Após anúncio da premiação, diretora-executiva da Ican
afirmou que Trump e Kim Jong-un devem saber que 'armas nucleares são ilegais' e
que 'eles precisam parar'.
Por G1
06/10/2017
Beatrice Fihn, Diretora Executivo da Campanha Internacional
para a Abolição das Armas Nucleares (Ican), recebe garrafa de champanhe do
marido após anúncio do prêmio Nobel de 2017 (Foto: Denis Balibouse/ Reuters)
A Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares
(Ican, sua sigla em inglês) ganhou o Prêmio Nobel da Paz 2017. O anúncio da
premiação foi feito na manhã desta sexta-feira (6), em Oslo, na Noruega.
A organização foi premiada por chamar a atenção para as
consequências catastróficas do uso de armas nucleares e pelos seus esforços
inovadores para conseguir a proibição do uso dessas armas. A Ican reúne mais de
400 entidades e ONGs com representação em mais de 100 nações.
"Nós vivemos em um mundo onde o risco de armas
nucleares serem usadas é maior do que tem sido há muito tempo", disse
Berit Reiss-Andersen, líder do Comitê Norueguês do Nobel, ao anunciar o
ganhador no Nobel da Paz. A premiação ocorre em um momento em que vários países
estão modernizando os seus arsenais, como
a Coreia do Norte.
A líder da associação, Beatrice Fihn, afirmou que o
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano Kim
Jong-Un devem saber que armas nucleares são ilegais. Ao responder ao pedido de
dar uma mensagem aos dois líderes, ela foi enfática, segundo a Reuters.
"As armas nucleares são ilegais. A ameaça de usar armas
nucleares é ilegal. Ter armas nucleares, desenvolver armas nucleares é ilegal.
Eles precisam parar", declarou Fihn.
Campanha internacional para banimento de armas nucleares
vence Prêmio Nobel da paz
Ao receber o telefonema que lhe comunicou o prêmio, Beatrice
Fihn disse ter ficado "em choque" com a notícia. "É incrível,
uma honra", declarou. A ativista é uma das três pessoas que trabalham em
um pequeno escritório em Genebra, a sede da Ican. A organização, que começou na
Austrália, foi lançada oficialmente em Viena em 2007.
Na quarta-feira (4), a ativista chamou
Trump de idiota no Twitter. Nesta sexta, ela afirmou que estava
arrependida, mas fez uma ressalva. “Eu acho que a eleição do presidente Donald
Trump fez muitas pessoas ficarem muito desconfortáveis com o fato de ele
sozinho poder autorizar o uso de armas nucleares", afirmou, de acordo com
a Associated Press.
Daniela Varano, porta-voz da Ican, disse à Reuters que a
organização ficou muito entusiasmada por ter ganhado o prêmio. "É um
grande reconhecimento para o trabalho que fizeram os ativistas ao longo dos
anos e especialmente o Hibakusha (como são chamadas as pessoas afetadas pelas
bombas atômicas no Japão). Esse testemunho foi crítico, crucial e para um
sucesso tão surpreendente", afirmou.
Diretora Executiva da Campanha Internacional para a Abolição
das Armas Nucleares (Ican), Beatrice Fihn, em imagem de arquivo (Foto: Fabrice
Coffrini/AFP)
Tratado global
O Tratado
Global para Proibir as Armas Nucleares foi adotado pela Organização
das Nações Unidas (ONU), porém as potências nucleares têm se mantido à margem
desse processo, como os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da
ONU (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido).
Ele proíbe o desenvolvimento, testes, produção, fabricação,
aquisição, posse ou armazenamento de armas nucleares. O tratado foi aberto para
assinaturas no dia 20 de setembro e entrará em vigor 90 dias depois que 50
países – dos 122 que votaram – o ratifiquem.
O prêmio é anunciado ainda em um momento em que, além da
guerra verbal que Trump trava com a Coreia do Norte, o governo americano ameaça
revogar o acordo nuclear com o Irã – a quem Trump acusa de não estar cumprindo
os termos do acordo. Em seu discurso de estreia na assembleia-geral da ONU
deste ano, o americano
classificou o acordo como vergonhoso.
"O acordo com o Irã é uma das piores transações (...)
Francamente, este acordo é uma vergonha para os Estados Unidos." Em 15 de
outubro, Trump vai se pronunciar no Congresso americano se ele considera que
Teerã respeita seus compromissos, como indicado pela Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA).
Diretora Executivo da Campanha Internacional para a Abolição
das Armas Nucleares (Ican), Beatrice Fihn, ao lado do ator Michael Douglas,
durante coletiva na sede da ONU, em Genebra, em foto de arquivo (Foto: Denis
Balibouse /Reuters)
ONG Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares
(Ican) leva Nobel da Paz (Foto: Fabrice Coffrini / AFP Photo)
Veja os vencedores de 2017:
Literatura: escritor Kazuo
Ishiguro, de 62 anos.
Química: trio Jacques
Dubochet (suíço), Joachim Frank (alemão) e Richard Henderson (escocês) por
uma série de melhorias que revolucionaram a observação de biomoléculas.
Física: Rainer
Weiss, alemão naturalizado americano, e Barry Barish e Kip S.Thorne,
cientistas nascidos nos Estados Unidos, ganharam o prêmio pela observação de
ondas gravitacionais previstas por Albert Einstein há mais de 100 anos.
Medicina: os norte-americanos Jeffrey
C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young levaram o prêmio por suas
descobertas no ritmo circadiano, o relógio biológico interno dos seres vivos.
O prêmio de economia será anunciado na segunda-feira (9).
Presidente do Comitê nobel norueguês, Berit Reiss-Andersen,
durante o anúncio do prêmio Nobel da Paz 2017, nesta sexta-feira (6) (Foto: NTB
Scanpix / Heiko Junge via Reuters)
Últimos ganhadores do Nobel da Paz
2016: Juan
Manuel Santos, presidente da Colômbia, conquistou o prêmio pelo esforço de
pacificação do país. Naquele ano, o governo conseguiu fechar um acordo de paz
com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) após uma guerra civil que
já durava mais de 50 anos.
2015: Quarteto
de Diálogo Nacional da Tunísia ganhou o prêmio por sua decisiva
contribuição para a construção de uma democracia pluralista no país durante a
revolução de 2011.
2014: os vencedores foram o indiano
Kailash Satyarthi e a paquistanesa Malala Yousafzay, "pela sua luta
contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à
educação". A estudante do Paquistão se tornou a mais jovem ganhadora do
prêmio.
2013: Organização para a Proibição
das Armas Químicas, entidade que supervisiona destruição do arsenal químico
na Síria em guerra.
2012: União
Europeia (UE) ganhou por ter contribuído para pacificar um continente
devastado por duas guerras mundiais.
2011: Ellen
Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee (Libéria) e Tawakkol Karman (Iêmen), por sua
luta não violenta em favor da segurança das mulheres e seus direitos a
participar dos processos de paz.
2010: Liu
Xiaobo (China), dissidente detido, "por seus esforços duradouros e não
violentos em favor dos Direitos Humanos na China".
2009: O então presidente
americano Barack Obama foi premiado "por seus esforços
extraordinários com o objetivo de reforçar a diplomacia internacional e a
cooperação entre os povos".
2008: Martti
Ahtisaari (Finlândia) foi premiado por suas numerosas mediações de paz
em todo o mundo.
2007: Al Gore
(Estados Unidos) e o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas
(IPCC) da ONU ganharam o prêmio por seus esforços para aumentar o
conhecimento sobre as mudanças climáticas.
2006: O prêmio foi para Muhammad
Yunus (Bangladesh) e seu banco especializado no microcrédito, o Grameen Bank,
porque "uma paz duradoura não pode ser obtida sem que uma parte importante
da população encontre a maneira de sair da pobreza".
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