realeza obliterada.

É a sanidade de Estamira enlouquecida.

É o pixador que no alto de um arranha-céu em frenesi de uma metrópole cinza escreve em forma de hierográfico egípcio a palavra zanga.

É Cruz e Sousa emparedado com a morte dos seus filhos. Caralho.
É a tosse etílica de Lima Barreto a explodir sangue no denso manuscrito.  É o quebranto das “aberrações afetivas” a impossibilitar o negro amor.

É nó que se desfaz só no grito. Bote fé. É a mãe que coloca o facão no pescoço do gambé para não matar o seu filho.

É a dor que forma o gênio, é o gênio que consome a vida, é viver grande em tempo de morte.


Davi Nunes é colaborador do portal SoteroPreta, mestrando no Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem- PPGEL/UNEB, poeta, contista e escritor de livro Infantil



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