Chuva das Águas nas Caatingas
Naquele instante, olhando na vastidão do horizonte,
montanhas!
Vislumbrando contornos, só alcançado pelos pássaros que
vivem naquele lugar.
Local de difícil acesso
Mistérios que a vida contempla
Lançando-me perguntas difíceis de responder.
Perplexo, diante de tal majestade.
Simbolizando a grandeza do criador
Mas, herança que nos foi dada.
E que a tudo devemos fazer
Para que outros, no futuro a contemplem também.
Enquanto nuvens carregadas passam, levadas pelos ventos do
Norte.
As cigarras cantam ruidosamente, anunciando que algo vai
acontecer.
Pássaros emudecem, num gesto de respeito, segurando o seu
canto para depois.
Uma rã coaxa no gravatá, anunciando que poderá chover.
Dizer dos mais velhos
Observando ao redor, formigas apressadas, aos milhões.
Parecem mudar, prevendo talvez que aquele local não seja
seguro.
O sol brilha e esquenta a terra que já está ressequida
Morta de sede, rachada, o calor incomoda.
Num ato de sobrevivência, a vegetação seca parece hibernar.
Garranchos secos parecem mortos, adormecidos.
Cantando uma musica o vento e espalha folha secas
Que estalam deslizando pelo chão
Um redemoinho levanta pequenos ciclones, que parecem
levá-las para passear.
Até muito alto e descem flutuando por todo lado
Quem está descansando, após um árduo dia de trabalho
Naquele instante, só ouve o zumbido de uma mosca verde
Que insiste em dar voos rasantes em sua volta
Queimou goivaras no sol escaldante, fumaça que desapareceu
no horizonte.
E olhando na imensidão daquele lugar!
Imagina a plantação que acabava de fazer
Lavrou o solo, jogou a semente, o suor derramou.
Agradecendo num gesto solene
Tirou o chapéu
Olhou para cima, estendeu o braço!
Reverencia, pedindo a proteção do Senhor.
Mês de setembro, inicio da primavera, hora de renascer.
Nuvens se aproximam ameaçadoramente
De repente um estrondo, trovões rugem na vastidão das
montanhas
O céu parece rachar e rasgar
Uma luz corta o ar, desce para fertilizar a terra
Pingos fortes descem sucessivamente, vão se chocando ao solo
Uma ventania parece levar tudo, e passeia fortemente dentre
as arvores
Retorcendo-as e quase as levando de encontro ao solo
Folhagens, quebra de galhos, arvore quebradiças
Açoitadas pelos ventos fortes, que esborrifam água
Por todo lado, num cenário ameaçador
Passando o primeiro momento, o céu se deságua em cortinas de
chuva
Inundando tudo. Agora cai mansa insistente
A noite, através do velho telhado
Vêem-se os clarões
A chuva avança na madrugada
As águas derramam na bica transbordando os tanques
Que logo se trasbordam as fenda
Que transbordam os córregos
Que transbordam o lago
E descem para o rio, que ruge em direção ao mar
Levando entulhos, troncos, e descem as águas
Caudaloso rio, quebrando barrancos, lambendo as rochas
Espumando, das águas barrentas
Algum tempo depois, não sei quanto tempo
Não sei se horas, se dias, se meses
Só sei que a vida brota, o verde aparece, as folhas e as
flores orvalhadas
Enfeitam as arvores que renascem
Outro anoitecer, vaga-lumes piscando na noite
Coaxar de sapos nas lagoas, tamborilando de diversas
maneiras para o acasalamento
Na madrugada o corujão com seu canto misterioso
Transforma a noite num cenário de ilusões
Numa manhã, o solo devolve as nuvens
Que parecem brotar das montanhas na vastidão do horizonte
Levando-as de volta para o céu
O sol acorda com um brilho diferente
Lançando os seus raios dourados na manhã
Os pássaros cantam, os animais nascem sadios
As abelhas e borboletas perpetuam as espécies
Com o néctar retirado das flores
Como a beija-flor solitário, que com seus silvos anuncia sua
presença
E logo some velozmente à procura de novas flores
Os lagos, os rios agora enfeitados de linda vegetação
Renascem apresentando toda a beleza de plantas aquáticas que
florescem
E aves que passeiam com suas longas pernas em busca de
alimento para seus filhotes
As libélulas voam sob a água, dando toques sutis
Até o solitário gavião, espreita encima do galho seco, toda
aquela beleza
Assim sim, assim foi... assim será... Será?
E nós? Será que nós não sabemos?
Que de onde nós viemos...
Que se a natureza não preservar
O futuro parece parar
Num curto espaço de tempo
Quem sabe
Amanha nada disso haverá?
Este poema retrata a alegria de viver na Caatinga, que
depois de grande jornada de seca, de repente renasce transbordando de beleza em
todo o seu esplendor na época das chuvas das águas, e só quem vive lá é que
conhece o verdadeiro significado das chuvas e da preservação ambiental, não só
de seu bioma, como também do seu povo e de seus costumes, que de maneira cruel,
vão se esgotando os recursos naturais e pondo em risco toda a biodiversidade
local.
Jequié
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